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Como um ex-empregado tirou a Disney do fundo do poço e salvou as princesas

John Lasseter revolucionou a Disney - Divulgação
John Lasseter revolucionou a Disney Imagem: Divulgação

Anaheim (EUA)

19/07/2017 12h45

Quando John Lasseter estava no ensino médio pegou emprestado um pesado livro chamado "The Art of Animation" ("A arte da animação", em tradução livre) e ficou surpreso ao descobrir que existiam pessoas que podiam ganhar a vida desenhando.

A revelação o inspirou a se tornar um dos mais bem-sucedidos animadores da História, no nível, talvez, do lendário japonês Hayao Miyazaki e do próprio Walt Disney.

A Lasseter é atribuído o resgate da Walt Disney Animation ao assumir em 2007 como chefe criativo quando a empresa comprou a Pixar, onde trabalhava.

Parece distante agora, com "Frozen" (2013) entre os 10 filmes de maior bilheteria da História, mas a Disney teve grandes fracassos como "Atlantis - O Reino Perdido" (2001), "Irmão Urso" (2003) e "O Galinho Chicken Little" (2005).

Assolada pela Pixar, a divisão de animação da Disney esteve a ponto de fechar, mas o estúdio recobrou a sua energia sob a direção de Lasseter e começou a produzir clássicos como "Enrolados" e "Detona Ralph" para voltar aos seus dias de glória.

"Cresci amando os filmes da Disney, tinham muito significado para mim, havia magia neles, beleza", diz o diretor de 60 anos em um encontro com a imprensa internacional durante a conferência D23, organizado pela empresa na semana passada.

A contribuição de Lasseter ao mundo não é pequena. Desde que em 1995 estreou "Toy Story", a Pixar ganhou 13 Oscars e US$11 bilhões nas bilheterias com 18 filmes.

E ao entrar no Walt Disney Animation Studios, o tirou das ruínas, lucrou US$ 5 bilhões em oito filmes e venceu quatro prêmios da Academia.

Sem favoritos

Criado em Whittier, Califórnia, Lasseter se deixou seduzir pela magia de Mickey Mouse com visitas regulares à Disneylândia, perto de sua casa.

"Walt Disney, com seus filmes e a Disneylândia, entreteve as pessoas como ninguém neste mundo", afirma o cineasta, que também lembra quando viu no cinema "A Espada era a Lei" (1963).

Lasseter entrou no California Institute of Arts em 1975 e, junto com seus contemporâneos Tim Burton e Brad Bird, teve aulas com a lendária equipe de animação da Disney, "Nine Old Men".

Quando se formou, começou a trabalhar na Disney, mas foi demitido pouco depois por mexer em uma versal inicial de animação computadorizada sem pedir a autorização de seus chefes.

Em 1984, foi contratado pelo The Graphics Group, a divisão da Lucasfilm de imagens geradas por computadores (CGI, em inglês) antes de ser vendida a Apple, que mudou seu nome para Pixar e a transformou, com a ajuda de Lasseter, em um estúdio de animação completo.

A Walt Disney Company comprou a Pixar em 2006 e desde então Lasseter supervisiona a produção de ambos os estúdios. Seu sucesso lhe permitiu comprar um vinhedo, uma coleção de carros clássicos e mil camisas havaianas.

Entre os seus créditos como diretor estão "Toy Story" (1995) e sua primeira sequência, um ano depois; "Vida de Inseto" (1998); "Carros" (2006); e "Carros 2" (2011). E assegura que entre todos os filmes não tem um favorito. "São como filhos, amo eles e todos são diferentes", conta.

Cena do filme "Moana: Um Mar de Aventuras" (2016), de Ron Clements e John Musker - Reprodução - Reprodução
"Moana: Um Mar de Aventuras" (2016) foi o último sucesso de John Lasseter
Imagem: Reprodução

Cérebro coletivo

Lasseter desenvolveu um modelo de colaboração que o diferencia de outros chefes de estúdios. Seus criadores fazem parte do que chamam de um grande cérebro coletivo, no qual todos dão ideias e ajudam a resolver problemas de trama de todos os filmes.

Defende também uma intensa pesquisa em cada produção, deixando que seus cineastas invistam anos em seus projetos, especialmente se são sensíveis como "Moana - um Mar de Aventuras" ou a próxima estreia "Viva - A Vida é uma Festa", que foca no Dia dos Mortos do México.

E uma de suas grandes inovações foi acabar com o estereótipo da Disney da princesa em apuros que espera o príncipe para salvá-la, para dar um passo a uma versão feminina mais interessante - como Tiana, em "A Princesa e o Sapo", e a própria Moana, herdeira do chefe de uma tribo na Polinésia - que as crianças podem adotar como modelo.

"É duro trabalhar assim, mas não pegamos o caminho rápido. Nós simplesmente não copiamos uma sequência com a mesma história apenas para ganhar dinheiro. Começamos do zero, com novas emoções. Queremos fazer algo que tenha sentido", destacou. "E hoje estou orgulhoso de levar alegria ao mundo".