Premiados da última década dão pistas sobre possível vencedor do Oscar 2013
O modesto “Guerra ao Terror” derrotou o multimilionário “Avatar” na disputa pelo Oscar de melhor filme em 2010. Será que o sucesso nas bilheterias não conta tanto na corrida pela estatueta da Academia? Produção francesa rodada nos Estados Unidos, “O Artista” levou o prêmio no ano passado em detrimento de “A Invenção de Hugo Cabret”, filme americano cuja história se passa na França. Estaria o Oscar mais aberto aos estrangeiros? Em 2011, “O Discurso do Rei”, melodrama sobre a família real britânica, tirou o prêmio de “A Rede Social”, filme mais celebrado do ano. Será que os prêmios dos críticos não influenciam mais tanto assim?
Os elementos que determinam que filme vai ser eleito pela Academia são vários e têm pesos diferentes a cada ano. Com uma corrida ainda incerta, sem um grande favorito, com a deste ano, será que a última década de premiações do Oscar pode ajudar a descobrir quem vai ser o grande vencedor da noite de 24 de fevereiro?
FAVORITO
"Lincoln", de Spielberg, é o candidato mais forte ao Oscar de melhor filme este ano
O último musical que ganhou o Oscar de melhor filme foi “Chicago”, de Rob Marshall, há exatos dez anos. Seria esse o hiato ideal para voltar a premiar um gênero tipicamente americano? O contexto parece bem diferente. “Chicago” tinha uma ampla aprovação dos críticos e foi visto com um retorno à época áurea de Hollywood. Era favorito, mesmo disputando contra um filme de Martin Scorsese, que à época ainda não tinha sido premiado pela Academia.
Neste ano, “Os Miseráveis” -- embora conte com o marketing dos irmãos Weisntein, responsáveis pelo Oscar de “Shakespeare Apaixonado” -- não foi unânime entre os críticos e perdeu dois importantes precursores: não teve nem o diretor nem o montador indicados em suas categorias. Apenas três filmes ganharam o Oscar principal sem que seu diretor não tivesse sido finalista. O último, em 1990. Nos últimos 10 anos, todos os vencedores de melhor filme concorreram no quesito de montagem. Seis deles ganharam.
“Argo” e “A Hora Mais Escura” foram os primeiros filmes apontados como favoritos ao prêmio principal neste ano. Mas, assim como o musical dos Weinstein, ambos levaram um baque com a não indicação de seus diretores. No entanto, os dois disputam o prêmio de montagem, o que na teoria os deixaria mais fortes do que “Os Miseráveis”. Para se ter uma ideia da força da vitória nesta categoria, foi aqui que a premiação de “Crash” como melhor filme começou a se desenhar em 2006. “O Segredo de Brokeback Mountain” era tido como favorito naquele ano, mas não foi finalista em montagem. “Chicago” derrotou “Gangues de Nova York” aqui também antes de ser eleito melhor filme em 2003.
“A Hora Mais Escura” enfrenta outras duas questões. A cineasta Kathryn Bigelow ganhou os Oscars de filme e direção há três anos, derrotando o ex-marido James Cameron, que comandou a maior bilheteria de todos os tempos, “Avatar”. Um feito e tanto, considerando ainda que Bigelow foi a primeira mulher a vencer o prêmio de direção na história do Oscar. A proximidade entre a vitória e a nova indicação pode virar um obstáculo. Mais grave ainda é que o filme se envolveu numa polêmica, sendo alvo de investigação e recebendo acusações de que apoiaria a tortura. A má fama, ainda que pareça injusta, somada ao histórico, dificilmente permitirá uma vitória.
“Lincoln”, o terceiro filme a surgir nas listas de apostas, cresceu na disputa, contando com o pedigree de Steven Spielberg, uma bilheteria impressionante para um filme de época e aprovação dos críticos. Mas a Academia sempre teve uma birra com o diretor. Existe na internet um vídeo, por exemplo, que mostra a revolta do cineasta por sua não indicação por “Tubarão”, em 1976. “A Cor Púrpura”, em 1986, foi indicado a 11 Oscars, mas Spielberg não apareceu entre o melhores diretores. E em 1999, “O Resgate do Soldado Ryan” levou o Oscar de direção, mas caiu frente a “Shakespeare Apaixonado”.
Como “Os Miseráveis”, “Argo”, “A Hora Mais Escura” e “Lincoln” são, teoricamente, os filme que teriam mais chances de ganhar, o que o retrospecto do Oscar nos diz? É bom lembrar que a Academia tem por hábito o acerto de contas. Quem está na disputa há anos e ainda não levou pode se beneficiar, caso de Martin Scorsese com “Os Infiltrados” e de “O Retorno do Rei”, na terceira indicação consecutiva de um filme da série “O Senhor dos Anéis”. Tom Hooper, Kathryn Bigelow e Steven Spielberg já tiveram filmes premiados. Ben Affleck ainda não. Ponto para ele mesmo sem estar indicado como melhor diretor?
AZARÃO
Correndo por fora, "O Lado Bom da Vida" é o candidato mais "indie" ao Oscar de melhor filme, mas tem boas chances por ter sido indicado nas categorias mais importantes
Se o assunto for gênero, entre os últimos dez vencedores do Oscar, quatro eram dramas (e outros dois também poderiam ser considerados assim). Desses quatro “favoritos”, qual se encaixaria mais nessa definição? Temos um musical, um filme de guerra e dois dramas políticos. Ponto para “Argo” e “Lincoln”?
O Oscar tem lampejos de modernidade, como a vitória de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, mas quase sempre que o homem dourado é colocado em cheque, dá um jeito de se refugiar na aposta mais tradicional. “Brokeback Mountain” perdeu para “Crash”, “A Rede Social” para “O Discurso do Rei” e “O Curioso Caso de Benjamin Button” ficou sem o Oscar que “Quem Quer Ser um Milionário?” Ganhou. Neste ano, as opções menos ousadas seriam “Os Miseráveis” ou “Lincoln”. Pontos para eles?
O filme de Spielberg, um pequeno épico nacionalista, superproduzido, cheio de estrelas, sucesso de bilheteria e de crítica, seria então o favorito. Isso sem contar que ele ainda poderia se beneficiar do clima patriótico instaurado pela reeleição de Barack Obama, mas seria interessante considerar os outros finalistas.
“Django Livre” não empolgou o quanto deveria para ser considerado como azarão. “Amor” é falado em francês e favorito como filme estrangeiro. “Indomável Sonhadora” pode ser visto como independente “demais” e “As Aventuras de Pi” tem 11 indicações, mas sem vitórias em outras premiações, parece coadjuvante de luxo. Resta um filme que, se a Academia abraçar, pode surpreender.
“O Lado Bom da Vida” é uma comédia e comédias não são as preferidas do Oscar. Mas o filme de David O. Russell tem alguns diferenciais: primeiro, é um longa sério sobre pessoas desajustadas; segundo, foi aprovado pela crítica e agora que teve lançamento nacional nos EUA começa a crescer na bilheteria; terceiro, conseguiu o feito de concorrer em oito categorias, com candidatos nos quatro quesitos de elenco, além de ter diretor e montador indicados. Para terminar, é distribuído pelos irmãos Weinstein e tem dois astros em ascensão. Ponto para ele?
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