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Diretor que compete em Gramado cursou cinema para conquistar atriz

Dida Andrade, Andradina Azevedo e equipe do filme "A Bruta Flor do Querer" - Itamar Aguiar/PressPhoto
Dida Andrade, Andradina Azevedo e equipe do filme "A Bruta Flor do Querer" Imagem: Itamar Aguiar/PressPhoto

Mariane Zendron

do UOL, em Gramado (RS)

16/08/2013 12h00

 Aos 17 anos, Diego Andrade, o Dida, decidiu cursar a faculdade de cinema em São Paulo após se apaixonar pela colega de um curso de teatro. "Essa atriz, chamada Flávia, era muito mais velha, tinha uns 25 anos e namorava um diretor de teatro. Pensei: 'O que uma atriz quer? Uma atriz quer atuar no cinema. Então vou estudar cinema e fazer um filme com ela'". 

Dida foi aprovado no vestibular da FAAP e lá viu uma nova possibilidade de se aproximar de seu objeto de desejo. No curso, ele conheceu Andradina Azevedo, primo da atriz pela qual estava apaixonado. A tentativa de conquistar a atriz fracassou, mas dela surgiu uma amizade entre os dois estudantes. "Nunca tive nada com a Flávia, mas acabei ficando com o Andradina", brincou Dida.
 
Dessa aproximação, nasceu um casamento profissional. Os dois jovens, de 26 anos, apresentam o primeiro longa da carreira "A Bruta Flor do Querer", que compete no Festival de Gramado na categoria de longas nacionais e que foi exibido nesta terça (13) no evento. Juntos, eles já fizeram três curtas-metragens e colecionam mais de 20 prêmios. O último curta, "A Triste História de Kid Punhetinha", concorreu no Festival de Gramado de 2012. 
 
À reportagem, os dois contam que nunca foram os alunos mais admirados da faculdade. "Muitos achavam que não teríamos futuro porque não éramos aqueles cinéfilos que já tinham visto tudo do Godard", contou Dida. 
 
Quando se juntaram para fazer o primeiro curta-metragem, "Para Que Não Me Ames" (2008), levaram dez prêmios. Segundo ele, o reconhecimento veio depois de muita dedicação. "Quando decidimos fazer um curta, lemos todos os livros que pudemos. Não queríamos que as pessoas apontassem para a gente e dissessem que não sabíamos fazer cinema". 

Trecho do filme "A Bruta Flor do Querer"

 

"A Bruta Flor do Querer" 

Um ano depois da conclusão do curso, em 2010, a dupla decidiu se aventurar no primeiro longa. "A ideia original era fazer uma comédia romântica, mas logo percebemos como éramos ingênuos em relação ao nosso trabalho e em relação à vida", disse Dida. 
 
Segundo Andradina, a história original não correspondia à vontade que eles tinham de imprimir a própria voz no filme. O que eles queriam era fazer uma produção que tivesse mais verdade, que fosse visceral e que se aproximasse o máximo possível do público. 
 
Dessa vontade nasceu "A Bruta Flor do Querer", longa nos qual a dupla também atua. No filme, Dida atua com o próprio nome e mostra as dificuldade de se aproximar de uma mulher e as dificuldades de se fazer um filme.

Na trama, é difícil distinguir o que é do personagem e o que é do ator/diretor. Diego é um estudante de cinema que vira câmera-man de casamentos por causa das dificuldades de se viver da sétima arte no Brasil. Ao mesmo tempo, ele sofre ao se apaixonar por uma menina que trabalha em um sebo. Apesar de inúmeras referências pop, o filme expõe a dor do personagem e as angústia da geração dos 20 e poucos anos. "Queríamos algo visceral. A intenção era tirar o coração na frente do espectador e deixar ele lá, pulsando", diz Dida Andrade. 
 
O futuro dos cineastas
Os dois acreditam que é um reconhecimento o filme ter sido escolhido para o festival. "Nós já acreditávamos nele, mas tira um peso enorme das costas. A gente sabia que o filme tinha potencial, mas ao ser selecionado, as pessoas podem começar a enxergar que somos diretores de cinema", diz Andradina. 

A batalha, segundo eles, continua porque ser selecionado para o festival não significa que a vida deles está feita. "A gente ainda não sabe o que vai mudar depois do festival", diz Andradina. O próximo passo é fazer com que o público assista à produção. "A primeira batalha (concluir o longa) já foi vencida", disse Dida. A esperança é que a visibilidade dê a eles a chance de viabilizar os próximos projetos. "Continuaremos fazendo cinema porque não tem como fugir disso", conclui o cineasta.