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Morre, aos 75 anos, o ator e diretor Zózimo Bulbul

O ator e cineasta Zózimo Bulbul - Divulgação
O ator e cineasta Zózimo Bulbul Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

24/01/2013 13h56Atualizada em 24/01/2013 22h16

Morreu na manhã desta quinta (24), no Rio de Janeiro, o diretor e ator Zózimo Bulbul, primeiro ator negro a ter um papel de destaque em uma novela brasileira, "Vidas em Conflito", que foi ao ar em 1969, na TV Excelsior. Bulbul, que sofria de câncer no intestino, morreu após sofrer uma parada cardíaca em sua casa, no Botafogo, na companhia de sua mulher, a figurinista Biza Vianna. A notícia da morte foi confirmada em um comunicado do Ministério da Cultura. 

Bulbul tinha recebido a notícia de que o câncer havia se espalhado para o cérebro e para a garganta na quarta. Ele foi orientado pelos médicos a ser internado imediatamente, mas preferiu voltar para casa. O corpo de Bulbul será velado na Câmara dos Vereadores do Rio das 15h até as 20h. Na sexta, o local reabre às 8h. O velório é aberto ao público.

"Ele passou por uma cirurgia em junho, o câncer foi removido e ele estava em tratamento", explicou Monalysa Alves, produtora dos Encontros de Cinema Negro junto com Zózimo. A Biza está sendo muito guerreira, como sempre foi ao lado dele. Eles estão juntos há 30 anos". Segundo a amiga do casal, eles não tiveram filhos. 

"O Zózimo além de ter uma importância como ator, diretor e pessoa, ele tinha uma força muito grande e a palavra dele sempre foi resistência, e resistiu o que pode. Ele reuniu mais de 80 cineastas gringos, teve projetos para as novas gerações. Ele está deixando um legado, é uma pena que ele não tenha conseguido fazer tudo, ele tinha muitos planos pra esse ano, queria fazer muito mais", disse Monalysa.

"Muito triste a perda do Zózimo. Grande ator, cineasta e amigo", disse Lázaro Ramos. "Foi contando a história dele que comecei a dirigir. Descobri que ele foi o primeiro negro protagonista masculino de uma telenovela no Brasil. Saber que ele foi ator do único filme dirigido por Antunes e tantas outras coisas me revelou um novo mundo. Ao fim da entrevista ele me disse de uma forma intensa e emocionada: 'Isto aqui (apontando para a câmera) é uma arma. Use-a'". 

Em anúncio oficial, a Ministra da Cultura Marta Suplicy lamentou sua morte. "Zózimo Bulbul teve uma trajetória fantástica, reconhecida. Mais que um ícone do seu tempo, é alguém que rompe paradigmas, faz o novo e por isso se torna conhecido no Brasil e no exterior. Ele nos deixa o exemplo de quem sempre quis fazer mais e melhor. E fez." 

Cineasta foi entrevistado por Spike Lee

Em sua passagem pelo Brasil em 2012, o cineasta Spike Lee entrevistou Bulbul para o documentário "Go Brazil, Go". Na época, o ativista negro também entrevistou personalidades como Chico Buarque, Criolo, Pelé e Neymar.

  • Reprodução/Facebook

    Zózimo Bulbul foi entrevistado pelo cineasta Spike Lee durante sua visita ao Brasil

Último trabalho na TV foi na minissérie "5 X Favela"

Um dos últimos trabalhos do cineasta para a TV foi a participação na minissérie da Globo "5 Vezes Favela", adaptação do filme de 1962 que o levou a estreia no Cinema Novo.  Na TV, ele também participou de "Xica da Silva" e "Memorial de Maria Moura". 

Seu trabalho engajado com os diretos e a identidade negra lhe rendeu a participação em 30 filmes. Entre eles estão o documentário "Abolição", sua estreia na direção no final da década de 80, e que marcou o centenário da Abolição da Escravatura no Brasil. Seu último documentário foi "Zona Carioca do Porto", de 2006. 

Em sua filmografia estão longas como "Terra em Transe", de Glauber Rocha e "Ganza Zumba", de Cacá Diegues. Em 2007, Zózimo criou o Centro Afro Carioca de Cinema, no bairro da Lapa, onde realiza festivais sobre cinema negro anualmente dentro do Brasil e fora do país.  Durante a carreira recebeu prêmios relacionados ao cinema latino-americano e participou de festivais de cinema em cidades como Paris, Buenos Aires e Cabo Verde. Os encontros continuarão a ser realizados no espaço como uma homenagem ao artista.