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Filme "Dezesseis Luas" mira no alvo dos órfãos de "A Saga Crepúsculo"

Cena de "Dezesseis Luas", filme de Richard LaGravenese aspirante a novo "Crepúsculo" - Divulgação / Paris Filmes
Cena de "Dezesseis Luas", filme de Richard LaGravenese aspirante a novo "Crepúsculo" Imagem: Divulgação / Paris Filmes

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

28/02/2013 05h00

A história é mais velha que o tempo: em time que está ganhando não se mexe. "Dezesseis Luas", fábula romântica com pitadas sobrenaturais, chega aos cinemas na tentativa de preencher o vácuo deixado pelo fim de "A Saga Crepúsculo" -- e de faturar como os filmes baseados nos livros de Stephenie Meyer.

O estúdio por trás do novo filme, que tem direção de Richard LaGravenese ("P.S. Eu Te Amo"), é o mesmo que bancou os suspiros de Edward e Bella. O casal central, Alden Ehrenreich e Alice Englert, atua até melhor que os agora miliardários Robert Pattinson e Kristen Stewart. "Dezesseis Luas" tem coadjuvantes de luxo (Jeremy Irons, Emma Thompson, Viola Davis) e efeitos especiais decentes.

Ainda assim, patinou nas bilheterias norte-americanas, com uma estréia anêmica de US$ 7,5 milhões. Para comparar, o primeiro "Crepúsculo" abriu com US$ 70 milhões em novembro de 2008. O futuro da nova saga no cinema não parece muito promissor.

Adaptar material literário de sucesso para o cinema é história velha. Mas o fenômeno da literatura para "jovens adultos" (adolescente não gosta mais de ser chamado de adolescente) é mais recente -- e chegou na esteira do novo cinema de fantasia.

"Harry Potter e a Pedra Filosofal" deu o pontapé nessa porteira e se tornou um fenômeno em todas as mídias. Como os cifrões falam alto, todo estúdio foi atrás de replicar o sucesso do bruxinho de Hogwarts em meia dúzia de variações, nem todas bem sucedidas.

"Eragon", de 2006, não passou do primeiro filme, embora a saga seja composta de quatro livros. "Percy Jackson e o Ladrão de Raios", comandado pelo mesmo diretor dos dois primeiros "Harry Potter", Chris Columbus, bateu na trave e ganha uma sequência (com menos pedigree) ainda este ano.

"Crepúsculo" pode ter mirado na seara de "Harry Potter", mas acertou mesmo o coração de mocinhas apaixonadas, que viram no amor quase impossível do vampiro Edward com a humana Bella um espelho de seus próprios desejos – não atrapalhou o fato de as mães das tais mocinhas apaixonadas compartilharem os mesmos suspiros.

Da noite para o dia, "Crepúsculo" virou fenômeno. Os livros, que já vendiam horrores, ganharam uma platéia mundial com os filmes; seus protagonistas passaram a ser perseguidos dentro e fora do set – o fato de Pattinson e Kristen formarem um casal do lado de cá da tela só aumentou o interesse; o fato de eles terem protagonizado uma lavagem pública de roupa suja com a traição da moça e o perdão do moço, idem.

ATORES DE "DEZESSEIS LUAS" COMENTAM SOBRE O FILME

Com cinco filmes e inacreditáveis US$ 3,5 bilhões em caixa, de nada adiantou o chororô da crítica especializada (que viu "Crepúsculo" como os filmes medíocres que eles são): é um case de sucesso que, claro, implora para ser copiado.

"Dezesseis Luas" é quase um carbono da premissa de "Crepúsculo": dois jovens "estranhos" unidos em um amor que parece impossível. A diferença é que, desta vez, o humano da relação é ele. Ethan Wate (Ehrenreich) vive numa cidadezinha nos cafundós dos Estados Unidos e tem sonhos recorrentes com uma bela jovem -- que calha de ser a imagem da aluna novata Lena Duchannes (Englert).

"Estranhos" para se encaixar entre os alunos, eles desenvolvem um laço que pode ser quebrado pelo segredo de Lena: ela é uma feiticeira, e em seu aniversário de 16 anos seus poderes serão clamados ou pela Luz ou pela Escuridão. Emissários dos dois lados a querem para si, já que a moça pode ser a feiticeira mais poderosa de todos os tempos. Drama! Sacrifícios! E um "oowwww" coletivo seguem.

O problema é que fenômenos são mais complicados na prática, porque para eles não há teoria. Os autores de "Dezesseis Luas", Kami Garcia e Margaret Stohl, não trazem o peso pop das polêmicas envolvendo Stephenie Meyer e os subtextos religiosos de "Crepúsculo" (Meyer é mórmon e também é acusada por feministas de criar personagens mulheres fracas e submissas).

VEJA TRAILER LEGENDADO DE "DEZESSEIS LUAS"

O casal Ehrenreich e Englert, para o bem ou para o mal, não tem o carisma e a habilidade em atrais os holofotes de Pattinson e Kristen. E o filme foi jogado nos cinemas numa temporada morna, ainda dominada pelos “filmes de Oscar” do ano passado.

Melhor sorte, por sinal, teve "Meu Namorado É Um Zumbi", também baseado num livro para jovens adultos ("Sangue Quente", de Isaac Marion) que apostou num romance humano/zumbi e mergulhou no humor e no absurdo da premissa -- traduzidos em decentes US$ 80 milhões nas bilheterias mundiais.

Para os fãs de romances impossíveis ambientados em situações fantasiosas, a melhor opção ainda é a saga "Jogos Vorazes". Os três livros de Suzanne Collins, que se tornarão quatro filmes, começaram sua carreira com tudo no lugar: um filme de qualidade (dirigido por Gary Ross), uma protagonista que de fato sabe atuar e transborda carisma (Jennifer Lawrence que, para as lágrimas de Kristen Stewart, acabou de levar para casa o Oscar de melhor atriz por "O Lado Bom da Vida") e uma bilheteria fenomenal, encostando nos US$ 700 milhões em todo o mundo.

A continuação, "Jogos Vorazes: Em Chamas", chega aos cinemas em novembro e traz no comando Francis Lawrence, que entende de cinema fantástico ("Constantine"), de grandes produções ("Eu Sou a Lenda") e de romance ("Água Para Elefantes"). Sem dinheiro ou prestígio, "Dezesseis Luas", como vários livros que terminam no saldão, caminha para o esquecimento cinematográfico.