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Com efeitos realistas, "Gravidade" em 3D deixa plateia à deriva no espaço

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

10/10/2013 17h59

Estrelado por Sandra Bullock e George Clooney, "Gravidade" chega aos cinemas brasileiros, nesta sexta-feira (11), sob grande expectativa. Foi considerado por James Cameron ("Avatar") o "melhor filme da história ambientado no espaço" e entrou para a lista de Quentin Tarantino dos dez melhores longas do ano. Também abriu o Festival de Veneza sob muitos aplausos e está cotado para concorrer ao Oscar de melhor filme, de melhor atriz e melhores efeitos especiais.

A pressão é forte e mesmo quem vai ao cinema com tudo isso em mente não se decepciona com o 13º filme do diretor mexicano Alfonso Cuarón (o mesmo de "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban"). O filme já provou do sucesso nos Estados Unidos, onde arrecadou US$ 55,6 milhões no primeiro final de semana, recorde para o mês de outubro.

A sinopse de "Gravidade" avisa que o filme é sobre dois astronautas: a novata Ryan Stone (Bullock) e o veterano Matt Kowalski (Clooney). Ambos serão os únicos sobreviventes de um terrível acidente e a saga mostra a luta deles pela vida. A verdade, no entanto, é que o filme é sobre uma mulher à deriva não só no espaço, mas também em sua vida pessoal.

Além de se ver sem comunicação com a Terra, com pouco oxigênio e com pouca experiência no espaço para sobreviver, a astronauta revela em poucos minutos de filme que perdeu sua filha de quatro anos e que não há quem a espere em terra firme. Então, por que lutar pela sobrevivência? O filme faz essa reflexão sobre o renascimento frente à adversidade e ainda traz uma bela cena de Sandra Bullock flutuando na nave em posição fetal.

Cuarón não quis que o espectador colocasse os óculos 3D apenas para assistir ao pânico de alguém à deriva, mas também para que vivesse tudo isso junto com a personagem (o filme sai também em versão 2D e Imax 3D). Os detalhes visuais e sonoros proporcionam uma experiência de reality show, com longas cenas sem cortes --recurso já feito com êxito por ele em "Filhos da Esperança" (2006), quando a personagem de Julianne Moore é baleada durante uma fuga.

Cuarón comenta cena do filme

Falta de ar
Nas primeiras cenas de "Gravidade", os astronautas aparecem tranquilos fazendo manutenções na estação espacial quando estilhaços de uma explosão começam a atingi-los. O desespero começa a tomar conta dos personagens. "Quis inserir o público aos poucos [nesta cena], primeiro no ambiente para depois fazer o mesmo na ação. O objetivo desse experimento foi fazer o público se sentir como um personagem flutuando no espaço", disse Cuarón ao "The New York Times".

O diretor ainda alterna planos de câmera o tempo todo para que o espectador ora observe tudo de perto, ora enxergue com os olhos de Sandra Bullock, o que aumenta a sensação ser um participante da experiência a 600 km da Terra. Há ainda efeitos visuais realistas nas cenas de explosão e belas imagens da Terra e seus fenômenos naturais.

A respiração da personagem é ouvida quase o tempo todo e varia de acordo com seu nível de estresse, fazendo faltar também o ar de quem está do lado de cá da tela. O espectador só respira quando Clooney entra em cena com a calma de seu personagem e piadas sobre bebidas e mulheres, mesmo quando a vida está por um fio.

Corrida ao Oscar
Para encarar a personagem, Bullock se preparou por seis meses e estava disposta a superar um de seus maiores medos: voar de avião, que surgiu após um evento traumático --em 2000, o avião em que ela estava patinou na pista do aeroporto Wyoming, nos Estados Unidos. O avião teve o bico destruído, mas a atriz saiu ilesa. 

Quando fez o convite para "Gravidade", Cuarón tinha em mente filmar em um jato que simulava falta de gravidade com queda livre. Bullock disse sim. Mais tarde, Cuarón desistiu da ideia maluca e trocou o avião por uma caixa de 3 por 4 metros, equipada com luzes especiais e colocada em um estúdio escuro. Bullock foi "amarrada" com um arreio "horrível", disse ele, e foi colocada lá dentro durante horas. Mesmo assim, a coragem da atriz foi reconhecida e o "The New York Times" disse que ela é uma das pessoas mais corajosas de Hollywood. 

A coragem pode render a Bullock o segundo Oscar de sua carreira (o primeiro foi por sua atuação em "Um Sonho Possível", de 2009). Se depender de empenho, o prêmio é dela e o espectador não acharia ruim se a atriz levasse a estatueta depois de se aliar a ela por 90 minutos nesse reality show espacial.