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"Sexo assusta mais do que violência nos EUA", diz Ethan Hawke na pré-estreia de "The Purge"

Ethan Hawke em cena de "Antes da Meia-Noite" - Divulgação
Ethan Hawke em cena de "Antes da Meia-Noite" Imagem: Divulgação

Antonio Martín Guirado

Los Angeles

31/05/2013 07h50

Ethan Hawke, capaz de tocar o coração do público com a série "Antes do Amanhecer" e de gelar seu sangue com arma em punho em "Dia de Treinamento", afirmou que "o sexo assusta mais que a violência nos Estados Unidos", já que dois de seus novos filmes ganharam restrições para menores de 18 anos.

"A relação de nosso país com o sexo e a violência é um mistério fascinante para mim", disse o ator de 42 anos a um pequeno grupo de veículos de imprensa, entre eles a Agência Efe, na pré-estreia do filme "The Purge", que chegará às salas no dia 7 de junho.

"O puritanismo e o liberalismo andam de mãos dadas. Dei entrevistas sobre 'Antes da Meia-Noite' - que estreou na semana passada - e só os americanos me perguntavam sobre os seios de Julie Delpy - sua parceira em toda a saga -, como se fossem crianças pequenas que nunca viram um. E por causa de um peito a fita ganhou a mesma restrição que 'The Purge', um filme aterrorizante", brincou.

"Vejo filmes com meu próprio filho não recomendados para menores de 13 anos onde há centenas de mortos, mas o sexo e a intimidade nos assustam como sociedade. Não entendo a razão", analisou o ator

The Purge | Trailer 1 e outros vídeos - TV UOL

"The Purge"
O filme "The Purge" propõe uma premissa sugestiva e provocadora. O ano é 2022 e o governo americano, após praticamente eliminar a violência das ruas, estabelece um período de 12 horas seguidas por ano em que qualquer atividade criminosa, incluído o assassinato, é permitida pela lei.

Mas não é só isso. A polícia não responde a nenhuma emergência e os hospitais suspendem o atendimento.

O objetivo é permitir uma catarse da tensão e do ódio acumulados, principalmente canalizados no extermínio dos mais pobres, os que menos contribuem para uma sociedade repleta de novos ricos.

Pessoalmente, preferiria que ninguém tivesse armas. Assim não teríamos que nos preocupar com nada. Essa é minha teoria, mas nos EUA existe o pensamento de que quanto mais guerras e mais armas houver, mais seguro o povo estará. Eu não vejo assim

Ethan Hawke

Sob essas circunstâncias, os membros de uma família descobrirão até que limites chegarão para se proteger de um grupo de acossadores que pretende invadir sua casa.

Dirigida e escrita por James DeMonaco, o filme dá forma a uma reflexão sobre a violência em um país que nos últimos meses viveu constantes episódios trágicos.

"Pessoalmente, preferiria que ninguém tivesse armas. Assim não teríamos que nos preocupar com nada. Essa é minha teoria, mas nos EUA existe o pensamento de que quanto mais guerras e mais armas houver, mais seguro o povo estará. Eu não vejo assim", declarou o protagonista de "O Senhor das Armas" (2005).

Hawke é consciente que o filme "é hiperviolento", mas considera que através dessas imagens é lançada uma mensagem clara de antiviolência.

"Sei que é quase como um oxímoro, mas acho que o filme põe o dedo na ferida. Um afro-americano entrar em uma casa e ser baleado não me soa como ficção científica. O caso de Trayvon Martin - o adolescente negro baleado por um vigilante em 2012 - ocorreu durante a filmagem. Nosso país está obcecado com a violência e o direito a protegê-la. Se você não pensa assim, te chamam de antipatriota", opinou.

Essa capacidade do roteiro de extrair uma parte da realidade e exagerá-la até fazer com que o espectador se faça certas perguntas no final da projeção faz com que a história, na opinião do ator, lembre as imaginadas por Philip K. Dick em seus romances futuristas.

Hawke lamenta que a história da humanidade esteja ligada à da violência, mas prefere ser otimista.

"Aquilo que nos dá medo nos fascina. Para cada louco como os de Boston há centenas ou milhares de pessoas que tentariam impedir barbaridades assim. A violência acontece. Está em nossas vidas. Mas não nos define", comentou.

Pai de quatro filhos, o ator reconhece que por suas crianças faria "o que fosse", e por isso não gosta imaginar como reagiria se enfrentasse uma situação desse tipo na vida real.

"Uma família ameaçada é o maior medo para qualquer um. É um pesadelo. Pensar nisso simplesmente me petrifica", declarou Hawke, cuja carreira sempre tomou rumos muito próximos ao cinema independente. E a sua é uma decisão consciente.

"A liberdade criativa sempre me interessou", apontou. "Quanto mais pagam, menos liberdade você tem. Estou nisso há mais de 20 anos e evitei me converter em algo determinado. Não quero que as pessoas me apontem e digam: 'Olha o Batman!'. Sempre tentei fazer coisas que me interessam de verdade, e algumas vezes não funcionaram. Mas para mim o sucesso é trabalhar no que me atrai", concluiu.