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17/01/2005 - 10h43
Rubens Ewald Filho: Jamie Foxx é favorito absoluto ao Oscar este ano
RUBENS EWALD FILHO
Colunista do UOL

Quase nada ficou muito claro depois da 62ª edição do Globo de Ouro neste domingo. A não ser a certeza de que Jamie Foxx é mesmo o favorito para o Oscar de ator deste ano. Fora isso, a "prévia do Oscar" só serviu para deixar muito claro que este ano, ao contrário das edições passadas, não há um favorito absoluto para a maior premiação do cinema mundial _em 2004, por exemplo, era evidente que "O Senhor dos Anéis" seria finalmente premiado.

A grande surpresa foi "O Aviador", de Martin Scorsese, ter ganho o Globo de Ouro de melhor drama, quando tudo apontava para "Menina de Ouro", de Clint Eastwood, que ganhou como melhor diretor _era visível a decepção no rosto de Eastwood e de sua mulher depois do anúncio de melhor filme para "O Aviador".

Mas tudo acaba sendo uma questão de gosto. Os dois filmes são bons. "O Aviador" é um filme suntuoso, espetacular, nostálgico. "Menina de Ouro" é trágico, amargo, triste. De certa maneira, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood acertou ao dar um prêmio para Eastwood, já que ele é mesmo o autor do filme (ele dirigiu, produziu, fez a trilha sonora e atuou; concordo com Hilary Swank que disse que talvez seja a melhor performance como ator de sua carreira).

A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, entidade que produz e organiza o Globo de Ouro, é apenas um grupo de 80 e poucos correspondentes internacionais, e não críticos de cinema. Talvez por isso sejam mais racionais e práticos na escolha dos vencedores. Eles premiaram como melhor coadjuvante uma dupla de "Perto Demais" (Closer), um bom filme que não pegou nos EUA, talez por ser dirigido a adultos e cujo marketing não funcionou. Mas tem um elenco realmente maravilhoso; foi justo premiar Clive Owen e a encantadora Natalie Portman, novamente em forma.

A melhor trilha foi obviamente para a de Howard Shore, de "O Aviador". As canções indicadas este ano eram todas muito fracas; premiar Mick Jagger foi resgatar talvez a menos ruim, "Old Habits Die Hard" (até ele se espantou e agradeceu por ter salvo uma canção esquecida), do filme "Alfie". Mas, convenhamos, o "Alfie" original (1966), de Burt Bacharach, era infinitamente melhor.

Em "Ray", Jamie Foxx é mesmo um show em cena. Se ele levar o Oscar, será o primeiro negro comediante de "stand-up comedy" a levar esse prêmio. Ele saiu de programa de TV chamado "In Living Color", junto com Jim Carrey e os irmãos Wayan. Ou seja, pastou e penou muito. Ele veio da mesma fonte que revelou Richard Pryor, Eddie Murphy, Martin Lawrence, também ótimos atores, mas que não foram versáteis como Foxx e passaram a fazer papéis dramaticos.

Foi comovente o discurso de agradecimento de Foxx, que se emocionou ao se lembrar de sua avó Estelle, que morreu faz pouco tempo e foi quem lhe encheu a cabeça para que trabalhasse e fizesse sucesso.

Hillary Swank foi a melhor atriz por "Menina de Ouro", quebrando o tabu do azar que o Oscar traz (ela ganhou em 1999 por "Meninos Não Choram"). Ela, que fez muita besteira depois do primeiro prêmio, agora parece ter percebido que tem que fazer papéis especiais, diferentes, não pode ser mocinha de filme de aventura, por causa do seu tipo exótico. Como boxeadora acertou.

Gostei também do resultado do filme estrangeiro. O Globo de Ouro é muito mais justo que o Oscar, que impõe regras absurdas para a seleção. Assim, "Diários de Motocicleta" concorreu pelo Brasil e perdeu não para "O Clã das Adagas Voadoras". como todo mundo pensava, mas para um filme ainda melhor, o espanhol "Mar Adentro" (que eu particularmente achei fenomenal). No Oscar ele deve representar a Espanha.

Fora isso, percebi que a escolha de coadjuvantes é totalmente arbitrária: Laura Linney, Virginia Madsen e mesmo a vencedora Natalie Portman poderiam ser protagonistas. E que Meryl Streep tem muito senso de humor para se auto-satirizar ao ter perdido o prêmio para Natalie. E que os críticos americanos estão mesmo tomados por um delírio coletivo, transformando "Sideways" em algo mais do que apenas o filme mediano e simpatico que é.

Televisão
A entidade que concede o Globo de Ouro está se tornando cada vez mais política, mais antenada. Aqui nos EUA a entrega do prêmio não é transmitida por canal a cabo, mas pela poderosa NBC, que exibe por uma hora a chegada dos astros ao tapete vermelho e se esforça para promover os indicados de própria rede.

Esse acerto fica cada vez mais claro principalmente na área de televisão. Já o Emmy, o "Oscar da TV", continua lerdo e fora de época, custando a reconhecer aquilo que é de mais novo e interessante.

O acerto se deu no caso de "Desperate Housewives", melhor série de comédia (o curioso é que poucos haviam percebido que a série era uma sátira, pensaram que era uma uma novela, como disse seu criador no discurso de agradecimento). E tambem na premiação de melhor atriz para Teri Hatcher, que, com bom humor, admitiu seu retorno depois de ter sido uma "has been" depois do fim do seriado "Lois e Clark".

Foi tambem surpresa o reconhecimento de Glenn Close como melhor atriz em telefilme por seu "Lion in Winter", que saiu foi lançado em DVD no Brasil com o titulo horrível de "Bárbaros e Traidores". Isso representa também um retorno, já que há muitos anos ela se perdeu desde que fez o musical "Sunset Boulevard" e caiu na caricatura de Cruella de Ville ("101 Dálmatas").

O prêmio de melhor ator na mesma categoria também foi outro acerto: Geoffrey Rush, que é um ator discutível e irregular, está excelente na pele de Peter Sellers no filme da HBO "The Life and Death of peter Sellers".

A HBO continua a ser a melhor produtora da TV americana, conseguindo prêmios para a série faroeste "Deadwood" (para o ator Ian McShane). Mas não deixa de ser estranho ver um canastrão como William Shatner ganhar como ator coadjuvante ("Boston Legal"), quando o Capitão Kirk só funciona quando faz paródia de si mesmo.

Anjelica Huston não tem nada a fazer no bom filme da HBO "Iron Jawed Angels" e não merecia nenhum prêmio.

Fica claro no Globo de Ouro que a TV lhe dá popularidade, mas o prêmio gosta mesmo de cinema, dando-lhe espaços mais importantes e trazendo até a presença do governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger e mensagem gravada do ex-presidente Bill Clinton, que agradeceu a ajuda de todos para as vítimas da tsunami, mesmo que tardia.


18/01/2005
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