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17/05/2008 - 12h28

Walter Salles faz seu melhor filme desde "Central do Brasil", mas não empolga imprensa

THIAGO STIVALETTI

Colaboracao para o UOL, de Cannes
Jornalistas de todo o mundo quase lotaram hoje de manhã a sala principal do Palácio dos Festivais de Cannes para ver a primeira sessão de "Linha de Passe", o novo filme de Walter Salles e Daniela Thomas. Boa parte da imprensa brasileira presente na Croisette tem a mesma opinião: Salles fez seu melhor filme desde "Central do Brasil", sensível, intimista, carinhoso e não complacente com seus personagens. Mas ao fim da sessão, ouviram-se poucos aplausos, o que pode indicar que o filme não tem a mesma ressonância entre os estrangeiros que não conhecem a realidade brasileira.

"Linha de Passe" acompanha a rotina de uma família de Cidade Líder, bairro da periferia de São Paulo: os quatro irmãos e a mãe solteira, grávida do quinto filho. Um dos rapazes (Vinícius de Oliveira, o menino de "Central do Brasil", hoje com 23 anos) sonha em ser jogador de futebol profissional, mas esta prestes a completar 18 anos e não poder mais participar das peneiras das escolas e clubes. Outro é motoboy, o terceiro um frentista que prega como pastor evangélico e o quarto (o caçula) anda de ônibus o dia inteiro a procura do pai, um motorista que ele nunca conheceu.

"Ao contrário de muitos filmes que vejo, este não trata a pobreza de forma artificial. Tem ótimas atuações, não é melodramático e trata de assuntos sérios sem ser soturno, como os filmes de Ken Loach e dos irmãos Dardenne. Acho que pode alcançar um grande publico internacional. E me ensinou um pouco sobre as igrejas evangélicas no Brasil, algo que eu não conhecia", disse ao UOL no final da sessão o critico britânico Sukhdev Sandhu, do "Daily Telegraph".

"Não gosto de 'Central do Brasil' nem de 'Abril Despedaçado', mas 'Linha de Passe' me impressionou. Tem um estilo muito fincado no realismo, e o final aberto para os personagens era o melhor possível. Alguns colegas reclamaram do simbolismo forte de algumas cenas, como o batismo coletivo, mas confesso que isso não me incomodou", disse o critico do jornal suíço "Tager Anzeiger", Florian Keller.

Hoje à noite, acontece a sessão de gala para convidados, com os diretores e elenco fazendo a celebre cerimônia do tapete vermelho e a subida das escadas.

O Brasil dentro de uma casa
Com "Linha de Passe", Walter Salles faz seu melhor filme desde "Central do Brasil". Depois de viajar pelas estradas do Brasil naquele filme, é como seu reunisse em uma casa o Brasil trabalhador, das periferias das grandes cidades, e as poucas saídas que encontra para melhorar de vida: a religião (o irmão pastor evangélico), o sonho (o candidato a jogador de futebol), o trabalho (o motoboy, figura mais emblemática de São Paulo hoje), o crime (pelo qual um deles vai se enveredar). Para não montar simplesmente um painel social, agrega ainda um quarto irmão, de cunho mais existencialista: um garoto a procura do pai, personagem caro ao cineasta desde o menino de "Central do Brasil".

No final, Salles e Daniela recusam-se a ser otimistas ou pessimistas, mostrando apenas o quanto o caminho pode ser estreito para um brasileiro pobre e da periferia. E a imagem final é a melhor metáfora possível sobre um grande Brasil um pouco desgovernado, a procura de um pai ou uma noção de pátria que lhe de um rumo.

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