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23/10/2004 - 16h44
Almodóvar diz que não faz filmes só para ganhar prêmios

Por Rocío Ayuso
Los Angeles (EUA), 23 out (EFE).- A sombra do Oscar acompanha
Pedro Almodóvar e seu novo filme, "Má educação", em sua passagem por
Los Angeles, onde a crítica fala de prêmios e ele só tem ouvidos
para o resultado das eleições nos Estados Unidos.

"Em momentos como esse, parece que a gente faz cinema para ganhar
prêmios, mas essa não é a razão", comenta à EFE o diretor espanhol.

Apesar de sua declaração, a ligação entre o novo filme de
Almodóvar e um possível Oscar está na mente de todos em Hollywood.

Afinal de contas, suas duas últimas visitas profissionais à meca do
cinema corresponderam a dois Oscar: primeiro, o de melhor filme
estrangeiro para "Tudo sobre minha mãe" e, no ano seguinte, o de
melhor roteiro original para "Fale com ela", com o qual também
concorreu ao prêmio de melhor diretor.

Assim como aconteceu com "Fale com ela", "Má educação" ficou de
fora da categoria de melhor filme estrangeiro, já que a Academia
espanhola selecionou "Mar adentro" para concorrer ao prêmio. No
entanto, a ausência do filme foi sentida na imprensa, que mencionou
"Má educação" como possível candidato na categoria de melhor roteiro
original.

"Dizem que é uma categoria para alguém como eu, que escreve
histórias mais pessoais", acrescenta, com certa modéstia.

Almodóvar prefere não acreditar nesses rumores, mas sabe que se
Hollywood sofre de algo, é de roteiros originais. Dois filmes em
castelhano muito comentados hoje, como "Mar adentro" e "Diários de
motocicleta", são histórias adaptadas.

Aconteça o que acontecer com "Má educação" na hora da entrega do
Oscar, Almodóvar tem mais histórias para contar, e seus dias em Los
Angeles alternam entrevistas de divulgação com o trabalho diário em
seus próximos roteiros.

"Diria que tenho dois roteiros, mas de fato são quatro, só que me
dá vergonha de admitir", acrescenta, ruborizado. "Não sei de onde me
sai esta veia tão trabalhadora", acrescenta.

O mais adiantado é "Vover", uma comédia "com muitas meninas", que
transcorre entre três gerações de mulheres em um mundo que Almodóvar
conhece bem, pois se trata "de gente que vem do interior para
Madri".

"É o que meu irmão (Agustín) quer que eu faça. As pessoas querem
uma comédia, e eu me sinto como: 'Meu Deus, não faço o que se espera
de mim!'", afirma depois de uma filmografia recente de histórias
mais pessoais, afastadas da loucura de outros sucessos como
"Mulheres à beira de um ataque de nervos".

Almodóvar não saberá se este é seu próximo projeto enquanto não
acabar o roteiro. Talvez, no final, acabe escolhedo "Tarántula", a
adaptação na qual trabalha há cinco anos e onde já não há lugar para
os papéis que tinha pensado para Antonio Banderas e Penélope Cruz.

"Onde acho que há espaço para Penélope é em qualquer dos outros
dois roteiros e tenho muitas vontade de voltar a trabalhar com ela",
afirma sobre uma de suas musas.

Almodóvar vê a possibilidade de trabalhar em Hollywood cada vez
mais distante, embora o filme "Brokeback Mountain", que Ang Lee está
dirigindo agora, o tenha deixado em dúvida durante muito tempo.

Muita gente em Hollywood também quer trabalhar com ele, e atrizes
como Kirsten Dunst asseguram que só tirariam a roupa por ele,
enquanto veteranas como Susan Sarandon lhe pedem um papel de
"americana que fale espanhol muito mal" em seus filmes. "Fico com
raiva, porque são atrizes que adoro e tenho certeza de que me daria
muito bem com elas, mas tudo depende do idioma."

Agora, de passagem pelos EUA na reta final de uma eleição
presidencial muito disputada, há algo mais que o preocupa. "Estou
morrendo de curiosidade", afirma, aflito por não poder votar em um
pleito na qual, dada sua repercussão no resto do mundo, "todos
deveriam votar".

Almodóvar se mostra esperançoso no resultado das eleições. "Mas,
claro, não sei o que pensam em Atlanta", em referência à chamada
"América profunda", pela qual não passou. "Na minha opinião, o mundo
está muito mal e (o presidente George W.) Bush é um dos grandes
perigos para o planeta", resume.


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