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Costa-Gavras direciona câmeras contra especulação financeira em "O Capital"

Gabriel Mestieri

Do UOL, em São Paulo

03/10/2013 17h18

"Continuaremos roubando dos pobres para dar aos ricos" é a frase que estampa os cartazes de "O Capital", novo filme de Costa-Gavras, que estreia nesta sexta-feira (4) nos cinemas brasileiros.

E o que o diretor greco-francês faz é tentar demonstrar como isso ocorre com a história de Marc Tourneuil, um executivo interpretado por Gad Elmaleh que assume a presidência de um grande banco de investimentos da França, que tem o sugestivo nome de Phenix.

No novo cargo, o executivo logo descobre que não pode confiar em ninguém, nem mesmo (e principalmente) em seus assessores mais próximos. Todos querem o cargo de presidente, que é retratado com tanta pompa que se tem a impressão de que a presidência em questão é a da República.

Talvez justamente para insinuar que, no atual estado do capitalismo financeiro global, os presidentes das instituições bancárias têm mais poder que os chefes de governo, o diretor não economiza nas implicações que vêm com o cargo.

Na mais ilustrativa delas, Tourneuil exige que sua mulher use, a contragosto, um caríssimo vestido de grife para ir a uma festa. Afinal, ela é a mulher do presidente, e precisa se vestir como tal.

As coisas ficam ainda mais complicadas para o presidente quando o representante de um fundo de investimentos baseado em Miami (interpretado por Gabriel Byrne, conhecido por sua excelente atuação como o psiquiatra da série "Em Terapia") começa a pressioná-lo para que compre um banco japonês.

Além disso, Tourneil se envolve com a top model Nassim, interpretada por Liya Kebede (de "O Senhor das Armas"), mas não consegue saber se ela está realmente interessada nele ou se está sendo usada por algum de seus inimigos.

A atuação de Elmaleh (que viveu um detetive em "Meia-Noite em Paris", de Woody Allen) é um dos principais trunfos do longa. Como um personagem (Tourneuil) que assume outro personagem (o de presidente implacável), o ator faz uma boa mistura de aparente calma – na verdade um estado constante de raiva contida – com explosões de fúria (algumas delas apenas em sua imaginação).

Aos 80 anos, Gavras, que entre as décadas de 60 e 80 usou seus filmes para denunciar regimes ditatoriais, mostra que ainda não desistiu de criticar as injustiças com o cinema. "O Capital" não é seu melhor filme e não empolga como "O Corte" (2005), thriller que mostra um químico eliminando seus concorrentes para sobreviver no mercado de trabalho, mas consegue causar indignação.