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Difícil futuro da juventude espanhola é retratado no cinema na Mostra de SP

Cena do filme "Formosa Juventude" - Divulgação
Cena do filme "Formosa Juventude" Imagem: Divulgação

Alba Gil

De São Paulo

28/10/2014 17h57

O desolador retrato do futuro no horizonte da juventude espanhola será exibido ao público brasileiro, que enfrenta uma realidade não tão distante, pelas lentes do diretor Jaime Rosales, em "Formosa Juventude".

O filme, que fala sobre o aqui e o agora de uma geração cheia de incertezas, será apresentado por Ingrid García Jonsson, a protagonista, na 38ª Mostra de Cinema de São Paulo.

Após passar pelo festival de Cannes, "Formosa Juventude" aproxima a América Latina de uma angustiante realidade de quem descobre que, talvez, nunca conquistará um trabalho que permita viver com dignidade.

"Não acho que este filme vá mudar nada", desabafou Ingrid em entrevista à Agência Efe.

"Tomara que mudasse mais as coisas, mas acho que ficará a reflexão para os poucos que verem o filme e voltarão pensando para casa", acrescentou a jovem atriz, de 23 anos.

Ingrid destacou a importância de "dar vida no cinema a este tipo de gente", um espaço que não têm na vida real porque "às pessoas não gostam que ninguém saiba que vão mal".

Filha de uma sueca e um espanhol, Ingrid interpreta Natalia, uma menina sem estudos, sem trabalho e sem dinheiro que luta para sobreviver em uma Espanha imersa na crise.

Mas além da estampa, a sutileza dos detalhes contrasta com a dureza dos personagens e a vulnerabilidade com que se apresentam, imersos nas redes sociais, que são protagonistas de várias cenas do longa.

"Acho que o filme reflete bem um setor da sociedade, não é uma visão demagógica ou superficial", sustentou García-Jonsson, que disse ter "muitos amigos assim, que não têm nada a fazer porque sabem que não vão encontrar trabalho ou que não continuam estudando".

A famosa geração "Nem-Nem" obrigada a sê-lo.

"Os personagens do filme são positivos em um ambiente hostil", disse a atriz, que confessou não haver visto o filme mais do que uma vez por causa das lembranças que traz.

E é que a atriz mentiu no casting para conseguir o papel e convencer que se parecia com a protagonista, um golpe que custou caro.

"Jaime, o diretor, me submeteu ao 'protocolo', ou seja, fui viver na casa de Natalia, em seu quarto, usava sua roupa, dormia de três em três horas, sem que ninguém pudesse falar comigo durante cinco semanas porque me distraía muito", relatou.

"Vivia sozinha, comia sozinha, não tinha internet, estava morta de irritação, só lia livros que Jaime me dava", acrescentou, agora rindo, a atriz, que reconheceu que o método foi necessário "para chegar ao nível de profundidade de Natalia".

"O filme me esvaziou interiormente, Natalia abriu partes de mim que eu não conhecia", e acrescentou o longa "desperta coisas em mim que não fazem eu me sentir bem e, como ainda não as identifiquei completamente, não as controlo".

"Formosa Juventude" é o primeiro grande papel de Ingrid, que até agora só tinha protagonizado filmes independentes e curtas-metragens.