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Cinema chinês: entre seguir o caminho de Hollywood e manter as raízes

Xavier Fontdeglòria

09/01/2013 07h51

 Após décadas em que ir ao cinema significava assistir a um filme escolhido pelas autoridades, a parcial liberalização do setor favoreceu a projeção de produções estrangeiras e exige da indústria doméstica uma certa regeneração para se conectar com as novas demandas do público chinês.

A indústria cinematográfica do gigante asiático está registrando os maiores crescimentos de receita de todo o mundo, e em 2012 arrecadou US$ 2,693 bilhões, o que se traduz em um aumento de 28,2% com relação ao ano anterior.

Perante esse auge do setor, as produtoras e os cineastas estrangeiros já demonstraram seu interesse em obter uma parcela desse mercado emergente, algo que já alcançaram este ano, quando o Governo chinês decidiu ampliar de 20 para 34 a cota máxima de filmes estrangeiros com permissão para ser projetados.

De fato, e pela primeira vez em quatro anos, a arrecadação das produções domésticas foi inferior às estrangeiras, apesar do enorme sucesso da comédia de baixo custo chinesa "Lost in Thailand", que terminou o ano passado como o filme mais visto.

"O filme tem êxito porque dá à audiência chinesa o que ela quer: atores populares, diálogos divertidos, bons momentos e um reflexo deles mesmos", disse à agência oficial "Xinhua" o presidente da Academia de Cinema de Pequim, Zhang Huijun.

"Em certa medida, seu sucesso salvou a situação débil dos filmes domésticos", acrescentou.

O caso é que, fora "Lost in Thailand", poucos longas-metragens chineses captaram a atenção do público, já que, desde vários setores, se considera que o cinema chinês conta com uma forte carga ideológica, política e que é "de pouca qualidade" em comparação com o de outros países.

Por outro lado, as superproduções de Hollywood cativam o público jovem das cidades chinesas que vai ao cinema buscando se divertir e que, cada vez mais, gosta de poder escolher entre uma oferta mais global.

Um professor da Academia de Cinema de Pequim, Hao Jian, assegurou à Agência Efe que a influência dos filmes estrangeiros no povo chinês é "muito boa", já que, segundo sua opinião, "transmitem valores como a individualidade, a liberdade, os sonhos e o amor", enquanto muitos dos longas produzidos na China "são propaganda e querem controlar os pensamentos do povo".

Uma das grandes apostas do ano da indústria chinesa era o longa "Back to 1942", do popular diretor chinês Feng Xiaogang, que trata da crise de fome vivida na província de Henan durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua arrecadação foi muito inferior à esperada.

Em um momento de transição para alguns e de captação de novos mercados para outros, várias companhias cinematográficas americanas chegaram a acordos com empresas chinesas para produzir novos filmes nos próximos anos.

Em maio, a News Corp. (DreamWorks) comprou 20% da local Bona Film Group e anunciou a co-produção do novo filme da série "Kung Fu Panda" na China, enquanto a Walt Disney também criará parte do próximo "O Homem de Ferro" em parceria com um sócio chinês.

Além disso, o famoso diretor James Cameron inaugurou há poucos meses uma filial de sua companhia na China, que, embora não participe diretamente da produção de filmes, oferece aos cineastas chineses a tecnologia necessária para realizar filmes em 3D.

"Por enquanto, os estrangeiros que queiram participar do cinema chinês optarão sempre por temas que possam passar pelos filtros da censura", insiste Hao, que somente vê possibilidades de internacionalizar os filmes do gigante asiático se for suprimido o controle das autoridades.

"O cinema bom, aquele que é almejado pelos chineses, é o cinema livre", concluiu o professor.