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"Foi natural me apaixonar pelo cinema", diz líder do Belle and Sebastian

Cena do filme "God Help The Girl", dirigido por Stuart Murdoch, do Belle and Sebastian - Reprodução
Cena do filme "God Help The Girl", dirigido por Stuart Murdoch, do Belle and Sebastian Imagem: Reprodução

Marco Sanchez

De Berlim (Alemanha)

12/02/2014 20h25

Em seus quase 20 anos de carreira, os escoceses do Belle and Sebastian construíram um universo musical recheado de referências cinematográficas e literárias, contando histórias de extraordinários jovens comuns, embaladas em deliciosas canções pop.

Em uma manhã, Stuart Murdoch, líder da banda, saiu para correr e ouviu em sua cabeça uma melodia cantada por uma voz feminina. Essa voz se transformou na personagem Eve. E assim nasceu "God Help the Girl", primeiro filme do escocês, que teve sua estreia europeia no Festival de Berlim deste ano.

Murdoch começou a escrever canções para essa voz e o roteiro do filme. Antes de chegar as telonas, "God Help the Girl" se tornou uma banda, juntando membros do Belle and Sebastian e a vocalista Catherine Ireton, além de outras convidadas.

As músicas do projeto dão o tom do filme que conta a história de Eve (Emily Browning), uma jovem que em sua luta contra a anorexia descobre sua redenção através da música. O despertar da jovem acontece depois que ela conhece o músico James (Olly Alexander), um fervoroso fã do poder da música pop. Ao lado de Cassie (Hannah Murray), eles montam uma banda e vivem um verão de descobertas e aventuras em uma ensolarada Glasgow.

Em entrevista à DW Brasil e a um grupo de jornalistas estrangeiros, Murdoch falou sobre o processo de construção do filme, o mundo do cinema e o Belle and Sebastian.

Deutsche Welle - O quanto autobiográfico é "God Help the Girl"?
Stuart Murdoch -
Tem um pouco de mim em Eve e James, talvez não tanto em Cassie. Eles têm algumas experiências semelhantes às minhas, mas eu nunca poderia ter escrito esse filme em 1989 ou 2001. Quando eu senti a personagem Eve, ela se tornou real. Ela cantava aquela música para mim. Talvez, de alguma maneira estranha, ela tenha vindo de algum lugar no meu passado.

Como foi se expressar através de uma voz feminina?
Foi fácil e de alguma maneira me libertou para escrever o filme. Essa personagem surgiu e pediu que eu me expressasse através dela, o que foi algo novo para mim. Escrevi através das canções, quando comecei a escrever, sabia o que ela iria dizer.

No final dos anos 1980, você foi diagnosticado com síndrome de fatiga crônica. Você usou sua experiência na construção de Eve?
Em certo momento do filme, a médica desenha uma pirâmide de passos para Eve. Um psiquiatra já desenhou aquilo para mim. Quando você é jovem, você lê Dostoievski e fica muito triste e abalado. Tudo é difícil, os adultos são horríveis, você não quer trabalhar ou viver. Quando eu estava mal alguém me explicou que a vida era como essa pirâmide. Primeiro precisamos cuidar de nós mesmo, depois de nossa saúde social para podermos criar.

Como foi a escolha de Emily Browning para viver a personagem?
A coisa mais importante do filme é o elenco, ainda mais para um diretor estreante. Duas mil pessoas fizeram o teste para viver Eve. Emily é sólida e profissional, além de se parecer muito com Eve. Ela não tem casa, meio que vive no mundo. Nunca respondia meus emails ou ligações, mas aparecia na filmagem, como Eve se comportaria no mundo real. Sabia que ela era a pessoa certa.

Você considerou Catherine Ireton para o papel?
Até duas semanas antes da filmagem, ela era nossa segunda opção, o que foi até um pouco injusto com ela, que foi muito importante para todo o processo, mas sentimos que precisávamos de outra pessoa. Eve precisava ser um pouco mais jovem no filme.

Para um compositor, foi difícil o processo de escrever um roteiro?
O mais importante é criar os personagens, depois é só deixar eles falaram. Tenho certeza que o Wes (Anderson) cria fortes personagens e escuta o que eles têm a dizer. Escrevi páginas de Eve e Cassie falando bobagem, que não entraram na versão final do roteiro.

No filme, James diz "você não faz a banda, mas a banda faz você". Você concorda com ele?
Não concordo com tudo que ele diz. Ele gosta de se sentir importante nas conversas com Eve e Cassie. Uma banda é uma força. Eu amo a minha. Não seria nada sem o Belle and Sebastian. Nesse ponto concordo com ele.

Você está constantemente feliz com o Belle and Sebastian?
Temos uma boa relação. Costumávamos brigar muito, e algumas pessoas saíram da banda. Nunca se envolva romanticamente com alguém da sua banda, é uma péssima ideia.

O que veio antes, seu amor por cinema ou pela música?
Pela música, mas quando comecei a banda, parei de ouvir música e comecei a assistir muitos filmes. Depois dos shows voltava para casa e via filmes como A Garota de Rosa Choque ou Nos Tempos da Brilhantina, que foram algumas das minhas referências. Foi natural me apaixonar pelo cinema.

Você pretende fazer mais filmes?
Claro. A música pop é limitada, algo fácil de se fazer quando você é jovem. Com no cinema a palheta é infinita, você pode falar de tudo. O formato é mais maduro para explorar a natureza humana.

O que você se lembra das passagens do Belle and Sebastian pelo Brasil?
Os shows no Rio e em São Paulo estão entre as melhores experiências que já tivemos em cima de um palco. Toda vez que estamos lá o público é um dos melhores do mundo.

Planos para um novo disco do Belle and Sebastian?
Já temos as músicas prontas para o novo disco. Vamos entrar no estúdio no mês que vem em Atlanta, nos Estados Unidos. O álbum deve sair ainda neste ano.

Você pretende continuar com o God Help the Girl?
Se eu me inspirar em escrever musicas para vozes femininas e o público se interessar, talvez eu grave outro álbum.