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65o. Festival de Veneza - 2008

26/05/2006 - 13h51
Classe trabalhadora vai às telas no Festival de Cannes

Por Kerstin Gehmlich

CANNES (Reuters) - Dois filmes exibidos no Festival de Cinema de Cannes mostram como a falta de emprego, de dinheiro e de reconhecimento social podem levar os europeus ao desespero.

Em "Juventude em Marcha", o diretor português Pedro Costa conta a dura história do trabalhador cabo-verdiano Ventura, que vive na periferia de Lisboa e é forçado a deixar o apartamento no qual mora há 34 anos.

O diretor Lucas Belvaux descreve a vida da classe trabalhadora belga em "La Raison du Plus Faible" (A Razão do Mais Fraco), que também compete pela Palma de Ouro. Ambientado no leste da Bélgica, o filme mostra como Patrick (Eric Caravaca) e seus amigos perdem seus empregos quando a siderúrgica em que trabalham é fechada. Com isso, pessoas que se enxergavam como membros da "aristocracia da classe operária" se vêem desempregadas de uma hora para outra.

Patrick passa a cuidar de seu filho, Steve, enquanto sua mulher, Carole (Natacha Regnier), trabalha numa lavanderia industrial. Quando a mobilete de Carole quebra e Patrick não tem dinheiro para comprar outra, ele se sente humilhado. Seus amigos Robert, Jean-Pierre e Marc, este último um ex-presidiário em liberdade condicional, decidem assaltar o ferro-velho de seu antigo local de trabalho para obter dinheiro para a mobilete.

"Eu quis fazer ouvir as vozes dos mais fracos, aqueles que correm maior perigo", disse Belvaux a jornalistas em Cannes.

Para aumentar a autenticidade do seu filme, Belvaux filmou cenas numa lavanderia e numa fábrica de cerveja, enquanto as máquinas continuavam em operação e os trabalhadores reais seguiam com seu trabalho.

O português Pedro Costa disse que quis mostrar a vida real da comunidade cabo-verdiana que vive na periferia da capital portuguesa. Para isso, usou atores amadores.

Costa disse que conheceu Ventura em 1997, quando rodava seu filme "Ossos". Era uma figura solitária que vivia marginalizado num bairro pobre.

Rodado sem iluminação, cabos, maquiagem, geradores ou refeições para atores e equipe técnica, "Juventude em Marcha" conta a história do operário aposentado Ventura e as pessoas de seu bairro, um analfabeto para quem ele escreve cartas e uma mãe solteira e doente.

Em uma carta de amor escrita à esposa que o deixou, Ventura escreve: "Eu queria poder lhe dar 100 mil cigarros, uma dúzia de vestidos bonitos, um carro, a casinha que você sempre quis e um buquê de quatro vinténs".


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