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Tom patriótico de "Sniper Americano" rende comparações ao nazismo

Bradley Cooper em cena de "Sniper Americano"  - Divulgação
Bradley Cooper em cena de "Sniper Americano" Imagem: Divulgação

Antonio Martín Guirado

Em Los Angeles

22/01/2015 13h23

"Sniper Americano", o filme de Clint Eastwood sobre o franco-atirador Chris Kyle, bateu recordes de bilheteria, mas acima de tudo semeou o debate e a polêmica pelo elevado tom patriótico que rendeu comparações até mesmo com a "propaganda nazista".

Protagonizado por Bradley Cooper, o filme arrasou na bilheteria americana durante o fim de semana estendido, devido ao feriado do Dia de Martin Luther King na segunda-feira, com US$ 107,3 milhões. Os números representam a melhor estreia da história para um filme não associado a uma franquia de Hollywood.

A melhor marca anterior correspondia aos US$ 83,8 milhões faturados por "A Paixão de Cristo", dirigida por Mel Gibson, em 2004.

Essa também é a melhor estreia na carreira de Eastwood, a melhor já registrada no mês de janeiro e a melhor da história para um drama.

"Trata-se de um fenômeno cultural. Se tivessem me falado que alcançaríamos esses números, teria respondido que estavam fumando algo. É o primeiro filme sobre um super-herói 'real'. Funcionou bem em cada mercado, desde a menor cidade até as maiores", disse o chefe de distribuição doméstica do estúdio Warner Bros., Dan Fellman.

O sucesso foi ajudado pela empresa de pesquisas de audiência CinemaScore, líder no setor, que atribuiu uma nota alta ao filme após coletar as opiniões dos espectadores. Além disso, a Academia de Hollywood indicou a produção à disputa em seis categorias do Oscar, incluindo melhor filme e melhor ator.

O filme pulverizou as estimativas que apontavam para uma arrecadação de US$ 45 milhões a US$ 50 milhões em sua chegada às salas de todo o país, após uma estreia limitada em Los Angeles, Nova York e Dallas.

"Sniper Americano" conta a vida de Chris Kyle, que entre 1999 e 2009 matou pelo menos 150 insurgentes no Iraque como integrante dos SEAL, unidade de elite da Marinha americana, mas sua missão mais complicada o afastou de vez da esposa Taya (Sienna Miller) e dos dois filhos pequenos, que ficaram em casa enquanto o atirador de elite foi absorvido pela guerra.

É a partir disso que começa a dúvida se esse filme conseguirá conquistar algum Oscar na premiação do dia 22 de fevereiro, já que o projeto não conquistou os corações de todos em Hollywood.

"'Sniper Americano' me lembra um pouco o filme que foi mostrado no terceiro ato de 'Bastardos Inglórios'", escreveu no Twitter o ator Seth Rogen.

O filme ao qual o humorista se referia é "Stolz der Nation", uma obra fictícia de propaganda nazista, onde um franco-atirador alemão assassinava soldados aliados de uma torre.

Mais tarde, Rogen recuou e disse que gostou de "Sniper Americano", ressaltando que apenas se "lembrava" da cena ao ver o filme, sem querer entrar em comparações.

Quem também se pronunciou foi o polêmico cineasta Michael Moore, conhecido pelos documentários "Tiros em Columbine" (2002) e "Fahrenheit 9/11" (2004).

"Meu tio foi assassinado por um franco-atirador na Segunda Guerra Mundial. Nos ensinaram que os franco-atiradores eram covardes, que vão te atirar pelas costas, não são heróis. E os invasores são piores", escreveu Moore no Twitter, causando grande polêmica.

Horas depois, Moore disse que não se referia à obra de Eastwood, e sim à comemoração do Dia de Martin Luther King (terceira segunda-feira de janeiro), que foi assassinado por um franco-atirador.

Em seu perfil de Facebook, o cineasta criticou que Eastwood confunda "o Vietnã com o Iraque ao contar a história" e que faça com que os personagens "chamem os iraquianos de selvagens ao longo do filme".

O debate se estendeu até as redes sociais, onde se põe em dúvida que Kyle, considerado um "assassino" por alguns, seja merecedor de tanta atenção.

Segundo o site especializado "TheWrap", nas últimas horas circulou entre os acadêmicos um artigo da revista "The New Republic" no qual o filme é criticado por ter transformado Kyle em um herói.

No texto há frases do atirador de elite procedentes do livro "Sniper Americano", como: "Os inimigos são selvagens e depreciavelmente maus", e "Meu único arrependimento é não ter matado mais".

A polêmica está servida, como mostra o grande cartaz do filme que amanheceu na terça-feira em Los Angeles acompanhado por uma pichação, com letras vermelhas, com a mensagem: "Assassinato!".