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"Acompanhar o Oscar pelo Twitter é como assisti-lo com amigos bêbados", diz humorista

Jake Coyle

Da AP, em Nova York (EUA)

24/02/2013 05h00

Você pode simplesmente assistir ao Oscar. Ou pode acompanhá-lo da geral no Twitter.

Enquanto Hollywood desfila em smokings e vestidos, celebrando a si mesma em grande estilo, uma cacofonia livre de gracejos e sarcasmo –algo como uma versão digital, multiplicada por milhões de Statler e Waldorf, os espectadores velhos no camarote dos Muppets– fornecerá uma contranarrativa bem-vinda e desordeira à pompa.

A experiência de uma segunda tela nunca é melhor do que na noite do Oscar, quando uma experiência de entretenimento separada (e alguns diriam superior) rola nas redes sociais. Os comentários, nos quais humoristas e outros parodiam os astros glamourosos e seus discursos às vezes risíveis, se transformaram em algo tão central à premiação da Academia quanto o tapete vermelho.

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"Acompanhar o Oscar pelo Twitter é como assistir ao programa com cem milhões de amigos bêbados", diz Andy Borowitz, o humorista e autor que frequentemente se destaca no Twitter na noite do Oscar. No ano passado, ele resumiu sucintamente os dois vencedores anteriores do Oscar de Melhor Filme, "O Discurso do Rei" e "O Artista", como "um sujeito inglês que não consegue falar" e "um sujeito francês que ninguém consegue ouvir".

Tuitar ao vivo durante grandes eventos da TV, do Super Bowl (a final do futebol americano) à entrega do Prêmio Grammy, já se tornou parte do nosso hábito de assistir, formando um espaço que reforça a audiência. Mas o fluxo durante o Oscar é particularmente cativante, porque fornece um antídoto para o glamour formal na tela. É como se tivesse não uma tecla "SAP" no seu controle remoto, mas uma "PIADAS", colocando você em contato com as pessoas mais engraçadas no ciberespaço. Os humoristas se reúnem como que por obrigação.

"Você tem que dizer algo. Alguém tem que dizer algo", diz o humorista Billy Eichner. "Ficar lá parado assistindo acontecer é quase tenso demais. É catártico. Você precisa se expressar no Twitter, porque, caso contrário, nós todos ficaremos com o pensamento entalado sobre quão desajeitada Anne Hathaway foi diante de um bilhão de pessoas em tempo real. Eu não invejo o prêmio dado a ela; eu só estou dizendo que ela é uma pessoa ridícula."

Como apresentador do quadro "Billy on the Street" do programa "Funny or Die", exibido pelo canal "Fuse", Eichner entrevista de forma agressiva e cômica as pessoas na rua sobre cultura pop. Logo, ele é particularmente perito em expressar todo tipo de zombaria quando se trata dos astros e estrelas de Hollywood. No circuito de premiações que antecede o Oscar, ele focou em Anne Hathaway, a favorita para levar o Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua interpretação em "Os Miseráveis".

Eichner reconhece em Hathaway uma grande atriz, mas também uma nerd de teatro que se esforça demais. Nada é mais engraçado, ele diz, "do que a mistura de ego e falta de autopercepção, como o discurso de Jodie Foster no Globo de Ouro".

"No final, é engraçado porque a coisa toda é ridícula", diz Eichner. "Tipo, por que não comentar a respeito? Aquilo leva a quê, a não ser comentar?"

O Oscar se transformou em um dos maiores eventos de mídia social do ano. Na transmissão do ano passado, em um momento foi atingido o então recorde de 18.718 tweets por segundo. Um estatueta poderia ser entregue para um novo prêmio: o tweet mais tuitado. Em 2011, essa honra foi para The Onion, que lamentou: "Que rude –nenhum personagem de Toy Story 3 se deu ao trabalho de aparecer".

No ano passado, "O Artista" pode ter se consagrado como melhor filme, mas "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese, o superou facilmente com 110.179 tweets contra 78.509 para "O Artista", segundo o levantamento da TweetReach.

 

 

Neste ano, a Academia fez uma parceria com o Twitter para monitorar as principais categorias com um índice medindo o percentual de tweets positivos sobre os indicados. Liderando até terça-feira não estava o favorito "Argo", nem "Lincoln" de Steven Spielberg, mas sim "O Lado Bom da Vida" de David O. Russell. Assim, se o filme, amplamente considerado um azarão na disputa por melhor filme, vencer no domingo, o Twitter terá previsto.

Mark Ghuneim, presidente-executivo da firma de medição das redes sociais Trendrr, diz que durante o Oscar, o Twitter é um "'Mystery Science Theater 3000' real", referindo-se ao programa cult de TV, onde um homem e dois robôs ajudantes comentam durante a exibição de filmes B.

"É realmente como se você não mais assistisse TV sozinho, se não quiser", diz Ghuneim. "É uma evolução natural na televisão e é por isso que é tão predominante."

Com dados em tempo real de serviços como Trendrr, a conversa do Oscar pode ser monitorada, revelando quais momentos repercutiram mais e provocaram o público. No ano passado, a pose de Angelina Jolie exibindo a perna nua como apresentadora colocou imediatamente o Twitter a mil, gerando várias paródias inspiradas em sua perna direita.

É nesses momentos em que o Twitter se torna parceiro de dança do Oscar. Os espectadores celebram com –e riem da– seriedade de Hollywood, somando para uma experiência de TV maior do que a soma de suas partes.

Quando o 85º Oscar for ao ar no domingo, inúmeros humoristas e outros em casa estarão prontos em seus celulares e notebooks com tweets no espeto.

"Eu só rezo para sobrevivermos ao discurso de Anne Hathaway", diz Eichner, "E, para ser honesto, eu tenho minhas dúvidas."

Tradutor: George El Khouri Andolfato