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Bollywood celebra 100 anos com "cinema de evasão" e romances

Cena do western indiano "Sholay"  - Divulgação
Cena do western indiano "Sholay" Imagem: Divulgação

22/02/2013 07h50

A indústria do cinema indiano, tida como a maior do mundo e conhecida como Bollywood, completa 100 anos oferecendo evasão e deuses laicos, além de assumir um papel de conciliação em um país composto por diferentes religiões, línguas e culturas.

A grande paixão popular da Índia foi iniciada em maio de 1913, com a estreia do filme "Rei Harishchandra", dirigido por Dadasaheb Phalke, que retrata de forma épica os textos sagrados hindus na cidade de Mumbai, desde então considerada a Meca do cinema indiano.

A chegada do som em 1931, com "Alam Ara", uma história de amor entre uma cigana e um príncipe, ajudou a definir as bases do cinema na Índia, que, desde a década de 1940, passou a adotar uma fórmula infalível de canções, danças, romances, dramas e fantasias.

Embora a fórmula se repita com sucesso, a temática evoluiu muito com o tempo, passando de temas sociais ao "cinema de evasão" que hoje predomina em Bollywood.

"Nos anos 50 e 60, o cinema refletia o idealismo dos indianos após a independência do Reino Unido, quando todos buscavam uma sociedade mais justa", explicou Dilip Mehta, autor de filmes como "Cozinhando com Stella".

O filme "Mother India", de 1957, que relata os sofrimentos cotidianos de qualquer indiano refletidas na pele de uma mulher, é um exemplo bem significativo desse chamado "cinema social".

"Já nos anos 70, o cinema se industrializa e começa a oferecer o que chamamos de cinema de evasão", prosseguiu o cineasta, que acrescentou: "Hoje os espectadores querem fugir da realidade nas salas de cinema".

Amitabh Bachchan, talvez a maior estrela de Bollywood, se tornou um grande astro encarnando heróis de favelas que travavam inúmeras brigas com fazendeiros e políticos corruptos nos anos 50, enquanto, na atualidade, o mesmo costuma aparecer em papéis mais conservadores.

Segundo Mehta, o cinema indiano atualmente se apresenta como um cinema de corte conservador e conformista, ou seja, aquele que reforça os valores mais tradicionais.

No entanto, os cineastas indianos também quebram barreiras do que é socialmente aceitável, como o filme "Kismet", que narra a história de uma gravidez fora do casamento.

Mais recentemente, filmes como "Três Idiotas" também conseguiram combinar o êxito nas bilheterias e reflexões sobre educação. "Foi um sucesso porque era divertido, mas também porque existe uma frustração entre os jovens relacionada ao sistema educacional", afirmou Mehta.

"Dunno Y... Na Jaane Kyun" é um marco no cinema indiano por ter apresentado o primeiro beijo gay em 2010 e sem que o mesmo causasse incidente, como ocorreu com o filme "Fogo", lançado pelo próprio Deepa Mehta em 1996. Na ocasião, por conta do possível conteúdo homossexual do filme, algumas salas de cinema chegaram a ser queimadas no país.

O romance e o casamento por amor também ocupa um grande território cinematográfico no país, onde aproximadamente 90% dos indianos ainda optam pelo casamento arranjado.

"A fantasia do casamento por amor reina em Bollywood e é exposta como um verdadeiro caminho à felicidade conjugal", declarou o psicólogo Sudhir Kakar.

Além de oferecer fugas da realidade e romance, o cinema indiano também desenvolve um importante papel de conciliação em um país que conta com 22 línguas oficiais, várias religiões e culturas.

"O cinema de Bollywood é seguido por indianos de todas as idades, gêneros, castas, religiões e grupos linguísticos , comentou o compositor de trilhas sonoras Javed Akhtar, que completou: "O cinema híndi também pode ser considerado como outro estado do país".

O cinema indiano chega ao seu centenário com uma produção de mais de mil filmes por ano e quase 3 bilhões de ingressos, números que tendem a aumentar com o crescimento previsto para a indústria - de 13,2% até 2015, segundo a empresa de consultoria Pwc.

Uma indústria que resiste aos ataques de Hollywood, que, apesar de ter dobrado sua bilheteria na Índia em 2011, só conseguiu 6,8% da arrecadação local neste ano, apesar de suas grandes produções já terem se adaptado às línguas indianas, como híndi, tâmil e telugu. 
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