Estrela de "O Ritual", Alice Braga diz que filme "joga com o ceticismo"
Colin O’Donaghue e Alice Braga são uma dupla inusitada. Em "O Ritual" eles vivem dois colegas de um curso muito especial, dado em pleno Vaticano, sobre o que seria um dos ritos mais antigos da tradição cristã: o exorcismo.
Donaghue é o seminarista Michael, em busca do reencontro com sua fé. Alice é Angeline, uma jornalista marcada por uma tragédia pessoal que a leva a investigar o inexplicável. Os dois acabam tendo experiências com forças malígnas.
Longe de clássicos do gênero, como "O Exorcista", o filme busca dar uma pincelada de realismo no trabalho de sacerdotes católicos, nos quatro cantos do planeta, dedicados ao que acreditam ser a expulsão de entidades demoníacas da alma dos fiéis.
Na conversa com o UOL Cinema, a dupla de atores falou sobre as experiências com o catolicismo em seus países de origem. Colin, que fez o Duque Felipe da Bavária na série televisiva "Os Tudor", é irlandês e, aos 30 anos, estreou em Hollywood com as bênçãos de sir Anthony Hopkins. Perto dele, Alice Braga, de 27 anos, é uma veterana em Hollywood, com papéis marcantes em filmes como "Eu Sou a Lenda" e "Predadores".
UOL Cinema: Vocês levaram a sério a questão do exorcismo?
Colin: Sim, não há outra maneira de se trabalhar, especialmente se você acaba se tornando um exorcista por algumas semanas. Você tem de respeitar o tema, não tem outro jeito.
Alice: Concordo com Colin. É um tema que não discutimos o tempo todo, mas quando surge, imediatamente joga com o ceticismo da gente. A primeira pergunta é sempre: você acredita? Você tem fé? Por isso este projeto me interessou. Ele não é apenas um filme de horror, há elementos de suspense também.
TRAILER DO FILME ''O RITUAL''
UOL Cinema: Então, vocês acreditam no demônio?
Colin: Depois de ir a exorcismos, de conversar com exorcistas, posso dizer que sou menos céptico hoje em relação à possessão demoníaca. Fé é algo tão pessoal, não? E acho saudável questionar a sua fé.
Alice: Não sei se acredito ou não. Mas a jornada que vivemos juntos, as conversas com os religiosos, o que vimos, nossas pesquisas, as respostas que tivemos, me mudaram.
UOL Cinema: Vocês dois são oriundos de países com grande população católica. Diriam que depois desta experiência mudaram a maneira como vêem a Igreja?
Alice: Não muito. No Brasil estas manifestações, como a presença do demônio, nós ligamos mais ao candomblé. Foi algo novo para mim em relação à Igreja.
Colin: Não mudou nem minha fé nem como vejo a Igreja. O fato de o exorcismo ter sido banido por anos imprime um certo estigma, mas é só isso.
UOL Cinema: O quão importante foi conversar com os religiosos que praticam o exorcismo?
Colin: Foi importante. Eles nunca tentaram nos convencer de que os exorcismos eram reais. Eles acreditam e pronto. Não estão ali querendo convencê-lo de nada, se você não crê tudo bem.
UOL Cinema: Como Anthony Hopkins é no set de filmagem?
Colin: Imagine, é meu primeiro filme e cá estou eu contracenando com sir Anthony Hopkins! Foi uma experiência sensacional estar na presença dele, sabe? Ele é extremamente gentil. Para mim é um dos homens que definiram a minha função, o ator moderno. Ele é um gênio.
Alice: Foi muito especial. Uma honra, uma grande oportunidade de aprender. Ele é muito generoso, ouve o que você tem a dizer, quer que você traga, como ele, algo para a cena. De um lado eu tinha Colin, que depois de 10 anos atuando, tinha um desejo enorme de fazer um filme. Do outro, sir Anthony Hopkins, que tem tanto a nos ensinar. Foi muito bom.
UOL Cinema: Vocês podem contar como foram suas experiências práticas com o exorcismo durante o processo de pesquisa?
Colin: Foi menos estranho do que eu imaginei. Você não sabe o que vai ver, você não sabe se é real, você chega com um pré-conceito oriundo de "O Exorcista", o filme. Você pensa: o que acontecerá quando me expor a demônios? No fim, é muito semelhante a um consultório médico. Você senta em uma sala de espera, entra, o padre coloca as mãos sobre o paciente, reza, e assim tudo começa. Muitas vezes o paciente boceja, o que seria um sinal de manifestação do demônio, e pronto.
UOL Cinema: Mas houve alguma experiência mais extraordinária?
Colin: Sim. Uma mulher não parou de me encarar durante toda uma sessão. Não piscou uma única vez. Ela virava a cabeça para me encarar o tempo todo. Foi a única situação mais difícil para mim. Fiquei tenso um pouco.
Alice: Para mim o processo foi completamente diferente, mais racional, já que faço a jornalista. A experiência que tenho é através do candomblé, uma religião afro-brasileira que acho belíssima, mas não é o mesmo.
UOL Cinema: Vocês conversavam sobre religião durante as filmagens?
Colin: Conversávamos mais sobre o que acreditávamos. De um modo genérico. E eu e Alice somos como irmãos, acabávamos brincando para aliviar a seriedade do roteiro.
Alice: Exatamente.
UOL Cinema: Alice, depois de "Predadores" e "O Ritual" você agora vai se classificando como uma atriz de um certo gênero?
Alice: (rindo muito). Pois é, né? Mas é só uma coincidência. Eu adoro fazer filmes, não me prendo muito a gêneros. E, honestamente, eu sempre fui medrosa, nunca fui uma fã de carteirinha de "O Exorcista" ou de "Predadores", o que acaba sendo mais interessante para mim, é um outro universo. Acho divertidíssimo carregar uma arma para cima e para baixo ou ficar com medo em cena. Mas minha família já anda perguntando: "E aí, quando é que a senhora vai fazer uma comedia romântica?"
UOL Cinema: Você está filmando o novo filme de Walter Salles, "Na Estrada"...
Alice: Sim, eu faço a Terry, uma menina mexicana que trabalha nos campos de algodão da Califórnia e se envolve com Jack Kerouac. Olha, está ficando lindo.
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