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16/05/2008 - 10h29

"Se estou ficando mais velha, é natural trabalhar com diretores mais jovens", brinca Catherine Deneuve

THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL
Não, ela não é a loira gelada que nós brasileiros pensamos. A diva francesa Catherine Deneuve foi a mais simpática e descontraída hoje na coletiva do filme francês "Um Conto de Natal", de Arnaud Desplechin, apresentado em competição em Cannes. Desplechin é o diretor do elogiado "Reis e Rainha", que estreou no Brasil.

Francois Mori/AP
Deneuve é Junon Vuillard em "Um Conto Natal", de Arnaud Desplechin
FOTOS DO DIA 16/5
IMAGENS DE "UM CONTO DE NATAL"
TRAILER DO FILME EM COMPETIÇÃO
"Se estou ficando mais velha, é natural que trabalhe cada vez mais com diretores bem mais jovens do que eu. A não ser, claro, no caso de Manoel de Oliveira", brincou Deneuve do alto dos seus 64 anos e 104 filmes no currículo, muitos deles com mestres como Roman Polanski, François Truffaut, Luís Buñuel e Lars Von Trier. (O português Manoel de Oliveira, com quem Deneuve trabalhou em "O Convento" e outros filmes, está prestes a completar 100 anos).

No novo filme, Deneuve é Junon Vuillard, a matriarca de uma família cheia de problemas, cujo filho mais velho morreu de leucemia. Ela não nutre nenhum amor por outro de seus filhos, a ovelha negra Henri - Mathieu Amalric, o vilão do próximo James Bond, "Quantum of Solace". E não tem medo de dizer isso na cara dele, em uma das (poucas) boas cenas do filme. O problema começa quando Junon descobre que tem leucemia, e o único filho com medula compatível para salvá-la é justamente Henri.

Se não se mostrou fria na coletiva, Deneuve confessou, de certa maneira, que o gelo faz parte de seu estilo como atriz. "Em muitas cenas, é mais fácil e até interessante dizer os diálogos de uma maneira deslocada do que carregada de emoção".

Além de Deneuve e Amalric, também está no elenco Chiara Mastroianni, filha de Deneuve com Marcelo Mastroianni - cada vez mais bela. "O mais fascinante deste filme e de toda a obra de Desplechin é que os personagens agem de forma impulsiva, mas nunca somos levados a julgá-los", elogiou.

Manoel Carlos francês

Em "Reis e Rainha", Arnaud Desplechin conduzia bem uma mistura de gêneros e tons nas cenas para contar a história de uma mulher que deixava traços indeléveis nos homens de sua vida, incluindo o pai e o ex-marido. Em "Um Conto de Natal", no entanto, o diretor perde completamente a mão, no pior filme apresentado em competição até agora. A começar pelo título, que poderia servir tanto a um filme infantil quanto a um especial de fim de ano da TV.

Em termos de estilo, o cineasta atira para todo lado. Em certos momentos, alguns personagens viram para a câmera e falam com o espectador. Em outros, algum deles faz uma pequena narração. Começa o filme mostrando em flashback a relação intempestiva entre Henri e uma das irmãs, Elizabeth - um conflito gigantesco e ancestral, mas que depois se resolve quase num passe de mágica. A trilha sonora parece a de um filme de Tim Burton, lembrando o tempo inteiro o quanto aquela família é bizarra e nada convencional.

Desplechin tampouco parece confiar na atuação de seus atores - todos falam o tempo inteiro sobre os seus sentimentos, numa filosofia de bazar típica dos maus filmes franceses. E há o esforço de ligar todos os personagens por meio do drama da leucemia, das idas a hospitais, uma saraivada de exames e boletins médicos analisados o tempo inteiro - mas a trama principal, do filho mal-amado que precisa doar a medula e enfim se reconciliar com a mãe, não fica muito longe dos conflitos das Helenas nas novelas de Manoel Carlos.

Resta apenas o bom trabalho de todos os atores, especialmente de Amalric e Deneuve, que defendem seus personagens com uma saudável ironia.

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