SÃO PAULO (Reuters) - Em "Eu Não Quero Dormir Sozinho", o diretor Tsai Ming-Liang volta aos seus filmes mais contemplativos e cerebrais. O filme tem sua última sessão na 30a Mostra de Cinema de São Paulo nesta quarta-feira.
Tsai Ming-Liang aborda incomunicabilidade no mundo global. Depois da extravagância visual e sonora de "O Sabor da Melancia", exibido na mostra passada com o título de "Nuvens Carregadas", o diretor malaio filma pela primeira vez em Kuala Lumpur, numa região superpovoada, onde as pessoas têm contatos efêmeros umas com as outras.
"Eu Não Quero Dormir Sozinho" acaba sendo, em sua essência, um filme sobre a incomunicabilidade e a solidão num mundo global, onde se vê camiseta do Sepultura e pôster de "Homem-Aranha 2" nas ruas da Malásia. Com poucos diálogos e muito som ambiente, o longa vai se compondo com imagens quase sempre muito belas e impactantes.
O roteiro gira em torno de um grupo de pessoas que cruzam umas o caminho das outras. Um sem-teto é resgatado por um grupo de imigrantes ilegais e acaba abrigado na casa de um deles. Mais tarde ele conhece uma garçonete e seu desejo fica dividido entre ela e o rapaz que o salvou.
Já a dona do bar onde a garçonete trabalha cuida de um rapaz doente, preso à cama. Não fica muito claro se são mãe e filho, ou simplesmente dois conhecidos. Mas a relação formal que existe entre eles não importa muito. O que o diretor busca é a possibilidade de comunicação, em especial a não-verbal, entre os personagens.
Se em "O Sabor da Melancia" a falta de água quase enlouquecia os personagens, aqui é o excesso que os atrapalha. Em alguns momentos, uma forte neblina impede que os personagens consigam sequer respirar. Tudo isso o cineasta transforma em poesia visual. "Eu Não Quero Dormir Sozinho" é apresentado às 22h desta quarta, no Cine Bombril.
(Neusa Barbosa e Alysson Oliveira, do Cineweb)