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Festival de Cannes 2010

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12/05/2010 - 07h01

Em Cannes 2010, o cinema "em crise" pode render boas surpresas

THIAGO STIVALETTI
Colaboração para o UOL

Clima geral da cidade francesa de Cannes um dia antes do início do festival

“O cinema acaba de entrar em um período de crise”, disse Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes, há cerca de um mês, na coletiva que anunciou os filmes que integrariam o evento deste ano. A natureza acompanhou a previsão sombria da arte: o mau tempo que tomou a Riviera francesa na semana passada, com ondas gigantescas e ventos poderosos, derrubou parte das tendas já armadas para o festival.

Tudo parece menos glamuroso que nos anos anteriores: orçamentos menores; menos autores de peso – nada de Tarantino, Almodóvar ou Michael Haneke este ano; diretores que não conseguiram aprontar seu filme a tempo, como Clint Eastwood, Gus Van Sant, Darren Aronofsky (de “Réquiem para um Sonho”) e Terrence Malick (de “Além da Linha Vermelha”). Aliás, o filme de Malick, “Tree of Life”, era o filme dos sonhos do festival, por reunir no elenco dois dos atores mais queridos dos organizadores: Sean Penn e Brad Pitt. Nada disso entrou.

A competição conta com apenas um filme americano (“Fair Game”, de Doug Liman, estrelado por Sean Penn e Naomi Watts), a presença mais magra da terra de Hollywood na disputa pela Palma desde 1987. Mas os astros americanos vão aparecer por fora, em sessões especiais de filmes aguardados: “Robin Hood”, o filme de abertura, com Russel Crowe e Cate Blanchett; “Wall Street – Money Never Sleeps”, continuação de Oliver Stone para seu filme de 1987, com Michael Douglas e Shia Labeouf; o novo Woody Allen, “You Will Meet a Tall Dark Stranger”, com um vasto elenco que vai de Anthony Hopkins a Antonio Banderas, Josh Brolin e Naomi Watts; e o mexicano “Biutiful”, de Alejandro González Iñárritu, diretor de “Babel”, que traz Javier Bardem no papel de traficante.

Com uma competição menos apelativa, ao menos em grandes nomes, Cannes 2010 verá sua mostra “alternativa” (Un Certain Regard / Um Certo Olhar) roubar muitos dos olhares este ano – não só pelos filmes originais, mas por nomes consagrados que foram parar lá. É o caso do centenário Manoel de Oliveira (“O Estranho Caso de Angélica”, produzido em parceria com a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo), do chinês Jia Zhang-Ke (com o documentário “I Wish I Knew”) e do argentino Pablo Trapero (“Carancho”). Sem falar no mestre Jean-Luc Godard, que retorna após seis anos de jejum desafiando as normas do festival: seu “Film Socialisme” poderá visto em streaming na internet durante dois dias durante o festival, ao custo de nove euros. Qualquer outro cineasta seria vetado no festival por essa decisão, mas Godard pode tudo.

A disputa pela Palma de Ouro é encabeçada por três grandes nomes. Dois deles (o inglês Mike Leigh, com “Another Year”; e o iraniano Abbas Kiarostami, com “Copie Conforme”) já venceram o festival. O terceiro é o japonês Takeshi Kitano, que dirige e atua no filme de gângster “Outrage”.

Mas o que esperar dos filmes menores, de autores que nunca competiram pela Palma? São esses filmes que podem surpreender e virar grandes favoritos: o francês Mathieu Amalric com seu “Tournée”, rodado em boa parte nos EUA; o africano Mahamet-Saleh Haroun, do Chade, com “A Screaming Man”; o coreano Im Sang-soo com o sangrento “The Housemaid”.

O Brasil tem uma participação mais pulverizada que nos anos anteriores. Ao contrário de 2008, quando Fernando Meirelles e Walter Salles competiram, e 2009, quando Heitor Dhalia (com “À Deriva”) entrou em Um Certo Olhar, a participação de 2010 é mais pulverizada.

A sessão especial de “Cinco Vezes Favela – Por Nós Mesmos”, projeto de Cacá Diegues reunindo curtas feitos por moradores dos morros cariocas, deve atrair muitos olhares estrangeiros. “A Alegria”, dos novatos Felipe Bragança e Marina Meliande, deve mostrar um retrato menos cartão-postal do país na paralela Quinzena dos Realizadores. E o curta “Estação”, de Márcia Faria, concorre à Palma de Ouro na competição oficial de curtas-metragens.

No cinema, o talento artístico e a criatividade podem ser bom antídoto para a crise financeira. Se isso se confirmar, Cannes 2010 passará de “edição menos bombada” à mais grata das surpresas.

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