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"Gravidade" é curto demais para ganhar o Oscar de melhor filme?

Divulgação/Warner Bros. Pictures
Imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Stephen Robb

BBC News

01/03/2014 20h14Atualizada em 01/03/2014 20h15

No Oscar, tamanho importa. Na história da corrida pelo prêmio de melhor filme, a duração sugere que se trata mais de uma maratona do que uma prova de velocidade - frequentemente ganha aquele que vai devagar e sempre. O que levanta a questão: o thriller espacial de 91 minutos de duração é curto demais para ganhar?

Uma pergunta rápida sobre cinema: qual foi o filme mais longo e o mais curto a ganharem o Oscar de melhor filme?

Apesar da maioria das pessoas ter boas chances de adivinhar o primeiro, quem identificar corretamente os dois merece um prêmio (mas não se prolongue no seu discurso de agradecimento, senão a banda vai te interromper).

"Afinal, amanhã é outro dia", diz a última fala do ganhador mais longo da história, E O Vento Levou (1939). Não é muito difícil de adivinhar.

O clássico tem quase quatro horas de duração, e os outros concorrentes enchem uma sala de cinema: Lawrence da Arábia (1962), Ben-Hur (1959) e O Poderoso Chefão 2 (1974) têm mais de 200 minutos. Muitos dos vencedores ficam em torno da marca de três horas.

No entanto, a maioria das pessoas teria dificuldade para sequer dar um palpite sobre o filme mais curto a ganhar o prêmio de melhor filme.

Isso em parte porque Marty (1955), que dura apenas 90 minutos, caiu no esquecimento nos dias de hoje, mas também porque o maior prêmio do cinema só foi conferido a outros dois filmes com menos de 100 minutos: Noivo neurótico, Noiva nervosa (1977; 93 minutos) e Conduzindo Miss Daisy (1989; 99 minutos).

Criando universos

A vitória de E O Vento Levou sobre O Mágico de Oz (1939) foi considerada pela revista Empire uma das injustiças do Oscar, apesar de Phil de Samlyen, jornalista e autor da lista, admitir que o primeiro filme pode ser visto com o arquétipo do ganhador de melhor filme.

Adaptações de obras literárias respeitadas, filmes sobre a vida de pessoas históricas e filmes que tratam de questões sérias tendem a sair-se bem. E, como os atores são maioria entre quem vota no Oscar, também vão bem filmes com interpretações brilhantes.

"Os membros da Academia precisam ir ao banheiro como todos nós. Não acredito que eles fiquem ansiosos por filmes longos", escreve De Samlyen. "Talvez o motivo de eles ganharem é que esse tipo de filme tem as características que o Oscar gosta."

 

Apesar da duração média variar entre 90 minutos e duas horas, a média dos ganhadores de melhor filme são consideravelmente mais longos, com cerca de duas horas e 20 minutos.

"Eles tendem a ser filmes de peso ou épicos", diz Helen O'Hara, também da Empire, para quem "uma certa duração é necessária para criar o universo" em que se passa um filme.

'Obra-prima técnica'

Gravidade está muito distante destes filmes em muitos aspectos, com seu elenco pequeno, poucos diálogos e uma duração que permitiria assisti-lo duas vezes no mesmo tempo exigido para ver um filme como Gandhi (1982) - e ainda ter alguns minutos de sobre para limpar o óculos 3D.

Nas críticas, o filme de Alfonso Cuarón foi elogiado como "admiravelmente conciso", por sua "pureza, clareza, brevidade e, acima de tudo, simplicidade", por sua "forma de contar a história tão simples quanto é complexo o seu visual".

São ótimas críticas, mas são todos atributos que sugerem que Gravidade é a antítese dos vencedores do Oscar.

Ele corre o risco de ser visto como um filme leve, segundo os últimos 85 anos de evidências - como se a ele faltasse, bem, "peso".

O'Hara o descreve como uma "realização admirável", destacando que seus produtores gastaram anos aperfeiçoando a tecnologia necessária para retratar um ambiente de gravidade zero antes de poderem fazer o filme.

Mas filmes com muitos efeitos visuais tendem a ser menos respeitados, e suas conquistas serem vistas com desconfiança pela academia em comparação com filmes mais tradicionais, segundo O'Hara. Talvez, por motivos parecidos, nenhuma animação ganhou um Oscar de melhor filme.

"O fato de ele (Gravidade) ser uma obra-prima técnica depõe contra ele. Inovação não ganha Oscar", afirma.

Então, apesar do sucesso de crítica e comercial de Gravidade ao redor do mundo e sua galáxia de nomeações e prêmios na temporada de premiações, o filme pode não ter o conteúdo necessário para obter o prêmio mais brilhante de todos.

Entrando em forma

Uma tendência recente de ganhadores mais curtos sugere, no entanto, que agora é uma hora favorável para um filme pequeno mas tão bem feito como Gravidade.

Nos anos 1990, a média dos ganhadores que tinham mais  e duas horas e meia de duração fez da década a mais cansativa na história do Oscar, com épicos como Coração Valente (1995) e O Paciente Inglês (1996) entre os vencedores.

E, se você pensa que esses dois eram longos, eles não estavam nem entre os três melhores filmes mais longos da década, em que também ganharam A Lista de Schindler (1993; 195 minutos), Titanic (1997; 194 minutos) e Dança com Lobos (1990; 181 minutos).

Desde aqueles dias de filmes inchados dos anos 1990, no entanto, os vencedores estão entrando em forma e cortando minutos.

Nos anos 2000, houve três ganhadores com duas horas ou menos, a primeira vez que isso ocorreu desde os anos 1970.

Nesta década, até agora, todos os três ganhadores - O Discurso do Rei (2010), O Artista (2011) e Argo (2012) - foram filmes menos grandiosos, com duas horas ou menos.

O indicado deste ano de maior duração, de três horas, é O Lobo de Wall Street, de Martin Scorcese, diretor veterano que tem feito filmes cada vez mais longos.

"Vamos terminar esse show em três horas - ou como Martin Scorcese diz, em um ato", brincou a atriz Tina Fey no Globo de Ouro.

"Temos que equacionar o longo com o sério, e muitos editores preferem encher linguiça do que editar", diz Amanda Dobbins, da revista New York, em um artigo entitulado Salve Gravidade, o filme do Oscar de 91 minutos.

Mesmo com sua curta duração, Gravidade traz aspectos que agradam à Academia: temas universais como dor, cura e sobrevivência, além de um belo visual.

Dobbins, ao argumentar que o filme é tão importante quanto uma obra 80 minutos mais longa, diz: "Como entusiasta do limite de tempo, torço por Gravidade,  prova de que épicos não precisam parecer não ter fim."

Mas após a breve, mas brutal dificuldade na qual Gravidade coloca a personagem principal - interpretada por Sandra Bullock -, o filme enfrenta sua própria batalha contra as probabilidades. A personagem teve um final triunfal, mas será que o filme conseguirá o mesmo para si na noite do Oscar?