Topo

"O perigo era criar uma personagem melada", diz Michelle Williams sobre bruxa boa de "Oz"

Michelle Williams e James Franco em cena de "Oz: Mágico e Poderoso", de Sam Raimi - Divulgação
Michelle Williams e James Franco em cena de "Oz: Mágico e Poderoso", de Sam Raimi Imagem: Divulgação

Ian Spelling

Do Hollywood Watch

08/03/2013 05h00

De 2004 a 2011, Michelle Williams fez, em média, dois filmes por ano. Em 2012, porém, apareceu apenas em "Entre o Amor e a Paixão" e em 2013 será vista apenas em "Oz, Mágico e Poderoso", que estreia no Brasil nesta sexta (8).

"Faz um tempão que eu quero fazer só um filme por ano", ela admite, "mas teve uma época que acabei fazendo dois ou mais, talvez porque eles fossem pequenos. 'O Atalho' (2011), por exemplo, filmei em um mês e meio; 'Sete Dias com Marilyn' (2011) foram três meses. 'Oz, Mágico e Poderoso' levou sete, e isso foi há mais de um ano. Desde então, não fiz mais nada, o que me deixa perto do meu objetivo de fazer um trabalho só a cada doze meses".

Planos futuros

  • Divulgação

    Com "Oz, Mágico e Poderoso", Michelle encerra então a cota de filmes do ano. Ela está mais ou menos comprometida com algo intitulado "Suite Française", que ainda está longe de se tornarrealidade. Assim, pelo menos por enquanto, Michelle se diz mais que satisfeita em assumir apenas o papel de mãe de Matilda na casa onde moram, no Brooklyn.
    "Não tenho nada certo para contar", ela diz. "'Suite Française' seria o próximo passo natural, mas não tem nada definido ‒ e eu aprendi que, até você estar dentro do estúdio, filmando, não tem nada decidido. Do jeito que a coisa está agora, já faz mais de um ano que estou parada."
    "Não gosto de me matar de trabalhar", confessa a atriz. "Não gosto de ficar muito tempo afastada da minha família. Então, faz meses que não faço nada, mas não me sinto inquieta. Naquela época fiz tantos filmes por causa do material que tinha nas mãos."
    "Faço filmes por uma única razão: falta de opção; quando não posso recusar, quando sinto que é absolutamente essencial", ela conclui. "Do contrário, prefiro levar a criançada de um lado para o outro e fazer biscoitos em casa."

Via de regra, a atriz sempre prefere os longas menores, independentes. "Ilha do Medo" (2010), entretanto, foi uma exceção, assim como "Oz, Mágico e Poderoso", um espetáculo exuberante da Disney criado pelo diretor Sam Raimi. O filme é um tipo de prólogo de "O Mágico de Oz" (1939) e mostra Oscar (James Franco), um mágico de circo meio trambiqueiro que acaba indo para Oz, cujos habitantes o encaram como o salvador profetizado. Michelle faz dois papéis: o de Annie, a namorada de Oscar na realidade, e o de Glenda a Bondosa em Oz.

Bruxa poderosa, Glenda duvida que Oscar seja realmente o mágico das profecias, mas, apesar disso, escolhe acreditar nele ‒ e sua fé é posta à prova quando as irmãs más Evanora (Rachel Weisz) e Theodora (Mila Kunis) (a segunda depois se transforma na Bruxa Malvada do Oeste) se dispõem a destruir Oz e Glenda.

"Gostei da forma como David Lindsay-Abaire encarou e compôs a Glenda", diz Michelle, por telefone, de um hotel em Los Angeles. "Para mim, o roteiro tem um elemento daquele humor maluco dos anos 1930. Não sei até que ponto ele passou para o filme, mas, sem dúvida, foi uma das coisas que me atraíram."

"Também tem o fato de que eu meio que conhecia o Sam Raimi", ela acrescenta. "Já tínhamos sido apresentados. Ele é o típico homem de família e é esse sentimento que cria em relação às pessoas ao seu redor. Você se sente segura. O set dele sempre dá a impressão de ser uma casa, por maior que o trabalho seja, o que é legal porque já tinha trabalhado assim antes."

"Sabia que ele não seria um tirano nem um maluco gritando ou um megalomaníaco", prossegue. "Na minha cabeça, só um cara assim que poderia dirigir esse tipo de filme. Errei feio porque não rolou nada disso com o Sam."

Interpretar Glenda foi um desafio diferente para Michelle, que adorava o clássico de 1939, mas não conhecia os livros de L. Frank Baum até pouco antes de começar o trabalho: a atriz, três vezes indicada ao Oscar, teve que encontrar o equilíbrio entre exibir bondade e pureza, mas sem exagerar na doçura a ponto de torná-la caricata.

"Era exatamente isso que eu NÃO queria", enfatiza. "O perigo é criar uma personagem tão melada que, no fim, fica até enjoada e ninguém quer ver. Era a última coisa que eu queria."

"Pensei um tempão sobre como dar dimensão a uma pessoa que não tem um lado sombrio", explica, "e acabei chegando à conclusão de que, se não podia mostrar defeitos, tinha que acrescentar outro tipo de característica numa criatura tão bondosa. Pensei em fazê-lo através do humor ‒ mas que tipo de humor tem uma bruxa?"

"Além do mais, eu podia ter medos", prossegue. "Ela podia duvidar de si mesma. E assim foi, tentei acrescentar esses detalhes para que ela não fosse uma personagem unidimensional."

Michelle contracenou a maior parte do tempo com James Franco, embora tenha feito algumas cenas inesquecíveis com Mila e Rachel.

"Pena que trabalhei pouco com as meninas", lamenta ela. "A gente praticamente só se reúne na cena final, ou seja, acabou se divertindo mais fora da tela do que nela."

"Adorei trabalhar com o James", ela continua. "Nós dois curtimos poesia e eu achei o máximo trocar ideia com ele sobre isso, fazer um monte de perguntas e receber um monte de conselhos de profissional."

O resultado é um filme interessante e mágico, embora um tantinho assustador. Quando pergunto se ela vai deixar Matilda, a filha de sete anos que teve com Heath Ledger, ver o filme, ela faz uma pausa.

"A minha filha vai ter uma experiência diferente da de outras crianças de sua idade", responde por fim. "Ela estava no set praticamente todo dia. Sabe o que acontece, então não acho que o filme lhe cause o mesmo efeito."

(Ian Spelling é jornalista freelancer em Nova York.)