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Por falta de verba, filme sobre Sebastião Salgado vai direto para DVD

Cena do documentário "Revelando Sebastião Salgado", dirigido por Betse de Paula - Reprodução/Site Aurora Cine
Cena do documentário "Revelando Sebastião Salgado", dirigido por Betse de Paula Imagem: Reprodução/Site Aurora Cine

Mariane Zendron

Do UOL, em Gramado (RS)

13/08/2013 19h25

O documentário "Revelando Sebastião Salgado" deverá ir das programações de festivais direto para a TV e para os DVDs. Segundo a diretora Betse de Paula, a estratégia tem único motivo: falta de verba. A produção concorre na categoria de longas nacionais do Festival de Gramado e foi exibido nesta segunda-feira (12) no evento.

"Quem faz cinema no Brasil é homem-bomba. É aquele que vai à linha de frente se explodir. É muito difícil lançar um filme aqui, não há espaço para isso. Acho que o filme vai ganhar visibilidade porque também vai para os festivais de Brasília e Havana (Cuba). Se houver dinheiro para isso, será bom", disse ela durante entrevista com jornalistas na cidade da serra gaúcha.

Betse, que não lançava um longa há oito anos, está com outro filme em cartaz: a comédia "Vendo ou Alugo", que levou 12 prêmio no festival Cine PE deste ano e que foi lançado com 150 cópias.

"Revelando Sebastião Salgado" destrincha pontos pouco conhecidos do fotógrafo brasileiro, que se mudou para Paris durante a ditadura militar. Um deles é o registro que fez ele do atentado contra o presidente norte-americano Ronald Reagan em frente ao Hotel Hilton, em Washington, em 1981.

No documentário, o fotógrafo conta que não gosta de falar sobre o assunto e que não queria ser conhecido como "o fotógrafo do atentado". Na entrevista, Betse disse que foi difícil fazer Salgado falar sobre isso. "Ele foi prensado, relutou, mas como ele é uma pessoa incrível, acabou falando um monte de coisa sobre isso e foi até difícil editar", contou ela.

Betse, cuja família é amiga de longa data de Salgado, fez com que o renomado fotógrafo abrisse as portas de seu apartamento-estúdio em Paris para contar sua trajetória. Além do atentado a Reagan, Salgado fala de suas técnicas e de seus trabalhos que lhe deram fama, como os dos trabalhadores em Serra Pelada e a miséria em países africanos.

Dificuldades
A diretora também falou sobre as dificuldades de produzir o documentário. Segundo ela, Salgado disponibilizou 1h durante três dias para ajudar no trabalho. O fotógrafo, que não costuma conceder muitas entrevistas, chegou a cancelar o primeiro encontro.

Reconhecido por trabalhar com fotos em preto e branco, Salgado também resistiu em mostrar suas fotos coloridas. "Para falar sobre o trabalho dele em Moscou, por exemplo, acabei colocando uma imagem colorida de outro fotógrafo. Quando ele viu aquilo, acabou mandando fotos dele", lembra a diretora.

Para fazer o documentário, Betse esbarrou no diretor alemão Wim Wenders, que a partir do livro "Gênesis", de Salgado, revela as mutações do fotógrafo e de seu trabalho ao longo de quatro décadas. "Vi imagens incríveis que quis muito usar, mas me falavam que eram do Wenders".