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"Queria um ator pouco explorado no cinema", diz diretor de "No Olho da Rua" sobre Murilo Rosa

THAÍS FONSECA

Da Redação

16/03/2011 12h00

Ao criar um protagonista metalúrgico para "No Olho da Rua", o diretor Rogério Corrêa garante ter passado longe da popular figura do ex-presidente Lula. Também se manteve distante do recente "Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto, cinebiografia que aborda a infância e o início da trajetória sindical do político. "Não vi [o filme] por que achei que era chapa branca. Admiro o Lula, mas não queria estragar a imagem que tinha dele", disse Corrêa em entrevista por telefone ao UOL Cinema. Como referências, cita obras brasileiras mais antigas, entre elas "Eles Não Usam Black-Tie" (1981), de Leon Hirszman, e italianas como "A Classe Operária Vai ao Paraíso" (1971), de Elio Petri, e "Ladrões de Bicicletas" (1948), de Vittorio De Sica. Usou, ainda, a experiência do documentário de 30 minutos de sua própria autoria chamado "Os Queixadas", de 1978, reconstituição das greves de operários de uma fábrica de cimento em Perus, em São Paulo, nas décadas de 1950 e 60.

TRAILER DO FILME "NO OLHO DA RUA"

À cultura cinematográfica juntou-se a observação de notícias sobre o desemprego no final dos anos 1990. Até o ponto de Corrêa decidir apostar, para seu primeiro longa-metragem, na história dramática de um metalúrgico do ABC demitido de uma fábrica após vinte anos de trabalho. O nome do personagem principal é Oton, interpretado por Murilo Rosa, rosto conhecido das novelas de TV. "Eu queria um ator de grande penetração, mas pouco explorado no cinema", disse.  "Acho que acertei. Ele foi além", elogiou. Na trama, Rosa contracena com Gabriela Flores, que vive sua mulher, e com Leandro Firmino, o Zé Pequeno de "Cidade de Deus", agora num papel mais "bonzinho". "Ele dá vida a um rapaz que mora numa comunidade e que faz documentários numa TV pirata", contou o diretor. O personagem, chamado Algodão, passa a se relacionar com Oton quando o chama para ser o personagem de um filme sobre desemprego.

Desde a pesquisa inicial em 1999 - que incluiu entrevistas com desempregados e especialistas no assunto, na época - o cineasta levou mais de 10 anos envolvido no projeto. Em certa altura, somou o roterista Di Moretti (de "Cabra-Cega") na equipe e, em 2009, começou as filmagens. Tempo depois, está prevista uma estreia discreta, para 13 de maio, apenas no Rio e em São Paulo. "O longa só saiu agora por que não consegui dinheiro [para investir] antes", contou, relembrando sua carreira formada principalmente por curtas e médias-metragens. "É um projeto pequeno, mas espero gerar repercussão". Como próximo passo, planeja um filme sem ligação com o universo operário e sindical. O foco será um casal de classe média, com formação universitária, em um drama romântico.