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21/05/2007 - 16h36
Visita papal inspira filme uruguaio-brasileiro em Cannes
MÁRCIO FERRARI,
editor de UOL Cinema

Divulgação

Cena do cotidiano em Melo

Cena do cotidiano em Melo

Dezenove anos atrás, exatamente em maio, o papa João Paulo 2º incluiu no roteiro de sua visita ao Uruguai uma parada na cidade de Melo, de 20 mil habitantes e a cerca de 60 km da fronteira com o Brasil. Os moradores de Melo previram uma chance de prosperar. Acreditavam que receberiam milhares de brasileiros ávidos por ver o papa. Alguns venderam o que tinham e outros pediram empréstimo bancário para comprar quilos e quilos de lingüiça que alimentariam os forasteiros. Só que Melo recebeu pouco mais de 300 peregrinos. Seguiu-se uma bancarrota coletiva.

Esse é o pano de fundo da comédia "O Banheiro do Papa"/"El Baño del Papa", co-produção uruguaio-brasileira dirigida por Cesar Charlone e Enrique Fernández. O filme passa nesta segunda-feira na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes. Charlone é uruguaio e mora no Brasil desde 1970 (com intervalos). Tornou-se um dos melhores diretores de fotografia do cinema brasileiro e foi indicado ao Oscar por "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles.

"O Banheiro do Papa" é uma produção da 02, de Meirelles. Pelos cálculos de Charlone, trata-se de um filme "dois terços uruguaio e um terço brasileiro". Foi montado no Brasil, o preparador de atores (Christian Duurvoort) é daqui e, segundo Charlone, "tem um bom jeito brasileiro". Isso quer dizer mais para ritmado do que para melancólico.

O banheiro

O filme conta a história ficcional de um bicicleteiro de Melo que, estimulado pelo espírito empreendedor que tomou conta da cidade, tem a idéia de construir um banheiro público em frente a sua casa, prevendo uma necessidade a suprir. No interior dessa história, surge uma outra, sobre o amor entre pai e filha e também sobre a dicotomia cidade grande/província.

Mesmo de longe, Charlone sempre manteve contato com o Uruguai. "Os uruguaios somos muito uruguaios", diz ele, que anteriormente já havia tentado morar e fazer cinema em seu país, mas não conseguiu se estabelecer num mercado tão pequeno. Charlone, que já havia dirigido
muitos videoclipes, comerciais e dois episódios da série de TV "A Cidade dos Homens", estréia na direção de longa-metragem com "O Banheiro do Papa". Sua maior satisfação foi realizar "o sonho, a Disneilândia" de filmar no Uruguai.

Falar em "uruguaio"

"Toda vez que eu ia para o Uruguai, ficava imaginando como seria usar aquela luz e aquelas paisagens num filme", diz Charlone. Ter fotografado e co-dirigido "O Banheiro do Papa" permitiu que ele ficasse à vontade para trabalhar como queria. "Eu pude mudar cenas do filme em função da luz, por exemplo." Finalmente, houve o prazer de dirigir equipe e atores falando "uruguaio". "Uma vez procurei um analista no Brasil e concluí que precisava de um profissional que falasse espanhol porque é a língua em que eu consigo tratar dos assuntos mais pessoais", diz Charlone.

Na escalação de um elenco que comportava mais de 50 personagens com fala, foi preciso recrutar habitantes de Melo e de cidades próximas, que contracenaram com nomes respeitados do teatro uruguaio, como César Troncoso. O preparador de atores foi necessário "para dar uma homogenizada".

Sobre a carreira de "O Banheiro do Papa", Charlone prevê a trajetória de "um filme pequeno que vai ser visto por grupos pequenos de pessoas, mas, espero, em muitos lugares". Um dos possíveis empecilhos para uma distribuição internacional mais ampla é não contar com os apelos que se costuma esperar dos filmes latino-americanos atualmente. "Não tem drogas nem violência; só tem um tiro e é para cima", diz o diretor.


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