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Aos 70 anos, Geraldine Chaplin diz que não há nenhuma beleza na velhice

A atriz Geraldine Chaplin, filha de Charlie Chaplin, durante o Festival Internacional de Cinema de Brasília, em agosto - Manuela Scarpa/Photo Rio News
A atriz Geraldine Chaplin, filha de Charlie Chaplin, durante o Festival Internacional de Cinema de Brasília, em agosto Imagem: Manuela Scarpa/Photo Rio News

Alba Gil

De São Paulo

29/10/2014 19h14

Aos 70 anos, a atriz Geraldine Chaplin resiste a envelhecer, e se justifica com uma honestidade desconcertante: "não há nada de belo na velhice, é uma desgraça, um massacre".

Filha de Charles Chaplin e neta do escritor Nobel de literatura Eugene O'Neill, a intérprete anglo-americana participa da 38ª Mostra de Cinema de São Paulo, com a exibição de seu mais recente filme, "Dólares de Areia".

Em uma entrevista à Agência Efe no último dia do festival, Geraldine Chaplin volta a falar de um de seus temas favoritos, a passagem do tempo e a batalha perdida que é tentar encontrar fontes de juventude.

E ela confessou que desde os 45 anos vê "a morte em cada esquina".

Talvez por isso já há algum tempo que a artista nega da velhice em todos os lugares que vai, já que este é "o prelúdio da morte, um país sem mapas onde só existe uma estrada que leva ao fim".

"Muitos velhos descobrem de repente uma ilha desconhecida dentro deles mesmos, o passado, e começam a viver nele. O problema é que eu não me lembro".

Apenas há um aspecto em que não consegue fugir dessa radiografia fulminante, confessou: "quando você fica mais velho pode ser um pouco mais observador, porque ninguém te vê".

Em seu último trabalho, que já passou por festivais na Itália, no Canadá e na Índia antes de aterrissar no Brasil, a atriz encarna uma idosa francesa que se apaixona perdidamente por uma prostituta dominicana, um filme que rompe com vários tabus do sexo na terceira idade.

"Quando você se apaixona, perde a dignidade, e ver uma pessoa velha perder a dignidade é algo obsceno", enfatiza Chaplin.

No entanto, a musa do cineasta espanhol Carlos Saura não acredita que o filme vá derrubar tabus.

"Antes achava que o cinema podia mudar o mundo, mas agora não tenho certeza, só acho que um filme pode mudar a forma de pensar de uma pessoa sobre o mundo".

E após meditar alguns instantes, respondeu: "o importante é que as pessoas gostem dos filmes, que tenham passado um momento agradável que os faça pensar ou rir".

Fazer rir foi precisamente a arte de seu pai, que o festival homenageou no ano do centenário do centenário do personagem Carlitos.

Uma maneira de fazer cinema que Geraldine Chaplin herdou, apesar de as produções da era do cinema mudo estarem tão distantes do cinema feito hoje em dia.

"Não sei se a indústria piorou, talvez tenha sido a qualidade das grandes produções", especulou a atriz.

Sem medo de ser polêmica, Geraldine Chaplin opinou: "Com certeza, o objetivo é nivelar por baixo e se subestima ao público, uma situação que acho insultante, mas esses filmes continuam tendo público, portanto suponho que o nível dos filmes continuará seguindo ladeira abaixo".

Com chamativos óculos de sol do videogame "Angry Birds" e tênis amarelo fluorescente, as palavras somem da boca da eloquente Geraldine Chaplin quando é perguntada sobre quem admira.

"Que difícil não dizer um clichê, mas que imperdoável seria dizer uma mentira. O terrível seria responder que não admiro ninguém", exclamou, abrindo os expressivos olhos antes de partir.