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65o. Festival de Veneza - 2008

15/05/2007 - 22h56
São Paulo é personagem do filme "A Via Láctea", que estréia no Festival de Cannes
MÁRCIO FERRARI,
editor de UOL Cinema

Divulgação

Marco Ricca e Alice Braga em A Via Láctea, dirigido por Lina Chamie

Marco Ricca e Alice Braga em A Via Láctea, dirigido por Lina Chamie

O primeiro filme brasileiro a ser exibido no Festival de Cannes 2007 será "A Via Láctea", longa-metragem da diretora Lina Chamie que vai abrir a Semana da Crítica nesta quinta-feira. De acordo com Lina, é uma "história de amor vertiginosa" que tem na cidade de São Paulo um de seus personagens. O ponto de partida é uma briga de casal por telefone. Ele é um "professor de literatura quarentão"; ela, "uma jovem veterinária voluntariosa".

Na discussão telefônica a jovem anuncia a ruptura da relação de alguns anos, mas o professor não se conforma e sai de carro rumo à casa dela para tratar do assunto cara a cara. Começa um trajeto que é o próprio filme, e na verdade são dois: o caminho atravancado em meio ao trânsito do fim de tarde em São Paulo e as idas e vindas da memória e da imaginação de Heitor, o professor de literatura. "As impossibilidades da cidade vão dialogando com sua viagem interior", diz Lina.

Há, segundo ela, uma espécie de corpo-a-corpo entre a cidade e Heitor. No filme isso se traduz pelas imagens captadas em mini-DV durante todo o trajeto de carro. A agilidade da câmera pequena permitiu a gravação ininterrupta da matéria-prima que originou 80% da metragem final do filme. Os outros 20% foram gerados em película - parte em 35 mm e parte em super-16. Ao todo, foram mais de 60 horas de material filmado.

Essa opção técnica "criou uma linguagem e se transformou numa pegada do filme", segundo Lina. "A câmera rouba momentos sem interferência, como se a cidade pudesse falar por si só." Na alternância de texturas, os trechos imaginários e idílicos têm a luz mais límpida e repousante, obtida por meio de película. "O filme se espalha pela cidade e tem um destino, que é a tentativa de chegar a um ponto de descanso."

Desejo e delírio

Levada pela constatação de que o amor é a maior motivação para ficar ou ir embora, Lina construiu a história -- em parceria com o co-roteirista Aleksei Abib - como uma jornada que é também do desejo e do delírio.

Os atores que interpretam o casal são Marco Ricca e Alice Braga. Ricca conduz a história e, segundo Lina, é "a alma do filme". Um terceiro personagem, vivido por Fernando Alves Pinto, forma a última ponta do triângulo. O processo de imersão dos atores no filme não se deu tanto por meio de ensaios ou laboratórios, mas por conversas que foram promovendo um entendimento mútuo. "Não sei trabalhar com um ponto de chegada", diz Lina. "Os filmes vão se construindo enquanto são feitos. Eu fiz o trajeto do Heitor, fui tentando chegar."

Quando anunciou a seleção de filmes da Semana da Crítica, há três semanas, o delegado-geral da mostra, Jean-Christophe Berjon, usou de eloqüência para definir "A Via Láctea": "É um filme totalmente diferente de qualquer outro, um fogo de artifício cinematográfico que pode desconcertar o espectador, mas também entusiasmá-lo." Lina diz que achou a frase "interessante". "De fato é um filme um tanto desconcertante, por ser muito arriscasdo", diz ela. "Como o personagem, ele se perde na cidade, levado por uma 'boa dúvida', uma insegurança calculada."

A projeção em Cannes será a primeira do filme totalmente pronto. "O fato de 'A Via Láctea' estar no festival já satisfaz minhas expectativas", diz Lina. "É um sinal de que ele consegue se comunicar, de que existe fora da minha cabeça."
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