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Cacá Diegues: "É preciso que as pessoas descubram o cinema brasileiro"

Cacá Diegues é premiado no Festa Nacional da Música, em Canela, Rio Grande do Sul (22/10/12) - Graça Paes/Foto Rio News
Cacá Diegues é premiado no Festa Nacional da Música, em Canela, Rio Grande do Sul (22/10/12) Imagem: Graça Paes/Foto Rio News

Luis Miguel Pascual

20/04/2013 21h59

Paris, 20 abr (EFE).- O cineasta Cacá Diegues é o padrinho do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, cidade que o acolheu no final dos anos 60 quando fugiu da ditadura, e à qual volta com uma mensagem de esperança para o cinema de seu país, que quer divulgar ao mundo, convencido de que surpreenderá por sua qualidade.

"É preciso que as pessoas de todo o mundo descubra o cinema brasileiro. Nem tudo é bom, mas há filmes de muito boa qualidade que não chegam a muitos países por um problema de distribuição, por causa dessa concorrência permanente com o cinema dos Estados Unidos", afirmou à Agência Efe o diretor que está a ponto de completar 73 anos.

Pai do chamado "Cinema Novo", que revolucionou a sétima arte no Brasil com um verniz social e ligado à realidade, Diegues mostra confiança em seus sucessores, dos quais diz que continuaram "fazendo um cinema humanista, que é o valor mais importante de todos".

"Não se pode fazer o mesmo cinema de há 50 anos, mas a jovem geração manteve o gosto por falar da realidade, essa visão das coisas que sucedem em seu entorno, essa visão social", afirma.

Afastado da primeira linha da direção, Diegues se deleita com a produção atual de seu país, reflexo, afirma, de um país em constante mutação, onde as mudanças são frenéticas na sociedade e no cinema.

"Nós éramos muito poucos e todos fazíamos um cinema com o mesmo sabor. Agora há mais diversidade. Não só se faz cinema em São Paulo e Rio de Janeiro, também há escolas regionais. Há muita variedade geracional e temática", assegura Diegues.

O cineasta adverte que "nem tudo o que se faz é bom", mas convida a descobrir "alguns filmes de muita qualidade, surpreendentes, que falam da realidade brasileira".

Em particular convida a descobrir "O Som ao Redor", estreia de Kléber Mendonça, um jovem cineasta que "fala do que acontece na classe média brasileira que ascende".

Diegues assegura que há no Brasil uma centena de diretores que apresentam produções muito diferentes, "desde comédias que fazem com que o público descubra o cinema até obras mais profundas e comprometidas".

Um reflexo das mudanças vertiginosas que o Brasil viveu em 20 anos, um Brasil que, segundo o cineasta, "está em uma boa direção", embora "não deva perder a perspectiva, porque pode ser que não chegue aonde quer ir".

"Os brasileiros têm a sensação de que o país muda muito, mas em geral o povo quer mais mudança", afirma o diretor, que diz que "não se deve ser pessimista, mas é preciso se manter atento".

Enquanto isso, Diegues volta a Paris, onde o Festival o homenageia projetando alguns de seus filmes, como "O Maior Amor do Mundo", "Xica da Silva" e "Deus É Brasileiro".

O cineasta lembra de sua chegada à capital francesa "com cerca de 20 anos e um gosto cinematográfico por forjar".

"Entrei em contato com o cinema francês e o italiano. Do Neo-realismo italiano aprendi a fazer cinema real. A 'Nouvelle Vague' me mostrou uma forma de fazer cinema que adaptamos ao Brasil", relembra.

Entusiasmado por François Truffaut, Diegues entrou totalmente na geração do cinema francês que estava de moda naqueles anos e descobriu também seus precursores, como Jean Renoir, do qual assegura que continua sendo uma de suas referências.

"Não copiamos seus temas nem seus conteúdos, o que nos impressionou foi a forma como faziam filmes, como tinham se libertado do cinema de estúdio, das câmeras pesadas. Acho que o cinema francês levou o cinema para a rua e isso foi muito importante para nós, que vínhamos do Brasil, um país que então era muito subdesenvolvido", comenta.