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Brasil é destaque em "degustação de filmes" em Bruxelas

Cena do filme ""Estômago"", do diretor Marcos Jorge - Divulgação
Cena do filme ''Estômago'', do diretor Marcos Jorge Imagem: Divulgação

Márcia Bizzotto

Da BBC, em Bruxelas

24/11/2013 13h27

Um novo festival realizado neste final de semana em Bruxelas aposta na associação de cinema e gastronomia para promover a diversidade cultural mundial e tem o Brasil como um dos quatro países retratados em sua primeira edição. 

A proposta do Festival de Cinema Gastronômico L’Amour Food consiste em exibir cada dia um filme de temática social, com histórias que giram em torno da culinária, enquanto se servem petiscos tradicionais do país de origem da obra. Em seguida, o público é convidado a um jantar no qual são servidos alguns dos pratos que aparecem no enredo.

Na noite de sábado, uma porção de coxinhas de galinha foi servida para acompanhar a projeção do filme brasileiro "Estômago", de Marcos Jorge, que conta a história de um imigrante nordestino que conquista seu espaço graças a suas habilidades culinárias. Parte do público deu risada quando viu aparecer na tela o mesmo salgadinho que acabara de experimentar pela primeira vez.

"Achei divertido reconhecer o prato apresentado no filme e ver como é feito, onde se come", disse à BBC Brasil Irika De Stercke, funcionária pública belga, que também não conhecia o tartar de manga com papaia e cachaça servido em seguida.

Feijoada e aipim frito
O jantar --preparado pelo chef Raphael de Souza, belga de pai brasileiro-- reproduziu a feijoada com arroz branco e aipim frito que aparece em cenas de Estômago. "A ideia é poder comer o que vemos na tela e, assim, entrar na história do filme e estimular o intercâmbio de impressões. A mesa nos convida a partilhar", explicou Konstantinos Tzitros, diretor da associação cultural Kultur'art Bridge, organizadora do evento, em colaboração com o sommelier belga Eric Boschman.

Para este último, tanto a gastronomia como o cinema são "janelas para a identidade sociocultural de cada país" e sua combinação permite "ir além dos estereótipos". "É uma ideia brilhante. É uma oportunidade de conhecer pratos novos, talvez exóticos, dentro do contexto deles, mesmo estando na Bélgica", opinou Paula Calamatta, analista da representação permanente de Malta ante a União Europeia, ante a aprovação das duas amigas que a acompanhavam.

Ao comprar a entrada, o público só conhece o filme que será exibido e sua nacionalidade, mas o cardápio da noite é surpresa. Calamatta, cuja expectativa era comer manga e feijoada, disse que não se decepcionou.

Intimista
"L’Amour Food" foi inspirado nos cinemas ao ar livre, "um ambiente descontraído, onde as pessoas podem comer e conversar enquanto assistem a uma projeção", contou Tzitros em entrevista à BBC Brasil. No entanto, foi concebido como um evento intimista e elitista: uma média de 30 pessoas em cada um de seus quatro dias, com entradas a 60 euros (R$ 183, incluindo filme, aperitivo, jantar e bebidas), vendidas exclusivamente por internet e com antecipação.

"É um pouco como o princípio de um cineclube exclusivo", exemplificou Theodore Galariotis, um dos organizadores em Kultur'art Bridge. "Não queríamos um festival para centenas de pessoas, e sim reunir um pequeno grupo de formadores de opinião, de diferentes nacionalidades, com contatos, para mostrar que a comida faz parte da cultura e é algo que conecta as pessoas, que pode ser uma verdadeira ponte."

O evento termina neste domingo com uma parada na Grécia, depois de ter passado por China e México, além do Brasil. Os países foram escolhidos não por sua culinária, mas por sua situação geográfica, em uma tentativa de "aproximar continentes diferentes", explicou Tzitros, que já elaborou uma lista para outras dez edições do festival, incluindo Índia, Japão, França, Alemanha, Dinamarca e Estados Unidos.

"Tudo vai depender da aceitação do público. Como todo novo festival, ainda há reticências. Mas esperamos que o interesse aumente e que o evento se consolide", disse.