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Al Pacino rebate "reputação ruim" da velhice com novos filmes em Toronto

Jake Coyle

De Toronto (Canadá)

09/09/2014 19h00

Apresentando um dos dois filmes de Al Pacino no Festival de Toronto, o diretor artístico Cameron Baily observou que talvez seja o caso de o evento criar um "Al Pacino Day", assim como foi feito para Bill Murray.

Aos 74 anos, Pacino estreou seus trabalhos mais recentes no festival, dois filmes em que explora os arrependimentos, ambições e marcas da velhice. Em "Manglehorn", de David Gordon Green, ele interpreta um solitário chaveiro texano, em luto por um romance do passado, apesar do interesse de uma simpática caixa de banco (Holly Hunter). Já em "The Humbling", dirigido por Barry Levinson e adaptado do romance "A Humihação", de Philip Roth, Pacino interpreta um ator de teatro envelhecido, que não se interessa mais por atuar.

"O envelhecimento parece ter ficado com uma reputação um pouco ruim", disse Pacino em uma entrevista. "Tipo, o que você faz agora? Alguém pergunta quantos anos você tem, isso é como dizer quanto tempo me resta. Não posso responder a essa pergunta."

Pacino se manteve particularmente ocupado nos últimos anos, mostrando com personagens mais idosos a mesma curiosidade que levou a papéis mais jovens ou de meia-idade ao longo de sua carreira na tela e no palco.

"Manglehorn" - Divulgação - Divulgação
Al Pacino em cena do filme "Manglehorn"
Imagem: Divulgação

"Nós crescemos em um monte de maneiras diferentes, e se você ouvir seus ciclos ou senti-los, isso te guia", diz Pacino. "Muitas vezes eu não fiz isso, mas estou começando. Essas coisas que estou fazendo são expressões disso. Estou tentando ser consciente. Acho que posso entrar nesse mundo. Há coisas que eu não faria agora que eu teria feito há 20 anos. Eu não as sinto. Não estou lá."

"Manglehorn" ainda não tem uma distribuidora, mas já rendeu a Pacino críticas elogiosas. O jornal The Guardian chamou o filme de "a melhor interpretação de Pacino nos últimos anos." Longe do tipo de filme que a maioria dos septuagenários escolheria, ele evidencia o interesse permanente do ator pela experimentação. Ele não está consolidando um legado, mas continua a expandir os horizontes.

O filme foi feito de forma rápida, entre as filmagens de "The Humbling" (previsto para 21 de novembro nos EUA), projeto que Pacino começou ele mesmo, comprando os direitos do romance.

"Tivemos essa janela de tempo para fazê-lo, e eu sabia que se nós deixássemos para depois, David não iria fazer o filme", diz Pacino. "O qual, antes de tudo, eu amo. Porque ele escreveu para mim."

Green, diretor difícil de definir, que assinou "George Washington" e "Segurando as Pontas", começou a pensar em um filme com Pacino após uma reunião com o ator para tratar de outros assuntos. Ele viu algo no ator que anteriormente não havia sido capturado em seus filmes, e pediu a seu amigo Paul Logan para escrever um roteiro.

"Foi o jeito como ele ouve quando outras pessoas estão falando, e uma verdadeira intensidade nisso, e uma sintonia absoluta", diz Green. "Algo sobre o sorriso estreito, o sulco da sobrancelha."

Poucos atores são mais conhecidos por sua grandeza operística do que Pacino. Mas em "Manglehorn" ele é taciturno e hermético, com toques de Síndrome de Asperger. E está com o coração partido: "Eu não tenho nada além de frustração e decepção", ele pondera em uma das cartas para seu amor perdido.

"Manglehorn" é uma espécie de conto de fadas surreal, que costura cenas absurdas (há um acidente com um caminhão de melancias inspirado em livros infantis de Richard Scarry) para construir misteriosamente uma graça bela e louca. Devagar e sem jeito, o Angelo Manglehorn de Pacino abre as fechaduras para si mesmo.

"Você vê um monte de grandes interpretações de Al que realmente podem te pegar pelo pescoço, ter a ousadia, e te levar a grandes momentos emocionais", diz Green. "Eu queria que este fosse um momento emocional íntimo."

Muito ao contrário de seu personagem em "The Humbling", a paixão de Pacino pela atuação continua firme, assim como a sua vontade de acreditar em um cineasta. Será que Pacino - lenda do cinema americano - sente alguma hesitação quando, em um dos muitos momentos inexplicáveis do filme, Green o colocou no alto de um galho de árvore com um gato?

"Já desisti há muito tempo", diz Pacino. "David faz o que faz e ele tem suas razões para fazê-lo. É nisso que você tem que confiar, e eu confio nele completamente. Você não questiona. É a maneira dele de pintar".