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18/05/2010 - 12h27

Kiarostami defende diretor iraniano preso e Juliette Binoche chora em entrevista

THIAGO STIVALETTI
Colaboração para o UOL, de Cannes
  • O cineasta Abbas Kiarostami e a atriz francesa Juliette Binoche apresentam Copie Conforme

    O cineasta Abbas Kiarostami e a atriz francesa Juliette Binoche apresentam "Copie Conforme"

O diretor iraniano Abbas Kiarostami e a francesa Juliette Binoche fizeram hoje a coletiva mais emocionante do Festival de Cannes, em torno do novo filme do diretor, “Copie Conforme”.

Kiarostami começou fazendo um apelo pela libertação de seu colega, Jafar Panahi (Leão de Ouro em Veneza por “O Círculo”), preso desde o início de março pelo regime iraniano acusado de preparar um filme contra o governo. “Um filme não pode ser considerado um crime, menos ainda se ele não foi visto. Logo antes desta coletiva, recebi uma mensagem dizendo que a esposa de Panahi me ligou e queria falar comigo. Espero que sejam boas notícias”, disse Abbas.

Mas a esperança durou pouco. Uma jornalista franco-iraniana chorou ao dar a notícia de que Panahi havia decidido começar uma greve de fome. Enquanto ela falava, Juliette Binoche também começou a chorar, emocionada. Kiarostami falou de sua própria relação difícil com o regime iraniano: “Há sempre um mal-entendido: se não gostam do meu filme ou ele tem uma repercussão fora do Irã, já acham que tenho alguma relação com os governos ocidentais”.

A discussão política pouco tinha a ver com “Copie Conforme”, um filme que discute a importância da cópia e do original na arte e no amor. Rodado em Florença e com produção franco-italiana, o filme mostra o encontro entre um escritor britânico, James (William Simell), que faz uma palestra na cidade e uma fã sua (Juliette Binoche), nunca nomeada. James está lançando o livro “Cópia Certificada”, cujo subtítulo é polêmico: “Esqueça o original e procure uma boa cópia”.

Eles passeiam pela cidade e começam a discutir se a cópia de uma obra tem o mesmo valor que o original, a responsabilidade dos parceiros numa relação amorosa e outras grandes questões. De repente, ela começa um jogo fascinante: começa a conversar com o escritor como se ele fosse seu marido, desafiando-o a lembrar memórias que ele não tem e discutindo a relação em profundidade, num diálogo que se reveza em três línguas: inglês, francês e italiano. (Curiosidade: o papel de James foi oferecido a Robert DeNiro).

O amor, a arte e o olhar

“Minha intenção não era discutir a cópia e o original, tudo era um pretexto pra discutir a relação do casal. Nietsche dizia: saiba que a importância de uma obra está no seu olhar. E isso não acontece só na arte: o seu objeto de amor também depende do olhar que você lhe lança”, disse. “Não me alimento da literatura ou de outras artes, mas da própria vida. (...) Mas é curioso: o casamento é a única área da vida em que não aprendemos nada, jamais”.

Juliette Binoche contou que Kiarostami a convidou para conhecer Teerã antes mesmo de haver um projeto de filme. “Eu fui, curiosa em saber como viviam as mulheres iranianas. O que Abbas diz sobre as mulheres é o oposto do que seu país diz”, afirmou. Sobre a personagem, “pensei em tentar falar com algum mulher neurótica na internet, mas Abbas disse: seja você mesma. Entendi que qualquer mulher poderia fazer aquilo, inventar outra existência para si. Ela é ao mesmo tempo uma mulher, mãe, sedutora, desesperada, casada, tudo o que ela pode ser graças aquele homem”, disse a atriz. Depois de filmar com o iraniano e com o israelense Amos Gitai, ela tem projetos com os chineses Jia Zhang-Ke e Jiang Wen.

Kiarostami, que nunca havia filmado com atores profissionais, reiterou que o projeto surgiu a partir de Binoche. “Uma vez, contei uma anedota a Juliette, e ela fez uma expressão que em encantou. Precisava guardar essa expressão, e pra isso inventei uma história e um roteiro”, declarou, em homenagem à atriz.

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