| 17/01/2006 - 04h48 Análise: Globo de Ouro premia a "América profunda" e papéis gays MARCELO NEGROMONTE
Editor de UOL Cinema 
Como o Globo de Ouro tradicionalmente aponta caminhos que o Oscar deve seguir, a premiação de 5 de março deve ser disputada. "O Segredo de Brokeback Mountain", indicado a sete prêmios, levou quatro; "Johnny e June", indicado a três, levou todos.
Premiado com o Leão de Ouro em Veneza 2005, "Brokeback Mountain" ganhou os prêmios de melhor filme de drama, diretor (o taiwanês Ang Lee), roteiro e canção original. Já "Johnny e June", título em "português" de "Walk the Line", ficou com os Globos de Ouro de melhor filme musical, ator (Joaquin Phoenix) e atriz (Reese Witherspoon) da mesma categoria.
Por um lado, a Associação de Críticos Estrangeiros de Hollywood premiou a chamada "América profunda". A história de amizade _e além_ entre dois caubóis de Wyoming, de "Brokeback Mountain", e a vida do cantor country Johnny Cash (Phoenix) e seu romance com June Carter (Witherspoon), de "Johnny e June", foram os maiores vencedores da 63ª edição do Globo de Ouro.
Parte da produção cinematográfica atual nos EUA vai para o interior do país e é bem-sucedida nas bilheterias _como, coincidentemente, aconteceu com "2 Filhos de Francisco" no Brasil.
Por outro, há o aspecto sexual dos personagens cujos atores foram premiados na categoria drama _e que também está fortemente presente em "Brokeback Mountain". Philip Seymour Hoffman, vencedor do prêmio de melhor ator por "Capote", interpreta o personagem-título, brilhante jornalista e escritor, homossexual. Felicity Huffman, melhor atriz, é um transexual prestes a mudar de sexo quando descobre ter um filho.
Huffman e Hoffman interpretam papéis caros a Hollywood por se caracterizar em evidente "esforço interpretativo", como o da lésbica assassina de "Monster", que valeu o Oscar a Charlize Theron em 2003, e o do cantor cego de "Ray", Oscar de melhor ator para Jamie Foxx em 2005.
De qualquer maneira, os brasileiros poderão ver em breve esses filmes. "Brokeback Mountain" estréia dia 3 de fevereiro; "Johnny e June", dia 10; e "Capote", dia 17. "Transamerica" ainda não tem data de lançamento.
Políticos, urbanos, bombas
"O Jardineiro Fiel" e Syriana", ambos com abordagem mais política que os demais premiados, ficaram com os prêmios de atriz coadjuvante (Rachel Weisz) e ator coadjuvante (George Clooney), respectivamente. O filme de Fernando Meirelles tinha mais duas indicações (melhor filme de drama e diretor). Clooney também concorria aos prêmios de direção e roteiro por "Boa Noite e Boa Sorte".
Aliás, "Boa Noite e Boa Sorte", também sobre um tema político, não teve nem uma boa noite nem boa sorte nesta segunda: foi indicado em quatro categorias e não levou nada. O mesmo aconteceu com os urbanos "Os Produtores" e "Ponto Final", novo filme de Woody Allen _quatro indicações e zero prêmio.
O ótimo "Paradise Now" fez história ao ser o primeiro filme palestino a ser indicado ao Globo de Ouro e levou o prêmio de filme estrangeiro. Político até o osso, a obra de Hany Abu-Assad mostra a angústia e os dilemas de dois homens-bomba palestinos que vão se matar em Tel Aviv por uma única causa: a criação do Estado palestino. E foi exatamente isso que o diretor pediu em seu discurso de agradecimento. Talvez nem tudo esteja perdido em Hollywood. |
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