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Filho bipolar incentivou diretor a fazer filme sobre casal de "O Lado Bom da Vida"

Jennifer Lawrence e Bradley Cooper em cena de "O Lado Bom da Vida" - Divulgação
Jennifer Lawrence e Bradley Cooper em cena de "O Lado Bom da Vida" Imagem: Divulgação

Ana Maria Bahiana

Do UOL, em Los Angeles (EUA)

31/01/2013 05h00

Cinco anos atrás, Sydney Pollack e Anthony Minghella -- dois diretores e produtores  já falecidos, parceiros em projetos como "Cold Mountain", "Conduta de Risco" e "O Leitor" – deram a David O. Russell o livro "O Lado Bom da Vida", de Matthew Quick, com a recomendação de que ele lesse e pensasse se ali estava uma obra que gostaria de adaptar para o cinema. 

Russell, que começara no cinema independente, estava passando por uma entressafra, depois do fracasso de "Huckabees - A Vida é Uma Comédia", e  teve uma primeira reação negativa: “Eu não tinha adaptado nenhum livro até então e sinceramente preferia escrever meus próprios roteiros originais”, Russell diz. “Mas rapidamente mudei de ideia. A voz do livro era muito próxima da minha própria voz como autor, muito passional, muito emotiva, muito perturbadora mas também romântica e calorosa.”

Um elemento, contudo, acabou cimentando sua participação no projeto: o fato de seus dois protagonistas, Pat e Tiffany, sofrerem de problemas mentais e emocionais, e iniciarem uma complicada mas, finalmente, bem sucedida relação apesar de todas as dificuldades. “Tenho um filho, agora com 18 anos, que é bipolar e também tem problemas obsessivo compulsivos", diz Russell. "Aos poucos, comecei a pensar que um filme assim poderia ajuda-lo a se sentir mais integrado ao mundo, menos como alguém à margem… Que através desses personagens eu poderia dizer a ele: Veja, há pessoas como você no mundo, está tudo bem."

Russell passou cinco anos escrevendo e re-escrevendo "O Lado Bom da Vida" e pensando em diferentes atores para os papéis de Pat e Tiffany – Vince Vaughn e Zoey Deschanel foram suas primeiras escolhas. No meio do processo o projeto de "O Vencedor" apareceu em seu caminho e, através  dele, Russell aprendeu algumas lições valiosas: “Não ter pressa de realizar 'O Lado Bom da Vida' me fez repensar melhor os personagens e a trama”, ele diz. “Quando reescrevi o roteiro depois de 'O Vencedor', eu finalmente fiquei satisfeito.”

Assista ao trailer legendado de "O Lado Bom da Vida"

O  fato curioso de Christian Bale e Mark Wahlberg terem trocado de papéis às vésperas do início das filmagens com resultados maravilhosos também deu a Russell “uma grande calma". "Aprendi que, às vezes, o ator certo acaba aparecendo para o papel certo, se a gente souber esperar.”

Os atores certos, no caso de "O Lado Bom da Vida", acabaram sendo dois nomes que,cinco anos atrás, não fariam o menor sentido : Bradley Cooper e Jennifer Lawrence.

Até o sucesso de "Se Beber Não Case", em 2009, Cooper era um ator de TV com papéis em séries como "Alias" e "Nip/Tuck". Mesmo depois de "Se Beber", Cooper parecia confinado majoritariamente a papéis cômico e românticos. O Pat de "O Lado Bom da Vida", oscilando entre a mania e a depressão, a euforia e a mais profunda tristeza, não tinha nada em comum com o que ele havia feito antes nas telas.

“Confesso que tive medo”, ele admite. “Foi preciso ter muita fé em mim mesmo, e para isso eu me apoiei na fé que David tinha em mim. Foi um salto no escuro, mas acho que na vida de todo ator, se ele tiver sorte, aparece um momento desses. David me deu volumes de pesquisa, me fez ver vários documentarios, mas no fim das contas você tem que achar o personagem dentro de você mesmo. E foi, surpreendemente, muito mais fáil do que eu tinha imaginado.”

Confesso que tive medo. Foi preciso ter muita fé em mim mesmo, e para isso eu me apoiei na fé que David tinha em mim

Bradley Cooper, ator

Além da fé do diretor, Cooper credita também Jennifer Lawrence pela segurança com que atacou o papel. “Jennifer é uma atriz tremenda, com uma maturidade muito além de sua idade”. (Bradley e Jennifer repetiram a parceria logo a seguir de "O Lado Bom da Vida", vivendo um casal em crise durante a época da Lei Seca em Serena, dirigido por Susanne Bier (Um Mundo Melhor).

Vitoriosa nos Globos de Ouro e nos prêmios da Screen Actors Guild deste ano, vinda de dois sucessos de bilheteria – "X Men: Primeira Classe" e "Jogos Vorazes" -  Jennifer Lawrence, aos 22 anos, tornou-se a estrela do momento em grande parte por conta de sua feroz Tiffany, uma mistura explosiva e delicada de paixão, determinação e vulnerabilidade. 

“Eu não acredito muito em preparação”, diz Lawrence. “Eu sei que posso parecer arrogante mas minha abordagem é ler o roteiro e, através dele, procurar entender quem é a personagem, como ela se sente, como ela pensa. Eu sempre procuro achar um pouco de mim que eu possa usar para ancorar a personagem, e no caso de Tiffany foi aquela determinação de não se permitir que o mundo a atropele, fazer sua voz ser ouvida, lutar contra o vazio da alma.Uma vez que eu compreendi isso, foi um papel incrivelmente fácil e prazeroso.”