Fotos de Ozualdo Candeias, precursor do Cinema Marginal, são destaque do MIS
O cotidiano de um polo cinematográfico inovador e criativo é revelado pelas lentes de um de seus maiores nomes na exposição “Ozualdo Candeias - Rua do Triumpho”, em cartaz desde o dia 4 de maio do Museu da Imagem e do Som. A mostra traz fotografias desse cineasta que retratam o dia a dia da Boca do Lixo, no bairro da Luz, centro conversor de técnicos, diretores, produtores e intelectuais ligados ao cinema a partir do final da década de 1960.
Caminhoneiro e militar antes de se aventurar pelo cinema, Ozualdo foi um dos precursores do Cinema Marginal, vertente dos anos 1960 caracterizada pela irreverência e pela insubordinação ao modo tradicional de se fazer cinema. Foi após seu primeiro filme, “A margem”, de 1967, que ele passou a frequentar a Boca do Lixo e, mais especificamente, a Rua do Triumpho - que naquela época ainda se escrevia com “ph”.
A região ganhou o apelido pejorativo por ser reduto de prostitutas, traficantes e ladrões, mas reunia também a indústria cinematográfica em torno das facilidades de distribuição e produção, que ocorriam devido à proximidade com a Estação da Luz. Foi essa a realidade que Candeias captou: a de artistas e de excluídos da sociedade, que se juntavam pela marginalidade: uns à margem da sociedade, outros, da grande indústria do cinema. Candeias morreu em 2007, aos 88 anos, deixando uma produção cinematográfica de 35 filmes e doze telefilmes.
“Ele conseguia fazer um cinema muito visceral, intenso, e que dialogava com as nossas questões sociais diretamente”, conta Eugenio Puppo, curador e diretor da mostra. “Ele mostrava o submundo e fez uma pequena revolução da linguagem do filme de maneira muito particular.” Para ele, Candeias foi um dos grandes expoentes do cinema autoral brasileiro e um dos poucos indivíduos que registrou o dia a dia da região. “É ele quem inaugura a Boca do Lixo”, conta. “Quando ele lança ‘A Margem’, que dá sentido ao movimento marginal, ele não tem onde lançar e vai para a Boca.”
Puppo calcula que 40% da produção nacional cinematográfica tenha se concentrado na região em 1968, um ano após a “inauguração” feita pela vinda de Candeias. “Eram quase 100 filmes por ano [nos anos seguintes]. Era uma produção independente e pobre, mas que conquistava público.” Puppo, que já tem um documentário sobre o cineasta em fase de finalização, conta que a Boca era um ambiente “onde tudo se resolvia na rua”. “O mais interessante da Boca era esse contato das pessoas. Um ajudava o outro. O Candeias dizia que havia uma relação forte de um cuidar do outro. Eles se emprestavam os equipamentos, pontas de negativos que sobraram...”
“Ozualdo Candeias - Rua do Triumpho” é composta de cinco retroprojeções de mais de 500 fotografias - algumas inéditas - e três curtas feitos por Candeias sobre a Boca do Lixo, com som e áudios da época, inclusive com a voz do próprio cineasta. Cadeiras dos anos 1940 do cinema Marabá, onde “A Margem” estreou, estão disponíveis ao público durante as exibições. Há também uma mesa interativa com o livro “Uma Rua Chamada Triumpho”, o único de imagens do próprio Candeias, e ampliações de colagens que o cineasta fez de fotos de diretores da Boca.
A exposição faz parte do projeto Maio Fotografia no MIS, que ocupa todas as áreas expositivas do museu com trabalhos de artistas que ajudaram a propagar a fotografia pelo mundo, e fica em cartaz até 24 de junho.
Ozualdo Candeias - Rua do Triumpho
Exposição parte da mostra Maio Fotográfico no MIS
Quando: de 04/05 a 24/06
Terças a sextas, das 12h às 22h | Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Onde: Museu da Imagem e do Som - MIS (Espaço Expositivo do Segundo Andar)
Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo
Espaço Nicho, Espaço Redondo, Espaço Expositivo Térreo, Espaço Expositivo 2º andar, Auditório
Quanto: R$ 4,00 (inteira), R$ 2,00 (meia)
Pontos de venda: Recepção do MIS ou pelo site www.ingressorapido.com.br
Informações: (11) 2117 4777 | www.mis-sp.org.br
Estrutura: Estacionamento conveniado. Acesso e elevador para cadeirantes. Ar condicionado.
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