Topo

Danny Boyle diz que quis desafiar público a seguir trama de "Em Transe"

Ian Spelling

Do Hollywood Watch

03/05/2013 05h00

Danny Boyle merece medalha de ouro por sua resistência, imprevisibilidade e capacidade de conciliação. Nos últimos dois anos, o cineasta orquestrou a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, dirigiu a elogiada produção de "Frankenstein" (2012) no Teatro Nacional e dirigiu o longa "Em Transe", que estreia nesta sexta (3).

"A Olimpíada foi um trabalho de dois anos, mas eu já sabia que seria assim; se fosse só isso, acho que ficaria maluco com a burocracia", diz Boyle. "Então, resolvi me ocupar de outros dois projetos durante esse período. Fiz 'Frankenstein' e rodei 'Em Transe', mas não editei. Consegui permissão do estúdio, o Fox Searchlight, para filmar e deixar engavetado. Aí, depois que as Olimpíadas acabaram, comecei a mexer."

"Não é coincidência fazer dois trabalhos como esses; é o que acontece quando se trabalha numa cerimônia de abertura", brinca ele. "O lado mais sombrio do seu cérebro fica totalmente ativo e aí você acaba se engajando em temas como esses ao mesmo tempo em que cria um espetáculo de brilho e luzes para a família, o país e o mundo."

"Em Transe" é um suspense estrelado por James McAvoy na pele de Simon, um leiloeiro britânico que, afundado em dívidas de jogo, se une a Franck (Vincent Cassel) e seu bando para roubar um quadro milionário de Goya da casa de leilões onde trabalha. Acontece que ele irrita Franck a tal ponto que o criminoso, furioso, o ataca com a coronha de seu rifle, mandando o rapaz para o hospital com ferimentos graves e perda de memória.

Franck acaba convencendo Simon a ver Elizabeth (Rosario Dawson), uma hipnoterapeuta, na esperança de que ela consiga vasculhar a memória de Simon para saber o que ele fez com a pintura. Claro que nada sai como planejado, o que dá margem a Boyle para usar a abusar de reviravoltas mirabolantes pinceladas com muita violência, edição rápida, tomadas elegantes e momentos inesperados de humor negro e sensualidade – incluindo nu frontal – e um elenco de primeira.

Boyle reconhece que "Em Transe" é "diabolicamente complicado", mas nunca teve a intenção de simplificar o enredo, preferindo apostar na disposição do público de se divertir com duas horas de uma história inteligente e apimentada.

TRAILER LEGENDADO DO FILME "EM TRANSE"

"O filme, principalmente no meio, é bem instigante", explica o cineasta, "e eu queria que fosse assim. Já tinha preparado o formato básico: abertura cinematográfica, com o roubo, os MacGuffins, o lance da amnésia… parece que o filme é só isso aí. O desfecho também é bem movimentado, mas o meio é que pega, é ali que eu quis mostrar até que ponto a verdade pode ser manipulada".

"Quis ver até que ponto eu poderia me antecipar ao público", confessa. "Foi muito bom fazer as exibições prévias para testar a reação das pessoas, ver até onde elas acompanhariam a história... na verdade, esse era o meu objetivo: manter o pessoal ligado até começar a revelar a verdade."

"Aí, quem gostar de verdade vai voltar e assistir a segunda vez", prossegue ele, "e sacar as coisas que não viu da primeira ‒ reparar que há muitas pistas, detalhes que só se nota ao rever o filme".

Elenco
O elenco de Boyle está sensacional, tanto individualmente como em grupo. O francês Cassel é mestre em interpretar tipos enigmáticos, mas o desempenho poderoso de McAvoy e especialmente Dawson pode pegar muita gente de surpresa ‒ não por falta de capacidade, mas talvez por falta de oportunidade de se soltar como em "Em Transe".

"Era um sonho meu ter Vincent nesse filme", revela. "Acho que ele é um dos maiores atores da atualidade. A princípio ele atua como esperado, mas vai suavizando com o desenrolar da história e é incrível o que faz na tela. A Rosario é uma das atrizes menos reconhecidas de seu país. Ela é fantástica e seu trabalho ficou simplesmente incrível. Foi muito bom ter uma voz que não fosse europeia ‒ e ficou perfeito porque eu também queria que Elizabeth se sentisse uma estranha em Londres. Ela foi simplesmente perfeita."

"Mas o McAvoy... que pesadelo para um ator tentar rastrear o próprio personagem", continua. "Se a plateia acha que o filme é complicado, imagine como foi para ele, tentando adivinhar o que sabia e o que não sabia. Foi brilhante."

"Os três são maravilhosos", conclui, "mas valeu também porque os personagens são muito bons. Tivemos muita sorte".

  • Divulgação

    Cena do filme "Trainspotting" (1996)

Sequência de "Trainspotting"
Danny não sabe bem o que fará a seguir, embora a sequência confirmada de "Trainspotting" (1996), filme que o revelou ao mundo, seja uma das opções. Se isso acontecer, voltará a trabalhar com o roteirista John Hodge, parceiro de longa data, e com os astros Robert Carlyle, Ewan McGregor e Jonny Lee Miller. O filme será baseado em "Porno" (2002), sequência do escritor Irvine Walsh para o romance de 1993 no qual o original foi baseado.

"Andamos pensando em alguns roteiros, mas estamos longe, muito longe de qualquer coisa concreta", explica. "Estou chegando ao fim de um ciclo de dois anos que começou com 'Frankenstein', teve os Jogos e terminou com 'Em Transe'. É como eu falei, duas obras sombrias e uma Olimpíada de quebra. Agora é hora de recomeçar."

"É ótimo poder fazer isso", conclui. "Nunca se deve esquecer de como é bom poder continuar trabalhando."

(Ian Spelling é jornalista freelancer em Nova York.)