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Quênia quer voltar a ser queridinha das filmagens de Hollywood na África

Angelina Jolie em cena do filme "Lara Croft - Tomb Raider: A Origem da Vida" (2003), rodado no Quênia - Divulgação
Angelina Jolie em cena do filme "Lara Croft - Tomb Raider: A Origem da Vida" (2003), rodado no Quênia Imagem: Divulgação

Alicia Alamillos

Da EFE, em Nairóbi

18/06/2015 14h05

Robert Redford lavou os cabelos de Meryl Streep em "Entre Dois Amores" (1985) filmando na savana, e Angelina Jolie foi "Lara Croft - Tomb Raider: A Origem da Vida" (2003) com pano de fundo semelhante. Por décadas e décadas, o Quênia foi palco de filmagens de Hollywood, mas perdeu a majestade e agora quer retomar o reinado com medidas inovadoras como o Visto Cinematográfico.

A falta de segurança e os impostos cada vez mais altos afugentaram as grandes produções dos cenários naturais deste país, mas a Comissão de Cinema do Quênia, o KFC, se propôs a recuperá-las com um pioneiro pacote de medidas. Por exemplo: a partir deste mês, qualquer produtora que pretenda filmar nos parques naturais quenianos não terá mais que lidar com as inúmeras regras fixadas para as equipes entrarem nestes espaços.

Além disso, as taxas de filmagem no país baixaram em 35% e, o mais inovador, será criado um Visto Cinematográfico, que permitirá que profissionais do cinema entrem gratuitamente no país.

"A redução de taxas é necessária para atrair estas empresas, como já fizeram todos os países com uma grande indústria cinematográfica. Aqui é um destino único. É um dos poucos países que reúne todas as culturas africanas e todos os destinos topográficos: neve, florestas, savana, praias", defende o diretor da KFC, Chris Foot, que sonha em devolver ao seu país o grande mercado das locações.

De savanas repletas de animais selvagens a incríveis praias no litoral do Oceano Índico, passando por mananciais vulcânicos, o Quênia é um dos melhores destinos para a filmagem de superproduções. Seus maiores concorrentes no continente, no entanto, são o Marrocos e a África do Sul --que já conta com uma grande infraestrutura que possibilitou, por exemplo, a filmagem de algumas cenas de "Vingadores: Era de Ultron".

Mas não só os super-heróis preferiram Johanesburgo a Nairóbi. Angelina Jolie, imersa nas filmagens de "Africa", um filme sobre a luta do queniano Richard Leakey contra a caça ilegal, está estudando transferir as locações por "motivos de segurança". "Isso é só impressão, não é a realidade", opina Foot, que garante que Nairóbi é mais segura do que Johanesburgo. 

Para acabar com qualquer dúvida, o pacote de incentivos inclui a promessa de que o governo queniano garantirá a segurança durante a filmagem. Atualmente, o Quênia recebe um ou dois filmes de grandes produtoras por ano, um ritmo muito baixo se comparado a outras épocas, como os anos 50, quando foi o palco de grandes obras como "Uma Aventura na África" (1951) e "As Minas do Rei Salomão" (1985).

No entanto, a KFC não quer focar apenas em Hollywood: produtoras independentes, Bollywood ou a nova leva de diretores chineses também são alvos da Comissão, que destaca que é mais fácil, primeiro, atrair pequenas produtoras do que gigantes hollywoodianos. De acordo com Foot, o Quênia tem tudo a oferecer, mas também tem uma grande oportunidade para melhorar sua economia: se os incentivos funcionarem como se espera, o lucro do cinema poderia alcançar entre 2% e 3% do PIB do país, além de gerar "dezenas de milhares" de empregos diretos e indiretos.

Além disso, a rodagem de filmes é um grande trunfo para sua diplomacia pública e para reforçar a marca do país, além de atrair um novo tipo de turismo: o do amante de cinema. O turismo na Noruega cresceu 3% após a estreia de "Frozen: Uma Aventura Congelante", o da Escócia disparou após "Valente" e a Nova Zelândia se transformou em lugar de peregrinação para os fãs de "O Senhor dos Anéis". No Quênia, ainda são muitos os turistas que aterrissam em Nairóbi com "Entre Dois Amores" na mente, comenta Foot.

A renda do turismo no Quênia caiu 7,3% em 2014 devido, em grande parte, à sensação de insegurança gerada pelos atentados do grupo terrorista Al-Shabaab, mas "um filme pode mudar a percepção internacional de um país", conclui Foot.