"Não faço filmes para os EUA", afirma Tarantino em visita a São Paulo
O cineasta Quentin Tarantino, ganhador de dois prêmios Oscar, afirmou nesta segunda-feira (23) em São Paulo que seus filmes "não são para americanos" e que, para ele, "os Estados Unidos são simplesmente um mercado a mais".
"Eu posso ser um cineasta americano, mas não faço filmes para os Estados Unidos", declarou Tarantino, que apresentou na capital paulista, junto ao ator britânico Tim Roth, seu último filme, "Os 8 Odiados", que estreará no próximo mês de dezembro em Hollywood e em janeiro no Brasil.
"Meus filmes se saíram bastante bem nos Estados Unidos, mas um pouco melhor no exterior", disse o diretor, produtor e roteirista, que acrescentou: "Apesar de serem em inglês e lidarem com assuntos americanos, não são filmes americanos em si. São para todo o mundo".
O Brasil é o primeiro país no qual desembarca a turnê de apresentação do mais recente e oitavo trabalho de Tarantino, um "western" ambientado anos depois da Guerra de Secessão e rodado integralmente em 70mm.
Um projeto que Tarantino esteve a ponto de abandonar depois que seu roteiro vazou e que antecede a anunciada aposentadoria do cineasta, que confirmou que deixará de fazer filmes quando concluir seu décimo projeto.
"Sinto uma grande pressão para manter o nível de trabalho que me satisfaz, e me decepcionaria muito se as pessoas esperassem certa qualidade e não a tivessem", comentou Tarantino.
"Tenho sorte, não tenho mulher nem filhos e não há nada que se anteponha a meus filmes, são o mais importante, todo o demais é secundário."
Depois de "Django Livre", Tarantino voltou a mergulhar de cabeça em um gênero ao qual garante ter muito com o que contribuir.
"A maneira com que estou lidando com a raça nos Estados Unidos, especialmente a negra, que é basicamente ignorada nos 'westerns', ou inclusive com a escravidão, o depois da Guerra Civil. Sinto que tenho algo que dizer", afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de trabalhar junto ao cineasta Spike Lee, com quem teve vários atritos sobre o tom "racial" de seus filmes, Tarantino respondeu um categórico "jamais".
"Só me restam dois filmes, e não vou perdê-los trabalhando com o merda do Spike Lee. O dia que trabalhar com ele será o dia mais feliz da vida desse pequeno merda", disparou.
Tarantino também fez uma retrospectiva de sua carreira, que começou com "Cães de Aluguel" e que se consolidou com a violência como assinatura inapelável de seu universo.
"A cor vermelha está definitivamente em minha paleta, mas, assim como na vida, tem diferentes significados dependendo de como se usa. O mesmo ocorre com o sangue no cinema", explicou.
Segundo Tarantino, "o sangue na vida real não é tão bonito, dá medo e assusta, mas no cinema é sopa de framboesa e inclusive tem um gosto bom. Falamos de fantasia e diversão, e para mim é como se fosse pintura, que às vezes serve para embelezar, outras para assustar e outras para fazer uma piada".
O diretor também refletiu sobre suas mais de duas décadas de profissão e assinalou que "desde Kill Bill houve uma evolução para o teatral e o literário nos roteiros, sobretudo nos diálogos", os quais, reconheceu, "não são para todo o mundo".
"Tem que ter uma voz concreta e senso de humor", apontou Tarantino. Por isso, o cineasta tentou incorporar ao elenco atores com os quais já tinha trabalhado antes, um grupo de privilegiados que o próprio diretor denomina como "superestrelas de Tarantino".
Nesse sentindo, antes do final da entrevista, revelou que "se tivesse que escolher uma atriz com a qual nunca filme e com quem adoraria trabalhar, seria Kate Winslet".
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