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21/10/2005 - 07h15
Manoel de Oliveira exibe boa forma em "Vou Para Casa"

SÃO PAULO (Reuters) - O veterano diretor português Manoel de Oliveira é homenageado com uma retrospectiva na 29a. edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa na sexta-feira.

Um dos destaques da retrospectiva é "Vou Para Casa", que tem sessão nesta sexta-feira, às 13h, no Cineclube Vitrine, e na terça, às 11h, na Faap.

Neste longa de 2002, as artes se observam uma à outra -- o cinema está de olho no teatro e vice-versa, quer se trate de uma busca de referências, de pistas para sua própria reinvenção ou apenas de exercícios de estilo.

Entremeando sua história com trechos de textos de Ionescu ("O Rei Está Morto"), William Shakespeare ("A Tempestade") e "Ulysses", de James Joyce, Oliveira apresenta seu protagonista Gilbert Valence (Michel Piccoli).

Consagrado e no auge da carreira, ele perde a mulher, o filho e a nora em um acidente de carro. Leva adiante sua vida, amparado apenas em sua arte e na criação do neto pequeno, que ele venera acima de tudo.

O convite para atuar em um pequeno papel em um filme norte-americano (dirigido por John Malkovich, que faz uma ponta), tira Gilbert do habitual controle de seu cotidiano.

É um instante de decisão sobre recuar ou não diante da pressão para desistir das próprias convicções -- um tema que um cineasta como Oliveira, situado na contramão do cinema de grande espetáculo de Hollywood, conhece pelo avesso.

Detendo-se nesse conflito entre a fidelidade à sua formação e as concessões que lhe pede o comercialismo, Oliveira não esconde que Gilbert Valence, na verdade, é seu duplo. Ajuda-o neste retrato revelador o desempenho verdadeiramente cristalino de Michel Piccoli.

Uma cena, em particular, ergue essa ponte entre veteranos donos de seu métier que une Piccoli e Oliveira nesta empreitada.

Alguém pergunta ao ator como ele está vivendo depois da perda de sua família. A câmera inventiva do diretor prefere mostrar, mais do que o rosto de seu protagonista, nada menos do que seus pés, calçados com um vistoso par de sapatos novos que ele adquiriu prazerosamente há pouco. Na movimentação espontânea destes pés o diretor mostra que o gosto pela vida venceu, encontrando novos instrumentos para seguir em frente.

Muitas leituras e pequenos prazeres são possíveis a partir da entrega a este filme iluminado, que tem caráter de síntese e testamento, embora felizmente não tenha sido o último trabalho de Oliveira. O infatigável mestre já fez diversos filmes depois deste, como "Um Filme Falado" e "O Quinto Império", que também estão na retrospectiva.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)


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