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Festival de Berlim apresenta traidor alemão e faroeste chinês

Cena do documentário "Anderson", de Annekatrin Hendel - Divulgação
Cena do documentário "Anderson", de Annekatrin Hendel Imagem: Divulgação

De Berlim (Alemanha)

13/02/2014 21h33

Vinte e cinco anos após a queda do Muro de Berlim, o documentário "Anderson" exibido nesta quinta-feira (13) na Berlinale traça a vida dupla de Sascha Anderson, ícone da cena artística underground de Berlim que, paralelamente, trabalhava como um informante da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental.

Este escritor, poeta e músico, de 61 anos, vive hoje em Frankfurt, mas foi uma figura chave de Prenzlauer Berg, beco de Berlim que atraía artistas alternativos da RDA nos anos 80, e hoje é um dos bairros mais populares da capital alemã.

Sascha Anderson poderia ter se tornado uma das principais figuras intelectuais de seu país, mas está mais associado ao apelido de "Sascha Arschloch" (Sascha Babaca), dado por um amigo, que revelou ao público a relação do artista com a Stasi.

"Anderson", o filme que a diretora de origem alemã Annekatrin Hendel dedicou a ele, tenta traçar muito mais do que a carreira do homem que, para seus amigos e para muitos outros, encarna a figura absoluta do traidor.

"Não sou juíza, e sim diretora", explicou à AFP. "Queria entender a história e contá-la através dele e de outros que tiveram alguma relação com ele (...) Este filme sobre a culpabilidade e expiação também faz a gente pensar se, 25 anos depois, somos capazes de falar sobre o assunto".

Os documentos de arquivo fazem o espectador penetrar nesta época apaixonante e efervescente, onde a livre criação artística encontrava refúgio nas cozinhas, e ao mesmo tempo mergulha em Anderson, atormentando pelas mentiras, traições, culpa e rancor.

Anderson não procura desculpas, não pede perdão. "Vemos seu olhar, sua incerteza (...) ele tem essa natureza contraditória", afirma Hendel.

Após o filme, o verdadeiro Anderson, que vei prestigiar a exibição do filme, saiu para beber com seus ex-amigos. Eles não se viam há 25 anos, a noite será longa, garante Hendel.

Muito sangue por um punhado de yuanes

Já o filme chinês "Terra de ninguém", do jovem diretor Ning Hao, trata da ganância nas montanhosas regiões do deserto de Gobi, no extremo norte chinês.

Pao Xiao, um brilhante advogado interpretado pelo ator Xu Zheng, tira da prisão um mafioso que procura fazer fortuna com a caça ilegal de falcões.

Para pagar seus honorários, o mafioso dá seu carro de luxo ao advogado que não hesita em segui-lo a toda velocidade pelo deserto de Gobi até um tribunal localizado a 500 km, onde deve participar de um outro julgamento.

Os capangas do mafioso montam uma armadilha na estrada para tentar roubar o carro. Este é o início de uma série de confrontos sangrentos, filmado como um western.

"Este filme pode ser considerado tanto um filme de road movie quanto um western. Acredito que quando for exibido na China vão rotulá-lo de humor negro, mas não é uma comédia", disse o diretor do Ning Hao.

"Os falcões estão enjaulados. Este animal simboliza a força e a liberdade. Mas quando estão presos encarnam o desejo de ganhar dinheiro, a ganância", acrescenta o diretor, que diz ter demorado quatro anos para finalizar o filme por causa da censura.

Hao não esconde a sua paixão pelos westerns. "Desde criança gosto muito. O deserto de Gobi, no norte da China, e sobretudo a paisagem montanhosa de Khingan, se apresentavam como o cenário perfeito para um western, mas essa não foi a ideia, a violência é universal", declarou.