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Mineiros chilenos estão insatisfeitos com filme sobre o acidente de 2010

Rodrigo Santoro e Antonio Banderas posam com os mineiros chilenos que inspiraram o filme "Os 33", durante pré-estreia em Santiago do Chile, no domingo (2) - Marcelo Hernandez/Atonchile/AFP Photo
Rodrigo Santoro e Antonio Banderas posam com os mineiros chilenos que inspiraram o filme "Os 33", durante pré-estreia em Santiago do Chile, no domingo (2) Imagem: Marcelo Hernandez/Atonchile/AFP Photo

De Santiago (Chile)

05/08/2015 14h44

A incrível história de sobrevivência deu a volta ao mundo e agora chega aos cinemas com Antonio Banderas como ator principal, mas seus verdadeiros protagonistas, os 33 mineiros do Atacama, não estão animados com a estreia da produção hollywoodiana "Os 33" no Chile, marcada para esta quinta-feira (6).

Cinco anos depois do deslizamento que prendeu os trabalhadores a mais de 600 metros de profundidade, no fundo de uma velha mina no árido deserto chileno, os protagonistas reais expressaram sua insatisfação com os direitos da incrível história.

"Não vou participar desse show", disse à AFP o mineiro Luis Urzúa, chefe de turno naquele 5 de agosto de 2010, quando um deslizamento o prendeu junto a seus companheiros no fundo da mina San José, na cidade de Copiapó, em pleno deserto do Atacama, no norte do Chile.

A história parecia se encaminhar para mais uma tragédia. Durante 17 dias, nada se sabia sobre eles e, quando a esperança estava prestes a acabar, uma pequena mensagem de vida do fundo da mina, em que afirmavam estar todos bem, provocou uma reviravolta épica na história. Após 69 dias, todos foram resgatados sãos e salvos em um final feliz que comoveu o mundo.

Insatisfeitos com os direitos

"A realidade é diferente. E eu prefiro não participar, porque o que preciso é recuperar os direitos da minha história", disse Urzúa por telefone de Copiapó, ressentido pelo que considera a "perda" dos direitos de comercialização da história que protagonizou há cinco anos.

Poucas semanas depois de serem resgatados, em 13 de outubro de 2010, os 33 mineiros fizeram um acordo para ceder os direitos de sua história para um filme e um livro.

"Os 33" é dirigido pela mexicana Patricia Riggen e protagonizado pelo espanhol Antonio Banderas e a francesa Juliette Binoche, além do brasileiro Rodrigo Santoro. A estreia no Brasil está marcada para 29 de outubro.

Com a assessoria de advogados foi criada uma complexa estrutura jurídica que deixou alguns satisfeitos, mas que para outros os deixou de "mãos atadas". "Não sei se concordo com o acordo. Temos que esperar que o filme saia e ver como ficamos", disse à AFP o mineiro Carlos Barrios.

"Tudo está super claro", disse Mario Sepúlveda, o mais histriônico do grupo, interpretado por Antonio Banderas. "Alguns voltaram atrás. Este é um negócio e uma vez que começa a dar frutos, se supõe que deva começar a dar lucro para cada um dos nós", acrescentou.

Sua história na grande tela

Há poucas semanas, grande parte dos mineiros e suas famílias tiveram a oportunidade de assistir ao filme. Houve choro e muitos conseguiram se reconhecer na tela grande, nas atuações de atores como Rodrigo Santoro, Adriana Barraza, Kate del Castillo, Gabriel Byrne, Mario Casas, Juan Pablo Raba, Tenoch Huerta e Alejandro Goic, entre outros.

"O filme é forte. Para nós mineiros foi difícil assistir, porque fomos lembrando de tudo. Alguns choraram", disse Barrios. "É muito próximo da nossa história. Às vezes se diz que os filmes não refletem o que aconteceu na vida real, mas este não. É bem próximo", acrescentou.

"Está extraordinário, lindo. Nos deixa muito bem como país", afirmou Mario Sepúlveda.

O filme, produzido pelo americano Mike Medavoy --indicado ao Oscar em 2011 por "Cisne Negro", com Natalie Portman-- foi rodado em 2014, em uma mina de sal na região colombiana de Mecomón e no deserto chileno.

"A equipe dos 33 é a maior e mais bela que existiu. Agora que estupidez e dinheiro nos separem é outra coisa", disse Mario Sepúlveda. Mas o mineiro lembra: "Para saber a verdade sobre os 33, tem que se fazer uma série, porque cada companheiro tem sua própria história, cada um a viveu de sua própria forma".