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Norma Bengell "escravizou" e foi para a cama com Mick Jagger em filme

Do UOL, em São Paulo

09/10/2013 10h48

Entre os muitos personagens marcantes que a atriz Norma Bengell -- que morreu na madrugada desta quarta-feira (9), no Rio de Janeiro -- interpretou em sua longa e polêmica carreira, está uma fazendeira autoritária sem nome que escraviza Mick Jagger em uma plantação de bananas de dia e o sodomiza na cama a noite.

Em 1987, o vocalista do Rolling Stones desembarcou no Brasil com uma equipe completa para filmar "Running Out of Luck", um longa baseado nas canções de seu primeiro disco solo, "She's the Boss". O roteiro absurdo mostra Mick em viagem ao país justamente para filmar um vídeo, quando é sequestrado e vai parar em uma fazenda produtora de bananas. 

Norma mantém Mick na senzala, onde o artista contracena também com Tony Tornado, mas o chama toda a noite para sua cama ao som de "She's the Boss". "Cruzei as pernas sobre o dorso do Mick para roubar a cena e copulei feito uma louca, enquanto ele cantava. Cavalguei um garanhão, ele enlouqueceu. Claro, depois eu avisei: 'Olha, estou acostumada, só fiz isso na vida", disse a atriz à época.

  • Divulgação

    As atrizes Glória Pires e Tatiana Issa em cena do filme "O Guarani", de Norma Bengell

Implicâncias
Norma tambpem comprou uma polêmica com a atriz Glória Pires durante as filmagens de "O Guarani", adaptação do clássico de José de Alencar, lançada em 1997.

As atrizes se estranharam ainda na fase inicial do projeto. De acordo com a atriz de “Vale Tudo”, a veterana a convidou para o filme, mas logo em seguida desfez o convite alegando um mal entendido. Isso voltaria a acontecer por pelo menos três vezes, mas nada pior do que a própria filmagem, conta Glória em sua biografia “40 Anos de Glória”.

“Ela implicava comigo por coisas infundadas. Não entendi o porquê daquilo. Uma hora estava tudo bem, em outra, vinha a bad trip. Jamais tive o hábito de ser maltratada. Norma não é uma pessoa de convivência pacífica. Resolvi não me desgastar e trabalhamos juntas até o fim, ela como diretora, eu como atriz, numa relação estritamente profissional, sem empatias. Foi horrível", diz.

Irregularidades
“O Guarani”, segundo filme de Norma na direção, lhe rendeu uma grande dor de cabeça nos últimos quinze anos de vida. Ela chegou a ser acusada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de irregularidades na prestação de contas dos recursos captados via renúncia fiscal.

O Ministério da Cultura afirmava ter encontrado notas frias e acusou a retirada do pagamento ao produtor em valor superior ao permitido. No total, “O Guarani” levou R$ 2,99 milhões. A atriz chegou a ter os bens bloqueados e ser indiciada pela Polícia Federal, mas sempre se defendeu das acusações.

"Tenho a consciência limpa. Sei onde ponho meu nariz, de onde pego minhas coisas”, afirmou em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, em 2010. “O que eu roubei de 'O Guarani' deve estar na Suíça, né? Se amanhã eu ganhar um Oscar, alguém vai falar: "E "O Guarani'?" É a única mácula na minha carreira", desabafou.

Ditadura e aborto
Devido aos seus trabalhos no cinema e no teatro serem alvo dos censores, Norma sempre reclamou de perseguição durante a ditadura militar. A atriz comprou uma briga maior por interpretar no teatro, em 1968, uma mulher que se prostitui para bancar o marido. "Cordélia Brasil", peça escrita por Antônio Bivar, causou polêmica e repreensão por parte das autoridades. Em sua estreia no Rio, a polícia jogou uma bomba de gás lacrimogênio dentro do teatro enquanto Norma atuava. "Ela segurou a plateia até o final", relembra Bivar. A peça também fez com que Norma fosse levada por três homens ao 1º Batalhão Policial do Exército, onde foi interrogada por cinco horas sobre "a subversão na classe teatral". 

Norma já havia sido "banida" de Belo Horizonte em 1966, pela Associação de Donas-de-Casa de Minas Gerais, por conta do nu frontal de "Os Cafajestes" -- o primeiro do cinema nacional --, quando se exilou na França em 1971. Em 2010, Norma foi reconhecida como anistiada política e recebeu uma reparação econômica do governo no valor de R$ 100 mil. À "Folha", a atriz disse ter perdido as contas de quantas vezes foi detida pelo regime militar. 

Para o escândalo dos mais puritanos, Norma voltou a chocar em 1984 ao afirmar ter feito 16 abortos por ser "um saltimbanco por escolha". 

Branco no palco
Os problemas com “O Guarani” e a perda da amiga e sócia Sonia Nercessian colaboraram para Norma sofrer uma crise nervosa em cima do palco, durante a apresentação de "O Relato Íntimo de Madame Shakespeare". Em 2007, em sua grande volta ao teatro após 20 anos, ela não se lembrou de uma fala e ficou muda no palco. Afastou-se da peça logo no começo da temporada. 

“Tive um stress total devido a diversas coisas sérias que venho passando na vida. Por conselho do meu médico particular, decidi dar um tempo. Preciso descansar, mas não desapontei ninguém”, disse à revista "Isto É" na época.