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Com incentivos fiscais, estúdio Cinecittà se prepara para retomada

Fachada do Cinecittà, em Roma, na Itália; graças a incetivos fiscais, estúdio planeja ampliar atividades - Divulgação
Fachada do Cinecittà, em Roma, na Itália; graças a incetivos fiscais, estúdio planeja ampliar atividades Imagem: Divulgação

De Roma

15/07/2014 21h32

Um museu, mostras permanentes, um parque temático, novas produções e lançamentos. O Cinecittà percorre uma estrada tortuosa e inovativa, com experimentações e projetos que nunca foram feitos naquela que foi por anos chamada de "Fábrica de Sonhos". No jardim de entrada, o grande busto de Venusia dá as boas-vindas aos visitantes. O objeto construído por Federico Fellini para seu Casanova, agora é a imagem símbolo do estúdio.   

Da mesma forma que os filmes do diretor, onde a estrutura primeiro desponta na água para depois se precipitar inesperadamente no abismo, o Cinecittà nos últimos anos, conheceu tempos bons, com repercussão sobre seus trabalhadores e estruturas, e também o quase abandono. Hoje, graças à intervenção do governo com incentivos fiscais para as grandes produções internacionais e o renovado interesse das câmeras nos estúdio ao leste de Roma, é o momento de mudanças, de virar a página.

O verdadeiro obstáculo na competitividade do Cinecittà é representado não somente pela concorrência internacional, que possui estruturas com melhores incentivos fiscais, mas também pelo desaparecimento da produção industrial de filmes mais autorais na Itália. "Na abertura dos estúdios, entre 1939 e 1940, foram realizados em nossos teatros 66 filmes, com produções que muitas vezes se sobrepunham umas com as outras. Basta pensar em quantas comédias foram produzidas após a guerra, muitas delas gravadas nos estúdios, com cenografia. Talvez o último exemplo de produção cinematográfica italiana seja o spaghetti western.

"Hoje os sistemas produtivos mudaram e os estúdios servem um pouco menos", explica o administrador delegado do Cinecittà Studios, Giuseppe Basso. Dos 20 estúdios que formam o Cinecittà, poucos deles estão em uso. Muitos foram destinados a programas de televisão, que nos últimos anos tem substituído o cinema nos estúdios romanos.   

"Desde 1997, ano da privatização, foram abertos mais cenários do mundo televisivo, que requer uma ocupação constante e longa dos espaços, complexos de escritórios e camarins", afirma Basso. De acordo com o administrador, esta é uma oportunidade para "fazer caixa" e ser capaz, portanto, de competir com estúdios internacionais. "Nos últimos anos sentimos bastante este tipo de concorrência da parte de países que possuem sistemas de incentivos e atrativos muito importantes", diz Basso.   

Centenas de milhares de pessoas migram há três anos para a estrutura da rua Tuscoloana. Cinéfilos, curiosos, mas também famílias e crianças seguem todos os dias as visitas guiadas nos estúdios da Cinecittà, passando ao lado dos teatros históricos, como o número 5, preferido de Federico Fellini. A Broadway de "Gangues de Nova York", criada pelo cenógrafo premiado Oscar Dante Ferreti, é hoje quase irreconhecível. O set construído por Martin Scorsese para seu filme de 2002 já foi desmontado há anos e deu lugar a novas produções cinematográficas ou publicitárias.   

Atravessando aquele que foi o degradado bairro de Five Points, palco dos violentos conflitos entre o grupo de Daniel Day-Lewis e Leonardo DiCaprio, chega-se a grandiosa representação da Roma antiga. O set, que se estende por dois hectares, foi construído para a homônima série televisiva norte-americana e reproduz fielmente a cidade nos tempos de Júlio César, indo desde o Fórum Romano até as casas e oficinas dos artesãos.

Durante a visita guiada, os visitantes podem se deliciar com atores vestidos a caráter. Entre um clique e outro, é possível compreender o trabalho por trás da realização de um filme. Em breve deverá retornar aos estúdios do Cinecittà o produtor Dante Ferretti, encarregado de recriar Clerville, cidade onde será ambientada a série de televisão "Sky", dedicada ao célebre personagem dos quadrinhos Diabolik e apontada como a maior produção italiana de todos os tempos. Serão empregadas cerca de 3 mil pessoas para a realização da produção, que terá um orçamento entre 20 e 22 milhões de euros (cerca de R$60 e 66 milhões).

Mas a verdadeira novidade que acompanha a renovação da Fábrica de Sonhos é a abertura do parque temático, localizado a poucos quilômetros de Roma, na zona do Castelo Romano. Batizado de Cinecittà World, traz a assinatura de Dante Ferretti, autor de cenografias para filmes como "A Invenção de Hugo Cabret" e "O Aviador".

São atrações a alta tecnologia, as montanhas-russas reais e virtuais, espetáculos aquáticos e espaços dedicados aos efeitos especiais do cinema. O parque será um local que acolhe o visitante e o transporta ao imaginário do cinema. Haverá sets cinematográficos onde poderão não apenas se divertirem, mas onde estarão ativamente envolvidos e poderão ser qualquer pessoa: diretor, ator, engenheiro de iluminação.

Não faltarão atrações, algumas únicas no mundo, e espetáculos, mas o ponto forte do Cinecittà World será a atmosfera que haverá no interior da estrutura, o fantástico mundo do cinema. Cenografia, sets e equipamentos complementam o parque de diversões, com montanhas-russas que atravessam velhos saloons ou rápidas cascatas. O "Templo de Moloch", símbolo do filme "Cabiria", faz da entrada do parque o seu tapete vermelho de película e quadros.

A rua principal remete à luz do majestoso set de "Gangue de Nova York" e acompanha os visitantes através de restaurantes e atrações como o "Super Splash" e a "Torre de Caduta" no lombo de um elefante gigante. Não faltam salas de cinema e duelos no estilo western, tudo ao lado de uma gigantesca nave espacial onde se pode embarcar em uma montanha-russa. E todas essas atrações poderão ser desfrutadas muito em breve, já que o Cinecittà World será inaugurado no próximo dia 24 de julho.