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Documentário afirma ter descoberto soldado americano perdido há 44 anos no Vietnã

Sargento John Harley Robertson, nos anos 60 - Reprodução
Sargento John Harley Robertson, nos anos 60 Imagem: Reprodução

02/05/2013 07h38

Durante 44 anos, os Estados Unidos acreditaram que o sargento do exército John Harley Robertson tinha morrido em 1968 em uma ação no Laos, mas agora o documentário "Unclaimed", que estreou no festival Hot Docs, afirma que ele viveu todo este tempo esquecido no Vietnã. O governo dos Estados Unidos nega que o homem que aparece no filme seja o soldado.

Robertson foi um soldado da unidade de Green Berets, forças especiais do exército, casado e com duas filhas, cujo helicóptero foi derrubado pela guerrilha vietnamita em 20 de maio de 1968 enquanto realizava uma missão secreta no Laos.

O exército americano, que estava em guerra contra as linhas de abastecimento da guerrilha Frente Nacional para a Libertação do Vietnã, foi incapaz de lançar uma missão de busca de sobreviventes. Robertson foi declarado desaparecido em ação e finalmente, em 1976, oficialmente dado como morto em combate.

Seu nome é um dos mais de 60 mil inscritos no monumento de Washington que presta homenagem aos soldados americanos mortos na Guerra do Vietnã.

Mas segundo o diretor canadense Michael Jorgensen, que realizou na noite de terça-feira a estreia mundial de "Unclaimed" em Toronto, Robertson não morreu no ataque a seu helicóptero, mas durante os últimos 44 anos viveu quase sem memória de seu passado e esquecido pelos Estados Unidos em uma remota área rural do Vietnã.

Segundo o documentário, após sobreviver ao ataque e ferido, Robertson foi capturado por guerrilheiros vietnamitas que o acusaram de ser um espião da CIA e o torturaram sistematicamente durante quatro anos.

"Me fecharam, no alto da floresta, em uma jaula. A tortura e a fome faziam com que perdesse a consciência regularmente. O soldado norte-vietnamita me batia na cabeça com um pedaço de madeira, gritando 'americano'. E me batia outra vez mais forte. Pensei que morreria. Nunca disse nada, apesar da tortura", diz Robertson no filme.

Apesar de meses de cativeiro e maus-tratos, que o deixaram com uma condição física e mental crítica, Robertson escapou. Durante um tempo, se escondeu na floresta até que foi descoberto pela viúva de um soldado vietnamita leal ao governo apoiado pelos Estados Unidos.

A mulher, enfermeira de profissão, o protegeu e cuidou de seus ferimentos. Segundo o documentário, Robertson assumiu a identidade de seu marido morto, Dan Tan Ngoc, se declarou vietnamita de origem francesa e teve quatro filhos com sua nova esposa.

Segundo o diretor do filme, Robertson sente "uma incrível lealdade" à mulher que o salvou de uma provável morte.

Durante décadas, Robertson viveu a vida de um camponês vietnamita até que, em 2008, Tom Faunce, um veterano americano dedicado a buscar centenas de soldados americanos desaparecidos durante a Guerra do Vietnã, o localizou.

No entanto, Robertson mostrava os primeiros traços de demência e tinha esquecido inclusive o idioma inglês.

"É a síndrome da segunda linguagem", explica o psicólogo da Universidade de Alberta (Canadá) Martin Mrazik, entrevistado no documentário por Jorgensen.

Após entrevistar Robertson, Faunce teve certeza de que o camponês vietnamita era na realidade o soldado das forças especiais americanas esquecido por todos no interior do Vietnã.

Faunce convenceu Jorgensen, e os dois começaram a investigar a história de Robertson. Um dos soldados que conheceu Robertson, Ed Mahoney, viajou com Faunce e Jorgenson ao Vietnã e reconheceu imediatamente seu antigo companheiro.

O diretor e o ativista americano conseguiram fazer com que Robertson extraísse um molar para analisá-lo e provar que seu proprietário tinha crescido nos Estados Unidos.

Em 2010, Robertson foi à embaixada dos Estados Unidos no Vietnã para tentar obter sua identificação através de suas impressões digitais. A resposta que Faunce recebeu das autoridades americanas é que "não há suficientes provas que demonstrem que ele é John Hartley Robertson".

O único exame que serve como prova é o que permite comparar seu DNA com o de parentes vivos. Mas as duas filhas americanas de Robertson se negaram a passar pelo teste.

Segundo Jorgensen, embora uma das filhas de Robertson tenha aceitado inicialmente realizar o exame, pouco após se reunir com o general das forças especiais dos Estados Unidos Ed Reeder, mudou de opinião.

A outra possibilidade é um teste de DNA da única irmã viva de Robertson, Jean Robertson-Holley, de 80 anos de idade.

Mas depois de Faunce e Jorgensen reunirem John e Jean no Canadá em 2012, uma das cenas mais emocionantes do filme, a irmã de Robertson não teve nenhuma dúvida de que o camponês vietnamita é mesmo seu irmão.

EUA negam que homem seja soldado
Washington negou nesta quinta-feira (2) que o homem que aparece no documentário "Unclaimed" seja o soldado John Harley Robertson.

Para o governo americano, o homem que aparece no documentário em um encontro emocionado com a irmã de Robertson não é o soldado, e sim um vietnamita. O Departamento da Defesa afirma que o submeteu a um teste de DNA, que comprova sua afirmação.

"Investigamos todas as alegações e supostos testemunhos visuais vinculados a Robertson e o consideramos falsos", afirma um comunicado transmitido à AFP pela embaixada americana em Hanói.

O cineasta afirma em sua página do Facebook que o filme "não foi produzido para ajudar a realizar uma fraude ou falsificar a identidade de ninguém".

"O filme permitiu reunir uma família com um homem que identificaram como o seu John H. Robertson, apesar do governo americano afirmar o contrário", completa.

A guerra do Vietnã (quase 60.000 mortos e desaparecidos entre 1963 e 1973) foi uma das mais violentas para os Estados Unidos, ao lado da guerra da Coreia (44.000 mortos e desaparecidos de 1950 a 1953), desde a Segunda Guerra Mundial, que matou mais de 400.000 americanos de 1941 a 1945.

O conflito mais letal para os americanos foi a guerra de Secessão, que deixou 600.000 mortos de 1861 a 1865.

*Com informações da AFP