Cena de ''Rizhao Chongqing'' (''Chongqing Blues''), de Wang Xiaoshuai, em competição no Festival de Cannes de 2010
O chinês “Chongqing Blues”, segundo filme exibido na Competição de Cannes, surpreendeu todo mundo e já entrou para a lista de fortes candidatos à Palma de Ouro. O filme é dirigido por Wang Xiaoshuai, o mesmo de “Bicicletas de Pequim” (2000); e “Sonhos com Shangai” (2005), Prêmio do Júri em Cannes – os dois exibidos na Mostra de São Paulo.
Seu novo filme é um drama comovente sobre Lin, um capitão marítimo que abandonou sua primeira família para formar uma segunda. Ao voltar de um trabalho de seis meses no mar, ele recebe a notícia de que seu filho de 25 anos, fruto do primeiro casamento, foi assassinado por um policial depois de sequestrar uma moça num supermercado. Da última vez que Lin viu o rapaz, ele tinha apenas 10 anos.
Para expiar sua culpa, Lin começa um meticuloso trabalho para resgatar os últimos momentos do rapaz. Fala com todo mundo – seu melhor amigo, a ex-mulher, a moça que foi feita refém, a ex-namorada por quem ele tinha uma paixão profunda que o levou à loucura final. A única imagem que consegue do rapaz é aquela que está no vídeo sobre o sequestro publicado na internet. O capitão se apega a ela e pede para o amigo ampliá-la até não poder mais. Pendura o retrato enorme e desfocado do filho na parede do quarto, interrogando seu rosto em busca de alguma resposta que não virá.
Xiaoshuai usa um procedimento parecido com o de seu conterrâneo Jia Zhang-Ke em “Em Busca da Vida”, Leão de Ouro em Veneza – por meio de uma clássica história de busca, vai sutilmente construindo um retrato da cidade de Chongqing, hoje um canteiro de obras que cresce em ritmo acelerado, e da sociedade chinesa, em especial de uma juventude consumista e sem compromisso com as velhas gerações. A busca de Lin pela imagem que pode revelar um mistério é uma grande homenagem a “Blow Up”, de Antonioni. Combinando um drama emocionante com um forte lado documental sobre um país no qual todo o mundo está de olho, é difícil que o “Chongqing Blues” saia sem algum prêmio de Cannes.