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14/05/2009 - 07h10

Diretora de curta premiado no Brasil diz que plateia fria em Cannes não a preocupa

EDUARDO TARDIN
Da Redação
Depois de vencer os festivais de cinema de Brasília e Recife com o curta "Superbarroco", a diretora pernambucana Renata Pinheiro não tem motivos para ficar nervosa quando seu filme for exibido no dia 22 na Quinzena dos Realizadores, uma das mostras paralelas do Festival de Cannes.

Ela conversou com o UOL Cinema momentos depois de ganhar o prêmio de melhor curta-metragem em Recife, no último dia 3, e disse que suas expectativas para Cannes são as melhores possíveis.

"Acho que todo mundo vai gostar, mas é claro que não vai ser como um Cine-PE, em que vibram e gritam", disse a artista plástica que estreia na direção depois de trabalhar como diretora de arte de filmes como "Feliz Natal", "Árido Movie", "A Festa da Menina Morta" e "Baixio das Bestas".
  • Divulgação

    O ator Everaldo Pontes caminha sobre a água em cena do curta "Superbarroco"

Deixando de lado a narrativa linear, Renata faz uso de projeções de vídeos nas paredes e pisos de uma antiga casa e até mesmo na areia para criar um clima de surrelismo e sonho ao redor de seu personagem principal. Segundo Renata, foi necessário cuidado redobrado na escolha das lentes usadas tanto em sua câmera como nos projetores para chegar à máxima nitidez das imagens, que muitas vezes eganam os olhos do público.

Além de belas imagens, o filme conta com a elogiada atuação do ator paraibano Everaldo Pontes como o senhor solitário e à beira da loucura, que escala fachadas de igrejas e caminha sobre as águas. "É um filme sobre a memória, e sobre o encontro do homem e sua memória", diz Pontes, que recebeu o prêmio de melhor ator em curta-metragem no Cine-PE.

"Eu já havia trabalhado com o Everaldo, mas como diretora de arte dos filmes em que ele atuava; nunca tinha chegado tão perto da alma dele", disse a diretora, que no começo das filmagens se sentiu intimidada. "Já me dediquei por muitos anos ao teatro, mas no começo me deu medo, porque ele é um ator muito experiente eu estava fazendo meu primeiro curta".

"Superbarroco" é um dos quatro curtas brasileiros que estão em Cannes. "Elo" e "Espalhadas pelo Ar", da diretora Vera Egito, serão exibidos na Semana da Crítica, outra mostra paralela do festival. "Chapa" de Thiago Ricarte, está na mostra Cinefondation, dedicada a trabalhos realizados em universidades de cinema.

Veja como foi a conversa com a diretora de "Superbarroco":

  • Daniela Nader/Divulgação Cine-PE

    Renata Pinheiro recebeu o prêmio de melhor curta no Cine-PE

UOL Cinema: Como surgiu a ideia do filme?
Renata Pinheiro: O filme nasceu de uma conversa do roteirista Sérgio Oliveira com o ator Everaldo Pontes. Estávamos no set de "Árido Movie", de Lírio Ferreira, que teve minha direção de arte, e conversamos vagamente sobre um fã clube de Dalva de Oliveira que existe em João Pessoa. Falamos também sobre a arte da dublagem, e essa idéia ficou em mim. O filme tem diversas associações: solidão, mulher, barroco, oco, arte da interpretação, que o ator empresta o corpo ao personagem e por isso também é oco. Foram essas associações e imagens que deram origem ao roteiro.

UOL Cinema: Você é artista plástica e já trabalhou como diretora de arte. Como foi dirigir seu primeiro curta?
Renata Pinheiro: Já fiz diversos trabalhos de videoarte, mas nunca utilizando atores. São formas diferentes de pensar o audiovisual. Mas como cinema é imagem, todo conhecimento de imagem e desenho que adquiri em anos de ateliê está no filme. E a arte de interpretar é a arte de chegar perto da alma humana, e isso me interessa muito.

UOL Cinema: Algumas pessoas vêem o personagem de "Superbarroco" como triste e outras, como feliz. Como você o vê?
Renata Pinheiro: Eu acho que ele é muito "vida", porque a vida é triste e feliz. Eu tinha medo de que o filme ficasse hermético e triste, mas é também um filme positivo. Não existe alegria completa sem a tristeza. É como no barroco, em que uma coisa afirma a outra.

UOL Cinema: Por que o título "Superbarroco"?
Renata Pinheiro: "Barroco" porque é um idílio amoroso com o estilo barroco, que é o primeiro estilo genuinamente brasileiro. E "Superbarroco" porque queria dar ao personagem uma idéia de super-herói. Em alguns momentos ele se torna sobre-humano, como na cena em que caminha sobre a água. E também queria o "super" para dizer que eu tenho toda a liberdade para exagerar no que eu quiser e ninguém tem nada com isso, sem me preocupar o formalismo às vezes exigido na direção de arte, em que tudo tem que ser limpo e sofisticado. Meu filme é brasileiro pra caramba, e adoro isso.

UOL Cinema: O Cine-PE foi o terceiro festival de que "Superbarroco" participou. Como tem sido a reação do público?
Renata Pinheiro: Para mim é difícil falar sobre o que é o filme; eu nunca tenho um discurso muito preparado. Mas, por incrível que pareça, ele é de fácil entendimento. As pessoas adoram, todo mundo vem falar isso para mim. Cada um observa a história sob seu ponto de vista. Melhor é impossível. Não quero fazer um filme que não se comunique com o público, e esse se comunica.

UOL Cinema: Qual sua expectativa para a exibição do filme na Quinzena dos Realizadores, em Cannes?
Renata Pinheiro: A melhor possível. Mesmo com uma platéia fria de europeus vou estar feliz e radiante. Acho que vai todo mundo gostar, mas é claro que não vai ser como um Cine-PE, em que vibram e gritam. Sei que não vai ser assim, mas eu já mostrei para alguns estrangeiros conhecidos para saber a reação deles e foi positiva. É um filme de fácil compreensão. Vai ser bom demais.

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