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65o. Festival de Veneza - 2008

29/09/2008 - 17h02
Documentário "Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado" discute turismo sexual
NEUSA BARBOSA
Colaboração para o UOL, do Rio
Temas polêmicos, como turismo sexual, racismo e pedofilia, são o centro do documentário "Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado", concorrente na Première Brasil do Festival do Rio, dirigido por Joel Zito Araújo.

Viajando pelo Brasil e também pela Europa, na Itália e Alemanha, o diretor discute o sonho de várias mulheres brasileiras de encontrar um marido europeu. Muitas delas imigram, tornam-se dançarinas em shows de samba ou ritmos ligados ao Brasil. Sem estudo ou formação profissional, algumas transformam-se, ainda, em prostitutas e raramente realizam o sonho. Entretanto, no filme também há finais felizes.

Divulgação
"Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado", de Joel Zito Araújo, aborda a polêmica do turismo sexual
Há muito tempo, o diretor é engajado no tema da discussão do preconceito racial - assunto também abordado em "Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado". "Meu filme é sobre mulheres pobres, três quartos das quais são afrodescendentes", definiu, antes da primeira sessão do filme, que terminou à uma da manhã desta segunda (29).

Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, Joel Zito já havia transformado em filme sua tese de doutorado (também livro), intitulada "A Negação do Brasil" (2000). Ali, ele documentava a histórica discriminação racial na televisão brasileira. Voltou ao tema num filme de ficção, "As Filhas do Vento" (2004), com elenco todo negro, que recebeu seis prêmios em Gramado, inclusive melhor filme, diretor e prêmio da crítica.

Joel Zito deixou claro que seu filme "não tem intenção de explicar" todos os fenômenos que retrata. Ele também descarta qualquer intenção de julgamento de suas personagens. "Algumas se tornam trabalhadoras do sexo, outras não. Meu filme também trata sobre a imigração na Europa e muitos outros assuntos", frisou.

Em todo caso, deve causar impacto a entrevista da senadora cearense Patrícia Saboya, uma das parlamentares mais ligadas ao combate da exploração sexual infantil. Criticando a falta de medidas decisivas para erradicação do problema, a senadora classificou o Brasil como "país perverso" e chegou a interromper sua fala devido à emoção, que a levou às lágrimas em seu depoimento.

Um dos momentos mais fortes de "Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado" flagra uma menina de 13 anos que vende seu corpo nas ruas de Fortaleza, ao lado da mãe, pobre, que demonstra saber de tudo e ser conivente.

Os momentos mais leves são, na parte final, quando o diretor entrevista casais de brasileiras casadas com alemães - em conversas em que o choque cultural aparece de maneira inesperada e, às vezes, divertida.

O filme será exibido novamente nesta terça (3), em duas sessões, às 13h e 19h30, no Estação Vivo Gávea.


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