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30/10/2005 - 09h31
Araki fala de pedofilia em "Mistérios da Carne"

SÃO PAULO (Reuters) - O cineasta norte-americano Gregg Araki explora um terreno perigoso no qual as aparências enganam desde suas primeiras imagens em "Mistérios da Carne," quando círculos coloridos e fora de foco chovem lentamente ao fundo da tela -- o que se descobre depois ser cereais matinais.

Com roteiro do próprio diretor, baseado no livro de Scott Heim, Araki se aventura por um tema já abordado por outros diretores, mas com menos sofisticação e competência: a pedofilia.

Longe do explícito e vazio de Larry Clark ("Kids") ou da falta de esperanças de Todd Solondz ("Felicidade"), o cineasta ilumina alguns cantos obscuros do coração e da alma de seus personagens.

"Mistérios da Carne" tem sessões na 29a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo neste domingo, às 12h, no Cineclube Vitrine; e pela última vez, na quinta-feira, às 21h30, no Cinesesc.

O roteiro explora paralelamente a vida de dois jovens de quase 20 anos que têm uma experiência em comum no passado, embora não estejam cientes disso. Brian Lackey (Brady Corbet) conta que tem uma lacuna em sua memória. Ele não consegue lembrar de um período de algumas horas em sua infância, quando sumiu e foi encontrado desmaiado, com o nariz sangrando.

Anos depois, acredita ter visto um disco voador e desde então pensa que fora abduzido por alienígenas. Essa experiência acaba por transformá-lo num rapaz tímido e retraído, com poucos amigos e obcecado por UFOs e esse tipo de cultura.

Já o outro personagem é Neil McCormick (Joseph Gordon-Levitt) que, quando pequeno, teve um caso com o treinador do time de beisebol. Depois que cresceu acabou virando um garoto de programa, conhecendo seus clientes, muitos deles pai de família, no playground da cidade.

A resposta para as questões de um pode ser guardada pelo outro. Mas Araki vai fazendo o retrato delicado e tocante dessas duas vidas até chegar na possibilidade de elucidar as dúvidas dos personagens.

É interessante a forma como ele coloca a relação entre o pequeno Neil e o treinador. Existe uma cumplicidade entre os dois que poderia ter sido explorada de forma sensacionalista por algum diretor com menos sensibilidade.

Com "Mistérios da Carne," Araki, que participou da Mostra duas vezes, com "Splendor" (1999) e "Geração Maldita" (1995), ressoa o filme mais recente de Pedro Almodóvar, "A Má Educação," mas aqui abordando o tema por um outro prisma, aquele de quando há o consentimento.

O diretor, aliás, pode ser uma espécie de resposta norte-americana ao cineasta espanhol. Ambos, na sua juventude, fizeram filmes mais provocadores e vibrantes, e agora, mais maduros, entram por caminhos mais sérios, e nem por isso menos sofisticados.

Para programação completa, visite o site da Mostra, http://www.mostra.org.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)


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