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16/05/2008 - 11h06

Tragédia da incomunicabilidade familiar, "Os Três Macacos" é o melhor filme até agora

THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL, de Cannes
Depois da aventura apocalíptica "Ensaio Sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles; dois bons filmes de autor, um israelense ("Valsa com Bashir") e outro argentino ("Leonera"); e um filme francês sem consistência ("Um Conto de Natal"), surgiu hoje o melhor filme da competição até agora: "Os Três Macacos", quarto longa-metragem do turco Nuri Bilge Ceylan.

Francois Guillot/AFP Photo
O diretor Nuri Bilge Ceylan e os atores Hatice Aslan e Ahmet apresentam "Three Monkeys" na competição
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Os dois dramas anteriores do diretor, "Uzak - Distante" (Grande Prêmio do Júri em 2003) e "Climates", foram exibidos na Mostra Internacional de São Paulo, mas não estrearam em circuito no Brasil.

O título refere-se à uma fábula sobre três macacos: o primeiro cego, o segundo surdo e o terceiro mudo, que não conseguem se comunicar. É o que acontece com um pai, uma mãe e um filho na casa dos 20 anos, que sofrem cada um a sua dor sem nunca se falar ou se ajudar. A mãe tem um casamento infeliz com o pai, motorista de um político, e se apaixona por este último. O pai sabe da traição mas finge que não sabe, explodindo de vez em quando em atos violentos. E o filho sente toda essa pressão familiar, agravada pela morte de um irmão mais novo no passado, que se afogou no mar, mas aparece para os parentes sempre que estão sofrendo.

Ceylan elabora um filme lento e quase sem diálogos, calcado apenas na expressão dos atores, cenas fortes e realistas (como a da briga violenta entre o pai e a mãe), alguns planos abertos belíssimos e uma fotografia de amarelo fosco, como o cair da tarde sobre a vida dos personagens. As aparições do irmão mais novo morto são mais bem filmadas que as de qualquer filme de terror na linha de "O Chamado".

"O cinema de Ceylan é como a vida, e nela há mais olhares do que palavras", disse na coletiva a atriz Hatice Aslan, que interpreta a mãe. O diretor explicou um pouco do seu método de trabalho: "Tento deixar o irracional influenciar as cenas e os planos tanto quanto o racional. Com os atores, estamos sempre lidando com diferentes níveis de energia e estilo, e meu trabalho é tentar encaixá-los numa certa harmonia. Mas no fim das contas, os seres humanos de toda parte têm sempre as mesmas motivações, sejam homens ou mulheres. E é essa complexidade humana universal que me interessa".

Difícil vai ser o júri enxergar toda essa complexidade humana e estética se estiver mais interessado em política, como declarou até agora, e dar um possível prêmio a "Os Três Macacos".

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